Arquidiocese de Braga -

26 maio 2005

Eucaristia para a Vida

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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\n[Homilia do Corpo de Deus] Temos diante de nós a responsabilidade de fazer com que este Ano Eucarístico continue. Perante Deus que “inventou” a Eucaristia para permanecer sempre connosco, só nos resta experimentar a necessidade de lhe dizer obrigado do fundo do coração e, em Igreja Diocesana onde um número significativo de crentes frequentam a Eucaristia Dominical, assumir o particular e alegre encargo de a viver dominicalmente com grande fidelidade nas nossas comunidades. Para viver a Eucaristia quero deixar cinco itinerários. Com eles poderemos mostrar que valeu a pena este Ano Eucarístico. No final, apresento um “decálogo” de aspectos a ter em consideração. 1 – Importa descobrir o gosto de visitar Jesus por um tempo determinado de adoração, dizendo-lhe palavras de amor e ouvir o que Ele tem a dizer. “Ele perito dos nossos caminhos e conhecedor do nosso coração, não nos deixará prisioneiros das sombras da noite”. Apoiar-nos-á nos nossos cansaços e orientará os nossos passos nos caminhos do bem. 2 – A vivência da Eucaristia pode levar-nos a atitudes de particular empenho. 2.1 – O Acto Penitencial O ponto de partida está no reconhecimento da condição de pecado que poderemos superar com o auxílio de Deus e da Sua misericórdia. Na barafunda do nosso quotidiano necessitamos deste permanente contacto com a interioridade sem medo da denúncia dos erros e faltas. A ânsia de aperfeiçoar-se deve pertencer ao dinamismo da vida cristã. Instalamo-nos na mediocridade e não conseguimos delinear processos e projectos consistentes de perfeição. A rotina impede o reconhecimento das nossas limitações e não acolhemos o repto duma vida pautada pela coerência e autenticidade. Viver a Eucaristia não pode ser sinónimo dum preceito anódico. Há sempre um apelo e uma vontade de ver mais além. 2.2 – Liturgia da Palavra Não ouvimos um texto mais ou menos bem escrito. É Deus que se nos dá na Palavra e manifesta o Seu amor através da comunicação da Sua vida para que esta se identifique com a nossa. A Palavra de Deus é projecto renovador com uma carga de interpelações impressionante. Que cuidado lhe deveríamos prestar na sua proclamação e acolhimento! Como seria de desejar que a homilia conduzisse a este Encontro de alegria com Deus que se dá a conhecer! Não é momento meramente moralista nem descarga de sentimentos, que poderão ser humanos noutros locais. A vida confronta-se com a Palavra e esta deve tornar-se luz que delineia trajectos e comportamentos. Precisamos de a iluminar com propostas serenas e seguras na convicção de que muita coisa confunde e desorienta. A profissão de fé deveria ser um momento de professar a adesão a Cristo e à Igreja numa proclamação efusiva dum símbolo que nos norteia. A oração de intercessão deveria colocar-nos no âmago dos problemas quotidianos e prece que envolve a vida concreta. 2.3 – Liturgia Eucarística A comunidade preparada pelo perdão e pela palavra pode celebrar a Aliança de Deus já prefigurada no Monte Sinai entre Deus e Israel e que encontra a suprema realização no sacrifício pascal de Cristo, tornado presente no memorial eucarístico. Mediante a oração de bênção e invocação, na força do Espírito Santo, o Senhor vem tornar verdadeiramente presente naquele pão e naquele vinho o corpo e o sangue do Senhor. É o mistério dos mistérios e a maravilha por excelência que preparamos nas ofertas dos nossos dons em solidariedade com os pobres e com as necessidades da Igreja para prolongarmos estes gestos no quotidiano. 2.4 – A Comunhão e o Envio Acolher o dom da aliança exprime-se na comunhão como a dádiva de Cristo feito amor que se identifica connosco para continuar seu envio missionário. Somos um povo peregrino e missionário no tempo e na história que alimentado por Cristo faz aliança com a humanidade para a divinizar. Viver a Eucaristia significa entrar na história da salvação e fazer do encontro com Cristo Ressuscitado a beleza da nossa existência na Igreja. 3 – “Decálogo” para viver a Eucaristia Viver a Eucaristia pode reclamar algumas atitudes muito simples que deveriam pertencer à catequese familiar e paroquial assim como ao tratamento que os sacerdotes lhe dão. 1- Consciência da presença de Cristo no altar e no Sacrário. Daí o respeito, em gestos de silêncio, adoração, genuflexão. 2- A Igreja é convocada para louvar o Senhor em palavras e gestos. Todos devem responder e não ficar inertes e sempre na mesma posição. O amor é feito de pequenas coisas. 3- O valor da Eucaristia merece sacrifício. O cristão não pode viver sem eucaristia. Só que o hábito de ter a Eucaristia no local e hora que nos convém não poderá continuar. Sacrificamo-nos por tantas coisas. A Eucaristia para ter mais dignidade não merecerá algo mais? O número exagerado de eucaristias pode ser sinal de bairrismo mas nem sempre de fé no amor de Deus. 4- A Eucaristia vale por ela. Devemos continuar a oferecer as eucaristias pelas nossas intenções particulares. Só que todos os cristãos deveriam assumir a disciplina da Igreja Universal naquilo que diz respeito às missas chamadas pluri-intencionais. A disciplina é clara. Os abusos continuam e seria necessário que acabassem. 5- Não há Eucaristia sem sacerdote mas na celebração são necessários outros ministérios. Leitores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão são imprescindíveis no número mas sobretudo na qualidade. Que haja uma preparação remota e próxima. 6- A festa da Eucaristia deve chegar aos sinais exteriores das flores. Notamos um cuidado que nos impressiona na dedicação e sacrifício das pessoas. Estejamos, porém, atentos a não danificar os espaços nem prejudicar a centralidade dos lugares litúrgicos. 7- O espaço Sagrado com atenção ao altar, presidência e ambão pode merecer um cuidado especial e estar a solicitar investimentos. O Sagrado deve ser cuidado com um esmero especial. 8- A música necessita duma dedicação especial. Deus seja louvado pelos progressos efectuados. Continuamos a chamar a atenção para as Normas publicadas que dizem respeito à celebração e à realização de concertos. 9- A presença de pessoas no altar para determinados serviços deve ser cuidada e adaptada às situações. Os fotógrafos não podem tratar os lugares Sagrados como espaços para eles. Devem ser preparados e os párocos devem ser exigentes. Não basta ser bons profissionais. Precisam de saber onde estão e para que trabalham. 10- As Eucaristias para comemorar momentos da vida pessoal-sacramental (baptismo, casamento) ou de acção de graças de associações ou grupos terão de motivar os participantes para o significado do momento. Não podem ser mera alínea dum programa ou da festa que habitualmente “acontece” deste modo. Espero que este Ano Eucarístico gere uma nova “Cultura Eucarística”. Que as comunidades não desperdicem esta graça. Tudo continuará na mesma. A mudança está nas nossas mãos. Sé Catedral – Corpo de Deus D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz