Arquidiocese de Braga -
22 abril 2009
Mensagem do Presidente da CEVM
CEVM
Mensagem do Presidente da CEVM para o 46.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações
\n“Sei em Quem pus a minha confiança” (2 Tm 1, 12)
O mistério santo da Páscoa, celebrado pela Igreja todos os dias mas muito particularmente ao longo do tempo pascal, oferece-nos o ambiente propício para reflectirmos sobre o sentido da vocação.
Lembra-nos o Santo Padre Bento XVI na sua mensagem para o 46.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que se celebra no IV Domingo de Páscoa, a 3 de Maio próximo, que a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada nasce sempre da iniciativa de Deus, passa necessariamente pela resposta humana e implica de todos os cristãos uma contínua e confiante oração pelas vocações.
Cumpre-nos viver este dia e todos os dias a partir desta certeza confiante e desta prática essencial da oração de quem, a exemplo de Jesus, implora ao Senhor da Messe que envie trabalhadores para a sua messe (Mt 9, 38).
Importa igualmente olharmos a realidade no que às vocações diz respeito para, com a lucidez do Espírito e com confiança evangélica, sermos capazes de encontrar caminhos e métodos que firmem no tempo presente os horizontes de esperança que nascem da confiança na iniciativa de Deus e na generosidade da resposta humana.
1.Habituamo-nos durante décadas a ver a procura numerosa de candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada. Somos, muitos de nós, do tempo de Seminários cheios e de Institutos Religiosos a crescer em número e em estruturas de serviços novos dia a dia.
Temos agora dificuldade em conviver hoje com novas situações e diferentes realidades. E o mais grave é que perante uma envolvente cultura de crise fixámo-nos dolorosamente nas análises estatísticas e alguns sentiram-se submergidos pela tirania do medo de falar de vocação.
O Concílio e a celebração jubilar do Ano 2000 vieram dar-nos ânimo e coragem recordando-nos que a Igreja é povo de Deus e luz dos povos, na certeza de que Deus nunca falta ao seu povo e de que a generosidade humana nunca se esgota neste oceano imenso das respostas dadas a Deus para servir o povo. Surgiram respostas novas, belas e criativas, que nem sempre soubemos perceber, agradecer e merecer e que nos dizem da abundância dos dons de Deus.
A realidade lida e construída à luz da fé diz-nos que devemos olhar o futuro com lucidez e confiança. Vivemos num tempo novo, em que a esperança germina e em que uma aliança de diálogo e de comunhão com os jovens e entre estes e Deus é possível.
Demos graças ao Senhor, pede-nos o Santo Padre, pela certeza inabalável de que a Igreja é guiada firmemente por Deus nas sendas do tempo novo, também neste campo fecundo das vocações.
É este o espírito que anima a Igreja em Portugal e que determina o trabalho pastoral da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios que, de novo, propõe às comunidades cristãs uma oportunidade de oração mais intensa, de reflexão mais aprofundada e de sugestões de caminhos vocacionais a percorrer com os jovens, a que devemos ouvir e oferecer espaços para a missão.
Preparou este Guião pastoral o Secretariado da Pastoral Vocacional da Diocese do Porto que, com a generosidade e o testemunho colaborante ali sempre encontrados, mais uma vez nos ajudam na vivência desta Semana das Vocações e nos incentivam a trabalhar confiadamente neste campo essencial da vida da Igreja.
A consciência responsável de cada cristão e o trabalho pastoral confiante e contínuo de cada comunidade, sempre respaldados na oração de todos e no testemunho dos chamados, dizem-nos que esta é a hora de relançarmos com audácia e com determinação propostas de pastoral vocacional sustentadas e fecundas. O terreno vocacional está preparado. Que não faltem os semeadores!
2.Às comunidades cristãs pede-se hoje que mantenham viva, com clareza e confiança, através de uma oração incessante a invocação da iniciativa divina. Só reconduzindo-nos ao coração de Deus, berço e génese da vocação, perceberemos que a vocação é obra da graça e dom de amor. Deus precede-nos sempre no caminho que antes de ser aventura humana é iniciativa divina. Antes do chamamento dos discípulos, Jesus rezou.
O mistério do caminho de Damasco que nos fala do encontro de Cristo com Paulo e que nos faz bem evocar, com particular atenção neste ano Paulino, revela-nos igualmente que a iniciativa da conversão e do chamamento são sempre de Deus.
Uma comunidade atenta e orante oferece àqueles que são chamados, ambientes, iniciativas, actividades e tempos propícios ao discernimento prudente e à resposta livre, generosa, convicta e fiel ao projecto divino. É sempre no horizonte de uma liberdade responsável, de uma exigência moral estruturante e de experiências activas de compromisso eclesial que a vocação ganha sentido e valor. A comunidade cristã, os movimentos apostólicos, as famílias, os sacerdotes e os consagrados(as) têm aqui uma primordial e insubstituível missão.
Compreende-se, por isso, que seja a partir da Eucaristia e do serviço do altar que a comunidade cristã perceba melhor o mistério do dom de Deus por excelência, se molde sempre mais esta confiança na iniciativa de Deus e se dê maior valor à resposta humana de quantos são chamados.
3. De acordo com a mensagem do Santo Padre, conscientes de que todos já percorremos parte do caminho, cheios de esperança, e certos de que isso marca a diferença das prioridades de acção da pastoral vocacional, somos agora convidados a:
- contemplar o diálogo vocacional entre a livre iniciativa do Pai e a resposta confiante de Cristo;
- testemunhar a alegria de ser chamado e a beleza e urgência do chamamento;
- vencer os medos próprios do tempo, do ambiente e do calculismo e a soltar as amarras arrastadas pelo cansaço, pelo desânimo ou pelas incompreensões;
- aderir ao projecto de Deus com a liberdade de quem tudo deixa para entrar na escola do Mestre e para O seguir com ânimo confiante e agradecido;
- viver sem reservas o Evangelho de Cristo, na fidelidade plena e feliz de quem acolhe os conselhos evangélicos como um dom e os cumpre com verdade e alegria;
- ouvir o clamor do povo que pede servidores generosos e trabalhadores incansáveis que façam multiplicar os talentos, que semeiem com generosidade e que lancem de novo as redes, conscientes da dimensão do mistério da multiplicação, do tempo demorado e paciente da colheita e do milagre da abundância depois de uma noite inclemente de desânimo.
Querendo responder à urgência missionária, sentida em toda a Igreja, e na ocorrência dos 150 anos da morte do Santo Cura d’Ars, “Padroeiro de todos os sacerdotes do mundo”, o Papa Bento XVI anunciou a convocação do Ano Sacerdotal entre os dias 19 de Junho de 2009 e 2010. A Igreja em Portugal associar-se-á realizando de 1 a 4 de Setembro, próximo, o VI Simpósio do Clero de Portugal subordinado ao tema “Reaviva o dom que há em ti” (2 Tm 1, 6).
Acompanha-nos nesta missão confiante e neste caminho de esperança a intercessão de Nossa Senhora, a Virgem de Nazaré, que pelo seu “Sim” diariamente renovado se tornou a Mãe de Deus e nossa Mãe e se faz nosso exemplo, ensinando-nos a cultivar no coração humano o acolhimento sereno e generoso ao projecto de Deus.
Aveiro, 25 de Março de 2009, Solenidade da Anunciação do Senhor
† António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro e Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios
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