Arquidiocese de Braga -
21 dezembro 2009
Para uma pastoral nova
Colaborador
Iniciamos as actividades dum novo Conselho Arquidiocesano de Pastoral. Na Caminhada Arquidiocesana significa um momento de particular significado e uma ocasião de grande esperança.
O tempo de Advento recorda-nos que a Igreja, como continuadora de Cristo, tem uma vocação orientada para o mundo. Não se confunde com ele mas existe para lhe dar sentido e propor um caminho de autêntica libertação para uma felicidade capaz de se experimentar em todos os condicionalismos históricos.
Ninguém ignora que a sociedade mudou e está a viver segundo parâmetros totalmente novos. Acontece que muitas comunidades continuam a apostar em ritmos marcados pelo tradicionalismo e caracterizados por uma teimosia em repetir uma pastoral em muitos aspectos ultrapassada.
Os Estatutos sublinham que o C.A.P. se deve “pronunciar sobre as linhas fundamentais do que se refere à actividade pastoral”. Constituído por cristãos procedentes de todos os âmbitos da vida diocesana, esta deve aceitar, com espontaneidade, as suas orientações que, na diversidade no acidental, determinam uma unidade constante no essencial. Olhar o cenário da nossa pastoral – nas paróquias e nos movimentos – significa, em muitos casos, um acomodar-se ao espírito subjectivista que caracteriza a secularização reinante. Esquece-se que somos comunhão hierárquica e que só edificamos Igreja testemunhando uma sintonia que abafa clericalismos, ligados a sacerdotes e leigos.
Daí que queira sublinhar uma função, entre outras, enumerada nos estatutos. “Ajudar o Prelado da Arquidiocese a efectivar a coordenação de todas as actividades pastorais”. É árduo o ministério episcopal pelos desafios lançados pela post-modernidade e por realidades exteriores e estranhas à Igreja. Não é mais fácil motivar e integrar todas as energias. Também aqui, dum modo inconsciente, as forças de bloqueio impedem uma resposta adequada aos problemas. Esta ajuda, concreta e a oferecer sempre e não só nos momentos das Assembleias Plenárias, orientar-se-á para um “incrementar uma empenhativa comunhão e corresponsabilidade do Povo de Deus na missão pastoral da Igreja”.
Sempre norteados pelo Programa Pastoral – que teremos de delinear e acompanhar – quero deixar dois grandes objectivos para esta caminhada de três anos.
1 – “Fomentar a coordenação dos Conselhos Pastorais paroquiais entre si e com os Órgãos Arciprestais e Arquidiocesanos de Pastoral.”
A comunhão eclesial para uma efectiva corresponsabilidade ainda não chegou a todas as paróquias. Teremos de encontrar modos e maneiras de “incrementar” os Conselhos Pastorais Paroquiais. Nenhuma paróquia deveria estar tranquila sem efectivar esta colegialidade efectiva para uma pastoral sinodal que aceita todas as pessoas com os seus carismas e modos complementares de pensar.
Se temos uma necessidade absoluta deste novo estilo de pastoral, ele deve entrar numa simbiose perfeita com os mesmos dinamismos comunitários dos Arciprestados e da Arquidiocese. Dou graças a Deus pelo caminho percorrido e pelo testemunho maravilhoso de algumas verdadeiras unidades pastorais. Será que podemos estar contentes com o que se passa nos Arciprestados e destes com a Arquidiocese?
Sejamos sinceros e aceitemos o encargo de dar à pastoral esta tonalidade.
2 – “Ajudar, por todos os meios ao seu alcance, a uma equitativa distribuição das obras de apostolado e outras iniciativas, de modo a que se torne real a conveniente atenção aos diversos departamentos e zonas.”
A Arquidiocese deve consciencializar-se do número de sacerdotes e da média etária do presbitério. Só uma pastoral vocacional onde cada um é sujeito de chamamento e acompanhamento garantirá a assistência espiritual no futuro.
Mas, nunca podemos esquecer que a Igreja é Povo de Deus e que muito trabalho, sendo consequência da realidade do sacerdócio comum, não necessita de ser realizado por sacerdotes. Se isto é verdade, não é possível confiar tarefas sem a preparação adequada. Só a formação garante a possibilidade de comunidades evangelizadoras e celebrativas da fé para uma vivência do Amor de Deus.
Por outro lado, nunca poderemos imaginar que todas as comunidades tenham idênticas possibilidades. Urge uma circularidade de pessoas, sem vanglória, amor-próprio ou bairrismo. Os movimentos e outras realidades associativas podem e devem testemunhar este carácter missionário.
Eis alguns elementos orientadores para este Conselho. Gostaria que fossem assimilados e dialogados. Não nos podemos prender a esquemas. A novidade do mundo exige maior novidade nas respostas pastorais. Estaremos só a reagir e a chegar fora de horas? Sejamos sentinelas que vêm longe e ouvem o murmúrio dum povo, profundamente marcado pelo Evangelho, mas que necessita de maior consistência na sua fé. Ouçamos o pensar daqueles que se afastam com alguma desilusão pelo contra-testemunho que damos ou não conseguem integrar-se por não encontrar uma diferença que valha a pena imitar.
Coloco uma fasquia alta para este Conselho. Ele representa a nova configuração da nossa Cúria a que chamamos “Serviços Centrais”. Estaremos na vontade de servir, depois de permitirmos ser “habitados” pela Palavra, tornando-nos “habitantes” na Palavra. Acolher, viver nela, e, por isso, comunicá-la.
Resta-me agradecer-vos e confiar a Maria, Mãe da Igreja, as esperanças e as expectativas do povo de Braga para que a Arquidiocese – em todas as suas estruturas – não o defraude.
Braga, 19 de Dezembro de 2009
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
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