Arquidiocese de Braga -

25 dezembro 2005

A Família é o lugar do Natal

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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga

\n[Homilia da Eucaristia de Natal] Neste Natal, de olhos postos na família de Nazaré, gostaria de colocar perante a família diocesana a vocação maravilhosa da vida em família. Tenho consciência da diminuição de casamentos, religiosos e civis, do aumento das convivências em uniões de facto muitas vezes de tipo homossexual, duma alta percentagem de divórcios, dum número reduzido de filhos e do aumento impressionante de abortos, ao lado da procriação medicamente assistida. Sei que nesta sociedade do bem-estar e da diversão, as energias concentram-se num materialismo prático de tipo hedonístico onde se pretende aproveitar a vida numa erotização quase omnipresente e profundamente comercializada por meios sofisticados de publicidade. Tudo deturpa o conceito de liberdade relativizando todos os valores e normas para não querer ligar-se a nada. Verifico a transformação dos valores, o afastamento de Deus dos corações, o colocar em dúvida a tradição. Só que, por outro lado, sei, também, que começa a ser intensa a procura da espiritualidade e o desejo dum amor conseguido. Alguns jovens assumem, com seriedade, o compromisso de constituir família cristã, pois descobriram Deus e disponibilizam-se para um “sim” a uma relação inseparável e duradoura dum matrimónio celebrado diante de Deus. Os filhos são vistos como um verdadeiro dom e presenciamos a alegria das famílias numerosas. Neste cenário predominantemente negativo, convido as comunidades para um trabalho aprofundado como “regresso a Deus” que se faz homem, vivendo numa família, para sublinhar essencialmente quatro realidades. 1 – A família deve evangelizar-se e tornar-se o ponto de partida para a evangelização da sociedade hodierna. Começa a ser reconhecido e aceite por todos a necessidade de responsabilizar os pais. Num mundo pluralista a transmissão da fé e dos valores cristãos e a educação para uma vida cristã já não podem ser garantidos pelas instituições. Como educam as nossas escolas e que conteúdos formativos transmitem? Se os pais procurassem conhecer o que se passa com os seus filhos, sentiriam um apelo a um compromisso maior. Só a família pode tornar-se a verdadeira e autêntica escola de vida, de amor e de fé. Urge que as famílias tomem a sério a tarefa que lhes compete. Não é com a sua demissão que poderemos esperar um futuro de esperança. 2 – Compete, hoje mais do que nunca, às famílias cristãs, numa missão sócio-político importantíssima, promover a salvaguarda do matrimónio, da família e da vida. Trata-se duma responsabilidade a que ninguém se pode furtar. Numa vivência da fé, é imperioso a defesa das famílias baseadas no matrimónio e um apoio e valorização da missão educativa dentro da família para chegar a um comportamento activo na protecção da vida desde o início até a morte natural. Os cristãos terão de se empenhar neste sentido. Sem este exercício de cidadania, continuaremos a caminhar para índices alarmantes de decadência familiar. 3 – Os problemas e os sofrimentos da família, nos tempos que passam, são um particular desafio para a Igreja. Não é novidade para ninguém reconhecer que a opinião pública pensa que a Igreja desconsidera ou alheia-se aos problemas familiares. Cristo terá de tornar-se de novo o Salvador e quem necessita de cura deve encontrar na Igreja um Oásis e neste capítulo todos temos de nos converter. Não ignoramos os dramas de muitos lares. Como Igreja e particularmente através de casais cristãos, teremos de entrar nas “casas” onde reina o sofrimento e, com serenidade e competência, encontrar respostas adequadas. 4 – A Família necessita de tempo exclusivamente para si. O ritmo semanal do trabalho dos pais e a sobrecarga escolar e extra-escolar dos filhos, não permitem espaços para a intimidade, para um lar onde se conversa, joga, partilha preocupações. Como consequência dum ritmo alucinante, deparamos com um crescente espaço de depressão a que nem sempre as estatísticas concedem a verdade dos números. Não me refugiando em argumentos de carácter religioso, reconheço que o domingo necessita de ser este espaço. Há gente que trabalha e desnecessariamente, existem dinamismos comerciais que distraem mas não promovem a comunhão familiar. Não valerá a pena exigir uma nova regulamentação do trabalho ao domingo? As comunidades cristãs não serão capazes de educar para esta alegria de estar juntos, aproveitar a natureza, efectuar jogos de diversão? Pensando bem, estaremos a viver adequadamente este dia? Que o Menino de Belém, que não tem lugar nas casas da época, entre e motive as famílias para uma atitude de repensar o que pretendem das suas vidas e que as comunidades cristãs cresçam nesta responsabilidade de proporcionar subsídios para que o lar seja um local de verdadeira felicidade. Braga, 25 de Dezembro de 2005. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz