Arquidiocese de Braga -

1 fevereiro 2004

DIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA

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+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

\nDIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA Stº Adrião – Igreja nova – BRAGA As Visitas Pastorais às nove paróquias da zona pastoral da cidade de Braga permitem-me deixar uma ideia em cada uma procurando sublinhar alguns dinamismos que considero fundamentais para a pastoral urbana. No final teremos um conjunto de ideias coordenadas que ajudará os agentes pastorais a discernir prioridades e a estipular, claramente, objectivos. As visitas, com mais ou menos iniciativas, concretizam-se num momento. Acontece que valem pelos dinamismos de renovação que imprimem. Atendendo a que hoje celebramos, em Portugal o Dia da Universidade Católica, quero sublinhar a importância que ela reveste no contexto da nossa Arquidiocese e cidade. Desde que aqui se instalou a Igreja e a sociedade enriqueceram-se. Hoje contamos com o seu trabalho e queremos que se imponha, sempre na fidelidade à sua missão, como algo de imprescindível. 1 – É com júbilo que saúdo a todos vós, comunidade cristã implantada em Stº Adrião, aqui num dos pólos de desenvolvimento da cidade de Braga, zona voltada ao futuro, e saúdo também os dirigentes, os professores, os alunos e funcionários da Universidade Católica Portuguesa que tornam real este projecto académico específico aqui em Braga, em dia comemorativo de 37 anos ao serviço do Evangelho no Ensino Superior Universitário. 2 - A liturgia de hoje A Palavra que nos é dirigida nesta celebração final de visita pastoral a esta comunidade, com a presença da Universidade Católica, envolve-nos em três orientações, que creio constituírem um apelo constante à renovação da nossa forma de edificar a Igreja. Todos estamos envolvidos, como comunidade. A Palavra é para nós um incentivo a uma presença construtiva constante, em renovação permanente e na atenção à nossa missão, missão que nos obriga à crítica positiva da nossa forma de estar. É a juventude do nosso ministério que está aqui em destaque, como em Jeremias, tomando consciência de que “a cidade fortificada”, que vamos construindo, não é feita por nós, mas passa por nós, consagrados por Deus desde a Criação e constituídos por Deus como profetas anunciadores da Sua Palavra. Não construímos algo do qual sejamos proprietários exclusivos, mas o que realizamos é sempre sob o olhar de Deus, que é o nosso baluarte desde o seio materno. Escolhe-nos, de forma continuada, e estabelece connosco um pacto de presença para que possamos ser profetas entre as nações. Isto não acontece apenas em alguns dias mais solenes. A escolha do Senhor permanece em nós todos os dias, Ele está connosco para nos salvar (cf. 1ª leitura). Ao reflectirmos sobre o texto de Paulo aos Coríntios, a consagração que Deus realiza em nós, fazendo de nós mensageiros da sua Boa Nova, aparece então traduzida na forma própria de Deus estar no mundo. É na caridade que se espelha, de forma concreta, a nossa relação de intimidade em Deus, tornando-nos seus mensageiros de forma real. Deus é Amor. Por isso, só na caridade concreta se manifesta de forma amadurecida a consagração que Deus faz em nós todos os dias. Os dons que a cada um pertencem em benefício de todos traduzem o Amor imenso de Deus pelo Seu Povo se exercidos na caridade para com todos. As capacidades pessoais terão de se exercer imbuídas do Amor evangélico. Este não se compagina nem com a vanglória pessoal, nem com a riqueza orgulhosa, nem com espectáculos para dar nas vistas, nem com a inveja, nem com a impaciência, nem com a injustiça. O Amor evangélico, no qual cada discípulo está consagrado, é paciência, é benignidade, é justiça, é proposta de verdade, é desculpa, é perdão, é esperança. É esta atitude, a da caridade, que brota da intimidade com Deus, que identifica uma comunidade cristã como tal e que a torna capaz de ser mensageira para o mundo da outra dimensão das coisas. Isto não acontecerá sem adversidades. O texto do Evangelho leva a meditar nesta orientação. É, por vezes, nos ambientes mais próximos, entre os seus e junto dos da sua terra, que o Evangelho do amor é mais difícil de anunciar. Quem ama realmente não espera o fruto imediato para si. Fá-lo sempre em benefício dos outros, “não procura o próprio interesse”. O seu anúncio, a sua acção, a sua obra, são para a Glória do Senhor, não esperando grandes recompensas terrenas, passageiras. É assim para quem se dedica ao Evangelho de todo o coração. Numa comunidade paroquial, é urgente esta comunhão de coração, na atenção à presença do Senhor em cada um, na prática do amor fraterno que nos deve caracterizar, ultrapassando rivalidades, pondo de parte impaciências e ciúmes, sem orgulho nem inveja e na serenidade própria de quem está convicto de que Deus o consagrou para esta missão simples. 