Arquidiocese de Braga -

29 janeiro 2011

TESTEMUNHAR E EDUCAR

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Colaborador

Reflexão do Sr. D. Jorge para a VI Jornada da Família no arciprestado de V. Nova de Famalicão.

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VI Jornada da Família

EDUCAR E TESTEMUNHAR

 

Educar e Testemunhar segundo a Boa-Nova de Jesus Cristo é uma verdadeira “emergência” na missão da Igreja.

Ao longo dos séculos a Igreja exerceu a sua missão no campo do ensino. Os discípulos reuniram-se em torno de Jesus, Mestre da Palavra, pedagogo exímio, porque cheio da sabedoria de Deus-Pai. A primeira comunidade cristã era assídua ao “ensino dos apóstolos” e ao testemunho que davam do amor de Deus. A Igreja, com a graça do Espírito Santo, com o contributo de homens e mulheres sábios, desde sempre ajudou a desvendar o mistério da criação e do homem.

 Estamos numa sociedade e num tempo novo que exige de nós o esforço contínuo de repensar os modelos educativos. O que significa educar? Que educação para hoje? Que projectos educativos existem? Como educar e para quê? São questões que certamente já foram levantadas e debatidas ao longo desta Jornada de reflexão.

Não sem razão se diz que as figuras tradicionalmente educativas se adaptaram, por via das circunstâncias do tempo, às correntes pedagógicas do facilitismo e da lei do menor esforço. Acomodaram-se aos conselhos de pedagogias centradas na auto-realização individual sem vislumbrar uma cultura da fraternidade e da partilha de valores. Um panorama que contagiou a Família, a Escola e a própria Igreja. Assim:

·        A família, na sua forma materna e paterna, já não ousa contrariar as crianças e permite precocemente, por demissão ou por omissão, todo o tipo de experiências que desequilibram o crescimento integral da pessoa. É preciso clareza e comunhão no exercício do testemunho parental. Onde está um sim também pode estar um não.

·        A escola, na perspectiva redutora de uma formação pluricultural, não tem sido capaz de delinear um projecto educativo respeitador e promotor de uma cultura verdadeiramente humana. Impõe-se a todo o custo uma ideologia educativa estatal com a consequente eliminação silenciosa de todas as propostas educativas que orientem para os valores do testemunho, da autoridade, da seriedade, da vontade de trabalho e de iniciativa, da fé e da visão cristã do mundo.

·        A Igreja, na sua tarefa irrenunciável de apresentar um projecto educativo à luz do pensamento cristão, nem sempre tem sido capaz de propor um itinerário de crescimento e de diálogo entre a fé e a razão. A formação dos agentes educativos da Igreja é urgentíssima porque estamos a perder oportunidades únicas de testemunhar com a vida o anúncio primordial da fé cristã. É tempo de perguntar se a actual catequese é um itinerário que educa e forma discípulos de Cristo? As famílias sentem-se responsáveis pela catequese dos seus filhos? Como temos acompanhado aqueles jovens que após o crisma não regressam à comunidade? O que temos para lhes oferecer? Que novos ministérios poderão surgir nas nossas comunidades à luz dos dons variados dos nossos jovens? Será que a proposta de anunciar o Evangelho na comunidade se resume à presença dominical, a ser leitor, acólito ou membro do grupo coral?

Se estes tradicionais lugares de educação estão a perder a sua capacidade de formar teremos de voltar a acreditar na família como a primeira escola da esperança e da comunhão. Não basta ser pai ou mãe. É preciso ter a humildade para reconhecer que educar exige disponibilidade, encontro, presença e acompanhamento. Também as comunidades cristãs devem exercer essa missão educadora na fé, testemunho e desafiando os jovens a colocar os seus dons ao serviço do próximo.

Nesse sentido é para a Igreja um autêntico desafio criar novos ministérios que se aproximem dos dons dos mais novos de modo que as suas qualidades possam ser acolhidas para o crescimento da comunidade. Indico alguns ministérios possíveis: a utilização das novas tecnologias (página da internet do arciprestado ou da paróquia); a elaboração de uma equipa de jornalismo que elabore o boletim paroquial e divulgue a fé cristã na comunicação social; a formação de equipas de voluntariado de acção social (tantos jovens formados em Ciências Sociais!); iniciativas de índole cultural onde o pensamento cristão seja apresentado com criatividade e originalidade (por exemplo apresentar uma exposição bíblica a partir das artes plásticas ou da pintura com crianças da catequese ou jovens formados em Belas Artes). Não podemos exigir que venham somente à Eucaristia dominical, é preciso que a comunidade acolha com a alegria as várias sinergias e dons ao serviço do Evangelho.

Neste compromisso activo e no exercício de uma cidadania pensante, permiti que partilhe convosco uma preocupação, um apelo e um compromisso:

1)Preocupa-me a redução da educação a uma certa demagogia ideológica. Ultimamente verifica-se uma polarização da perspectiva economicista da educação. Por nosso lado não podemos deixar de dizer que o ensino privado não pode ser visto como contraponto do estatal. O ensino privado é ensino público na medida em que está ao serviço de toda a sociedade na formação dos quadros directivos e do tecido produtivo do nosso país. Certamente que a questão económica não é despicienda mas é necessário garantir o direito das famílias poderem escolher o modelo educativo para os seus filhos.

2)Apelo a uma educação integral resultante de testemunho de vida e da competência técnica de todos aqueles que interagem no acompanhamento vocacional das crianças e dos jovens. Uma educação que não seja auto-realização ou funcionalista mas que eduque as novas gerações para uma cidadania exigente e activa na luta por um progresso justo e humano.

 

3)Como cristãos não podemos deixar de propor uma educação católica, universal e diversificada, que toque as grandes questões da nossa existência. Educar na fé é seguir a pedagogia de Jesus que inicia os discípulos a partir do testemunho relacional com Deus, Seu e nosso Pai.

Por isso, a todos deixo uma palavra de encorajamento para darmos razões de esperança às novas gerações. A vós, pais e educadores na fé, peço que testemunheis com a vida aquilo que ensinais, porque vós sois os primeiros responsáveis no crescimento harmonioso e sadio dos vossos filhos. Não desanimeis na bela missão de educar humanamente aqueles e aquelas que darão continuidade à obra da criação de Deus.

 

Famalicão, 29 de Janeiro de 2011

 

Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz