Arquidiocese de Braga -
26 janeiro 2005
42º Dia Mundial de Oração pelas Vocações
João Paulo II
\n“Chamados a fazermo-nos ao largo”
Veneráveis Irmãos no Episcopado,
caríssimos Irmãos e Irmãs!
1. “Duc in altum”! No início da Carta apostólica Novo millennio ineunte referi-me às palavras com que Jesus exorta os primeiros discípulos a lançar as redes para uma pesca que se revelará milagrosa. Disse ele a Pedro: “Duc in altum - Faz-te ao largo” (Lc 5, 4); “Pedro e os primeiros companheiros confiaram na palavra de Cristo e lançaram as redes” (Novo millennio ineunte, 1).
É este episódio evangélico familiar que serve de cenário para o próximo Dia de Oração pelas Vocações, que tem como tema: “Chamados a fazermo-nos ao largo”. Trata-se de uma ocasião privilegiada para reflectir sobre o chamamento a seguir Jesus e, em particular, a segui-l’O no caminho do sacerdócio e da vida consagrada.
2. “Duc in altum!” A ordem de Cristo é particularmente actual para o nosso tempo, no qual se difunde uma certa mentalidade que favorece a falta de compromisso pessoal face às dificuldades. A primeira condição para “se fazer ao largo” é cultivar um profundo espírito de oração, alimentado pela escuta diária da Palavra de Deus. A autenticidade da vida cristã mede-se pela profundidade da oração, arte esta que se aprende humildemente “dos próprios lábios do Mestre divino, como que implorando, como os primeiros discípulos: ‘Senhor, ensina-nos a orar!’ (Lc 11, 1). Na oração, fomenta-se aquele diálogo com Cristo que faz de nós seus amigos íntimos: ‘Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós’ (Jo 15, 4)” (Novo millennio ineunte, 32).
A união com Cristo através da oração torna-nos capazes de nos apercebermos da sua presença, mesmo nos momentos de aparente fracasso, quando todos os esforços parecem inúteis, tal como aconteceu com os próprios Apóstolos, os quais, depois de se terem afadigado durante toda a noite, exclamaram: “Mestre, não pescámos nada” (Lc 5, 5). É precisamente em tais momentos que se deve abrir o coração às ondas da graça, permitindo que a palavra do Redentor possa agir em nós com todo o seu poder: “Duc in altum!” (cf. Novo millennio ineunte, 38).
3. Quem abre o seu coração a Cristo não só compreende o mistério da sua própria existência, mas também o da sua própria vocação e amadurece excelentes frutos de graça. Destes, o primeiro é crescimento na santidade através de um caminho espiritual que, iniciando-se com a graça do Baptismo, prossegue até chegar à sua plena consecução: a caridade perfeita (cf. ivi, 30). Vivendo o Evangelho "sem glosas", o cristão torna-se cada vez mais capaz de amar ao jeito de Cristo, acolhendo a sua exortação: "Sede perfeitos, como o vosso Pai do céu é perfeito" (Mt 5, 48). Empenha-se em perseverar na unidade com os irmãos dentro da comunhão eclesial e põe-se ao serviço da nova evangelização para proclamar e testemunhar a verdade maravilhosa do amor salvífico de Deus.
4. Queridos adolescentes e jovens, é a vós que, de modo particular, renovo o convite de Cristo a “fazer-se ao largo”. Vós encontrais-vos perante o imperativo de fazer opções decisivas em ordem ao vosso futuro. Conservo no coração a recordação das numerosas ocasiões em que em anos passados me encontrei com os jovens, entretanto já adultos e, até mesmo, pais de alguns de vós, ou sacerdotes ou religiosos e religiosas ou vossos educadores na fé. Vi-os alegres, como os jovens o devem ser, mas também pensativos, porque tomados pelo desejo de dar pleno “sentido” à sua existência. Compreendi cada vez melhor quão forte é no coração das novas gerações a atracção pelos valores do Espírito, como é sincero o seu desejo de santidade. Os jovens precisam de Cristo, mas sabem também que Cristo quis precisar deles.