3 - Universidade na e para a cidade A Igreja, que somos, estará na cidade que construímos assim identificada, se cada um souber não perder a sua origem, abrir-se continuamente ao amor de Deus e ser assim Seu mensageiro nas actividades concretas do seu dia. A Igreja, como comunidade de Amor à imagem da Trindade, está nesta cidade de Braga com este desígnio, não para se vangloriar, mas para construir a cidade de Deus na cidade dos homens. Não para se precipitar em realizações passageiras, mas para, pacientemente, anunciar o Evangelho, propondo-o como caminho de realização feliz para cada homem e cada mulher. A Igreja, aqui em Braga, só deve desdobrar-se em projectos novos se neles conseguir anunciar Deus aos homens do nosso tempo, de forma ponderada e profética. Isto diz respeito a todos os sectores da sua actividade. Aqui, importa referir-nos ao projecto que anima a Igreja portuguesa, projecto implantado em quatro regiões do país e que hoje comemora 37 anos de actividade. A UCP é a tradução, nos seus estatutos e nos seus variados programas, da presença da Igreja no âmbito da formação cultural superior universitária. Trata-se de um sector relevante na sociedade de hoje e que, por isso, pede uma atenção redobrada da parte de todos, quer os envolvidos na estrutura da Universidade, quer de todo o povo de Deus que deve acalentar os seus projectos. A UCP não é uma realidade sem a Igreja Portuguesa, mas no interior da Igreja Portuguesa, formando no presente os quadros da sociedade no futuro. Aqui em Braga, a UCP está na cidade e trabalha para esta cidade. Ali se concebem as linhas de força de uma arte de construir a comunidade humana, à luz do Evangelho, sob a marca do amor fraterno. Ali se procura construir plataformas de convergência na reflexão dos grandes problemas do nosso tempo, facilitando aos alunos critérios de discernimento que os acompanharão ao longo da vida na construção da sociedade humana mais justa, mais inclusiva, mais aberta aos mais fracos. Ali se constrói um pensamento e se partilha com os mais novos, para que de forma eficaz possam orientar a vida dos grupos e das comunidades numa raiz cristã duradoira. A cultura académica que a UCP desenvolve é um dos sinais de que a Igreja está em Braga na cidade e para a cidade. Para muitos a descristianização impôs-se na sociedade e na cultura Portuguesa e, naturalmente, em Braga. A UCP pretende formar cristamente os que virão a ser dirigentes que, posteriormente, ficarão numa posição privilegiada e determinante para a formação e transmissão de referências e comportsmentos. Muitos poderão influenciar positivamente a vida social económica e política. Como sociedade somos povo que se deixa moldar pelas orientações de elites e, quase sempre, as crises das sociedades edificam-se com as crises destas elites que fugiram ou desconsideraram os valores evangélicos. Na Universidade Católica ninguém é excluído. Quem nos dera que as instâncias de governo deste país soubessem abrir caminhos novos de forma a que as famílias pudessem escolher para os seus filhos o lugar de formação académica que mais convém à sua cultura cristã. Isto passa pela liberdade de acesso que, na actualidade, é travada pelo desnível económico, subsistindo um sistema de propina que revela uma desigualdade de base. Creio já ser tempo de afirmar uma cultura mais democrática neste sector, dando a mesma igualdade às universidades com a mesma qualidade, sejam públicas, privadas ou de direito concordatário. Estamos aqui em Braga, como Arquidiocese, a apostar numa presença permanente da Igreja nos campus universitários, quer da Universidade pública, quer da nossa Universidade. Gostaríamos de o fazer, cada vez mais, num espírito de serviço à causa cultural. O campo da cultura sempre foi não só estimado mas também desenvolvido pela Igreja. Importa, da nossa parte, ser capaz de acompanhar os novos sinais dos tempos, estando presente com a marca do Evangelho de Jesus. Faremos, como Igreja, o nosso esforço redobrado, pois passa por aqui a nossa missão na cidade e para a cidade. Quem dera que uma Pastoral Universitária fosse assumida por um número amplo de estudantes capazes de influenciar cristãmente todos os ambientes das diversas Academias. A UCP desenvolve diferentes programas de formação em todo o país, Lisboa, Porto, Beiras e Braga. Aqui, em Braga, gostaria de desafiar aqueles de quem dependem os programas novos de formação, agradecendo o trabalho que a Católica vem desenvolvendo entre nós, na Faculdade de Teologia, na Faculdade de Filosofia e na Faculdade de Ciências Sociais. Importa abrir novos horizontes. A cultura urbana e o estilo de vida urbano desafiam a Universidade. Desafiam-na os sectores da saúde, com todos os profissionais que os integram. Desafiam-na também os sectores do lazer, da empresa e da educação. Gostaria de ver nascer em Braga projectos novos nestes sectores, sem rivalidades, mas apenas no serviço que devemos prestar à comunidade humana. Não se trata de rivalizar, nem de entrar em campos alheios. Trata-se de responder às necessidades actuais com programas nos quais transpareça o Evangelho de Jesus, que estrutura a Igreja. O Evangelho tem a ver com a saúde, com o lazer, com a empresa e sua gestão, com a educação, com a cidade. 4 – Conclusão Desejo à nossa Universidade Católica, particularmente aqui em Braga, muita paciência e um espírito redobrado de fortaleza para prosseguir a sua missão. Confio no seu trabalho quotidiano e espero que o seu serviço à cultura e ao Evangelho resplandeça no panorama universitário. Os ventos parecem adversos. Na Universidade entre todos – Faculdades, corpo docente e discente, funcionários – daremos ao Centro Regional de Braga aquela expressão que Braga necessita e merece. Braga, 01.02.04 + Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz