Arquidiocese de Braga -
5 dezembro 2024
Que passos de esperança?
Solenidade de S. Geraldo 2024
- 1. Peregrinação contínua no Ano litúrgico
Iniciamos, no passado domingo, um novo Ano litúrgico e pastoral, início também do Tempo do Advento. O Advento é um tempo de graça, de expetativa alegre da esperança. Tal como a mulher grávida espera ansiosa e alegremente pelo momento de dar à luz o seu filho, também nós ansiamos que o Senhor nasça nos nossos corações.
Temos de estar atentos e vigiar, para perceber os sinais que nos indicam que o Senhor vem ao nosso encontro. Porque, maravilhosamente, o Senhor não fica no céu, à espera, impávido e sereno. Não, Ele toma a iniciativa e vem ao nosso encontro nos caminhos da vida. Ele é um peregrino, sem lar, que quer fazer do nosso coração a casa onde habitar.
Deus não se merece, acolhe-se; Deus não é conquistado, é esperado. Por isso, estar atento e vigilante, é a atitude indispensável para que a nossa vida não seja uma vida superficial, pois «uma grama de prevenção vale um quilo de remédio» (Jonathan Haidt). É fundamental estarmos despertos diante da realidade, para que as coisas que acontecem à nossa volta não nos passem ao lado.
Precisamos de ser dinâmicos na vida da cidade e da arquidiocese: atentos à Palavra de Deus que sempre nos desinstala; necessitamos de estar atentos ao grito dos pobres e dos migrantes; estar atentos ao mundo, ao clamor do planeta e das suas criaturas, que tantas vezes ignoramos e não cuidamos, como nos mostram as diversas catástrofes naturais das últimas semanas. Porque só com esta atitude atenta e vigilante seremos capazes de perceber que tudo na nossa existência se mostra grávido de Deus, e que Ele vem para nos salvar e engrandecer; vem para nos libertar das teias do pecado em que tantas vezes nos enredamos.
- 2. Chama de uma nova esperança
Nesta solenidade de S. Geraldo, proclamamos a parábola do Servo Vigilante, deveras apropriada para este tempo de Advento e para a vida de S. Geraldo. Cristo diz que devemos ter os “rins cingidos e as lâmpadas acesas”.
No tempo de Jesus as pessoas vestiam longas túnicas o que dificultava os movimentos. Daí que era costume usar um cinto que mantinha as vestes acima dos joelhos, permitindo maior agilidade na execução dos trabalhos quotidianos. Portanto, ter os rins cingidos significa estar vestido de modo apropriado para poder atuar com prontidão.
Além disso, não havendo luz elétrica, a iluminação tinha de ser feita com candeias de azeite, sobretudo à noite. Se um servo não estivesse com sua túnica cingida e com a candeia acesa, jamais conseguiria abrir a porta ao seu senhor se este chegasse madrugada; o mais certo seria tropeçar no escuro.
Trazendo estes significados para os nossos dias e para as nossas vidas, a parábola indica a necessidade do compromisso sério de sermos servidores do Evangelho e para a necessidade contínua de nos prepararmos para receber o Senhor, estando vigilantes, em atitude de conversão contínua.
3. Milagres do quotidiano
S. Geraldo foi, no seu tempo, um administrador fiel e prudente que o Senhor estabeleceu à frente da sua casa, a casa da Arquidiocese de Braga.
Como na nossa época e como em todas as épocas da história, a ação apostólica de S. Geraldo decorreu num tempo muito desafiante. O seu episcopado em Braga foi intenso, fomentando um conjunto de reformas eclesiásticas, morais e administrativas, reestruturando a escola catedralícia e o Cabido, dando continuidade às obras que decorriam na Sé, e tendo uma ação determinante para reformar o culto e a liturgia, promovendo a introdução do Rito Romano, ultrapassando assim a resistência ao uso desse rito que se verificava na diocese. Da sua biografia, escrita pelo Bispo Bernardo, seu contemporâneo, percebemos que S. Geraldo viveu continuamente de rins cingidos e lâmpada acesa, e que mesmo quando a força física faltava, não se escusava de continuar a exercer prontamente o ministério que lhe tinha sido confiado.
Estando nós a viver uma mudança de época, como afirma o Papa Francisco, cabe-nos a tarefa de encontrar novos caminhos para anunciar o imutável Evangelho de Cristo. Com o nosso itinerário pastoral 2023-2033, e como afirmamos na Carta Pastoral “Juntos, peregrinos de esperança, no caminho de Páscoa. Levar Jesus a todos”, continuamos a sonhar uma Igreja diocesana sinodal, missionária e samaritana; uma comunidade de irmãos na fé que, inspirada pelo exemplo de S. Geraldo, quer passar de uma “Igreja de cristandade a uma Igreja em missão” e que quer ser “Uma Igreja em atitude de oração, formação, renovação e missão, cada vez mais atenta a todas as pessoas e aos sinais dos tempos. Uma Igreja que se faça companheira de viagem dos jovens, atenta aos seus sonhos, anseios e dificuldades, sabendo que os jovens procuram a Igreja, não para se divertirem, mas para se alimentarem interiormente. Uma Igreja que sinta, viva, partilhe e se empenhe a ajudar a resolver os inúmeros problemas que hoje atingem as famílias”.
Porque continua a haver tanta pobreza? Porque tantas famílias não têm dignidade de habitação? Porque tantas pessoas não tem trabalho? Porque há tanta precariedade do trabalho? Porque existem longos e desregulados horários de trabalho? Porque continuam os jovens a emigrar?
É tempo de ser esperança. No seu tempo, a fé de S. Geraldo proporcionou o milagre da fruta. A nós caberá, nos pequenos milagres do quotidiano, levar a que sobre todos seja derramado o “azeite da alegria” proclamando o “ano de graça do Senhor”.
+ José Manuel Cordeiro
Partilhar