Caríssimos jovens, amigos e amigas! Confiai-vos a Ele, escutai os seus ensinamentos, fixai o vosso olhar no seu rosto, perseverai na escuta da sua Palavra. Deixai que seja Ele a orientar cada uma das vossas buscas e das vossas aspirações, cada um dos vossos ideais e dos desejos do vosso coração.
5. Dirijo-me agora a vós, queridos pais e educadores cristãos, a vós, queridos sacerdotes, consagrados e catequistas. Deus confiou-vos a peculiar missão de conduzir a juventude no caminho da santidade. Sede para eles exemplo de uma generosa fidelidade a Cristo. Encorajai-os a não hesitar em "fazerem-se ao largo", respondendo sem delongas ao convite do Senhor. Ele chama, alguns à vida familiar, outros à vida consagrada ou ao ministério sacerdotal. Ajudai-os a saber discernir o seu caminho e a passarem a ser amigos verdadeiros de Cristo e seus autênticos discípulos. Quando os adultos, que têm fé, sabem, com as suas palavras e o seu exemplo, tornar visível o rosto de Cristo, os jovens prontificam-se mais facilmente a acolher a sua mensagem exigente, marcada pelo mistério da Cruz.
Mas depois não vos esqueçais que, também hoje, precisamos de sacerdotes santos, de almas totalmente consagradas ao serviço de Deus! Por isso, gostaria de vos repetir mais uma vez: “É urgente e necessário estruturar uma pastoral vocacional, ampla e detalhada, que envolva as paróquias, os centros de educação, as famílias, suscitando uma reflexão mais atenta aos valores essenciais da vida, cuja síntese decisiva reside na resposta que cada um é convidado a dar ao chamamento de Deus, especialmente quando este pede a total doação de si mesmo e das suas próprias forças à causa do Reino” (Novo millennio ineunte, 46).
A vós, jovens, repito a palavra de Jesus: “Duc in altum!”. Ao propor novamente este seu apelo, penso ao mesmo tempo nas palavras que Maria, sua Mãe, dirigiu aos empregados, em Caná da Galileia: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Queridos jovens, Cristo pede-vos a vós que aceiteis “fazer-vos ao largo” e a Virgem Maria anima-vos a não hesitardes em segui-l’O.
6. Suba de cada canto da terra ao Pai celeste, sustentada pela intercessão materna de Nossa Senhora, a ardente prece para obter “operários para a sua seara”(Mt 9, 38). Que Ele se digne conceder sacerdotes fervorosos e santos a cada porção do seu rebanho. Apoiando-nos em tal certeza, dirijamo-nos a Cristo, Sumo Sacerdote, dizendo-lhe com renovada confiança:
Jesus, Filho de Deus,
em quem habita toda a plenitude da divindade,
Vós chamais todos os baptizados a "fazerem-se ao largo",
percorrendo o caminho da santidade.
Despertai no coração dos jovens
o desejo de serem no mundo de hoje
testemunhas da força do Vosso amor.
Enchei-os do Vosso Espírito de fortaleza e de prudência
para que sejam capazes descobrir
a verdade plena sobre si
e sobre a sua própria vocação.
Ó nosso Salvador,
enviado pelo Pai
para nos revelar o seu amor misericordioso,
concedei à vossa Igreja
o dom de jovens prontos a fazerem-se ao largo
para serem entre os irmãos uma manifestação
da Vossa presença salvífica e renovadora.
Virgem Santa, Mãe do Redentor,
guia segura no caminho para Deus e para o próximo,
Vós que guardastes as suas palavras no íntimo do coração,
protegei com a Vossa intercessão materna
as famílias e as comunidades eclesiais,
para que estas saibam ajudar os adolescentes e os jovens
a responder com generosidade ao chamamento do Senhor.
Amen.
De Castelo Gandolfo, 11 Agosto 2004
IOANNES PAULUS II
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