Arquidiocese de Braga -
13 maio 2005
A perseguição dos crucifixos
Departamento Diocesano da Pastoral Familiar
\nAté há uns dias atrás, o século XXI das sociedades ocidentais ditas evoluídas podia ser descrito como um século onde não há lugar para perseguições. Ora este baluarte da sociedade plural cai completamente por terra se pensarmos que o Governo anda a investigar se há crucifixos nas escolas públicas. Tudo isto soa demasiado a uma caça às bruxas, neste caso aos crucifixos, fazendo jus ao humorístico lugar comum do século XVIII, segundo o qual “a história é uma velhota que se repete sem cessar”… Sim, porque, de repente, é totalmente inaceitável a presença de um objecto decorativo numa sala de aulas, que lá permanece por tradição, cultura popular, por ser parte integrante de um património que não se consegue elidir de um momento para o outro, embora haja claras pretensões a tal… Há, pois, que eliminá lo, no cumprimento escrupuloso da lei. Há que mobilizar recursos logísticos para esta demanda, porque um crucifixo é, no entender de uma determinada associação laica, uma verdadeira ameaça às verdadeiras incumbências da escola. Efectivamente, se pensarmos bem, um crucifixo, hoje em dia, numa sala de aulas, faz toda a diferença. Atrever me ia mesmo a dizer que faz toda a diferença. Talvez para quem vai pintar a sala… porque, os meninos, muito provavelmente, nem reparam que ele lá está. Ou, se reparam, não descortinam nele qualquer tipo de simbologia… Quem assim está obsessivamente preocupado não deve ter filhos. Caso contrário, saberia o que eles hoje pensam e o que eles não pensam, sobretudo que eles hoje não pensam, não questionam… E, por isso, é que os preocupados pais, cristãos ou não, andam hoje a viver momentos de grande inquietação por causa da educação e dos valores… E, facto curioso a destacar, é que talvez seja por isso que quando podem e porque querem proporcionar o melhor para os filhos, os põem a estudar em instituições privadas e, curiosamente (ou talvez não), estas estão, regra geral, relacionadas com a Igreja Católica. Isto compreende se já que os pais querem o melhor para os seus filhos e não é o crucifixo que faz a diferença da qualidade de ensino que deve efectivamente preocupar os nossos pais. Pois bem. Num país com índices de analfabetismo e ignorância absurdos e inadmissíveis, para os padrões europeus, talvez o melhor seja a senhora Ministra da Educação mandar investigar o que é que se passa, por exemplo, no que diz respeito ao ensino/aprendizagem da língua materna. Não será antes digno de preocupação para os pais que alunos cheguem a cursos universitários, por exemplo, conducentes ao ensino da língua portuguesa e escrevam, no cabeçalho dos exames, a palavra “insino”, por ignorância e não por distracção? E isto não é um exagero nem ficção. E nem vale a pena enumerar situações ainda mais graves em pessoas licenciadas a leccionarem aos nossos filhos… Talvez isto deva causar algum tipo de apreensão à Senhora Ministra e fazê la mover uma averiguação séria sobre a qualidade do ensino ministrado e as repercussões directas na sociedade civil de hoje e de amanhã. Quanto à alegada acusação de tentativa de alguns padres recrutarem jovens estudantes, para seguirem o caminho de Deus, apontada pela mesma associação pró laicidade, parece nos muito dificilmente conseguir provar qualquer tipo de relação de causalidade. Até porque as vocações são caminhos a longo prazo. Não se revolvem assim só por umas escassas palavras que apenas mostram a possibilidade de seguir um caminho, paralelo a tantos outros, cuja existência os jovens devem conhecer para lucidamente escolherem o seu futuro. Já eventualmente é de notar o que se passa com as campanhas de distribuição de preservativos que, muitas vezes, se confinam à mesma, sem ser acompanhada de qualquer tipo de educação sexual adequada, sem que se auscultarem os pais para ver se estes concordam ou não com o incitamento ao seu uso nos seus filhos, ainda crianças… Pois é. Se bem me lembro, os crucifixos, presos à parede e esquecidos na nostalgia dos tempos idos, símbolos da memória cultural e da tradição de um povo, incomodavam uns quantos indivíduos. Os preservativos, distribuídos a crianças, em jeito de instigação/promoção/publicidade da legitimidade do sexo em tenras idades, não incomodarão os pais desses mesmos meninos e meninas? Não será a distribuição dos ditos preservativos encaminhamento para uma convicção de que o sexo é um acto natural, inclusivamente na infância? Irónico século XXI e irónicas estas perseguições dispendiosas à procura de inocentes quando criminosos (da língua, da moral, …) continuam impunes… Quando acordarão os pais e o país para esta realidade? Helena Guimarães Departamento Arquidiocesano da Pastoral Familiar de Braga
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