Arquidiocese de Braga -

21 abril 2011

IGREJA, CASA DO DOM E DO SERVIÇO

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Colaborador

Homilia de D. Jorge Ortiga na solenidade da Ceia do Senhor de Quinta.feira Santa.

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HOMILIA

 

Igreja, Casa do dom e do serviço

Quinta-feira Santa 11 – Ceia do Senhor

 

Mais uma vez somos desafiados a escutar as interpelações da Palavra de Deus. É paradigmático o momento que celebramos. “Ele que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. Celebramos não apenas um momento extraordinário da vida de Cristo mas a radicalidade do seu amor que deve distinguir aqueles que são baptizados em Seu nome.

A presença de Cristo não se esgota na celebração da Eucaristia. Ele está presente em toda a nossa vida. A Eucaristia, para ser verdadeira, deve conduzir-nos ao serviço permanente e este para ser autêntico deve mergulhar na comunhão eucarística que é a fonte espiritual de toda a acção cristã. A Palavra quando ressoa aos nossos ouvidos desinstala-nos e obriga-nos a passar para os lugares e experiências dos outros.

O amor a Cristo vive-se no encontro com a história de cada tempo. A Eucaristia rasga horizontes que só a fraternidade e a reciprocidade conseguem entender e realizar plenamente. A Palavra de Deus é um contínuo apelo ao dom e à gratuidade. Dom do que se tem e do que se é; gratuidade sem nada pretender nem esperar.

A gratuidade do amor pode escandalizar muita gente e parece estar fora da agenda social e pública da vida actual. Tomados pela lógica da gratuidade, saberemos distinguir quem procura nos interesses políticos a sua realização pessoal e quem testemunha sentido de verdadeira preocupação pelo bem comum. Só a concretização do bem comum na humanização das relações de toda a sociedade é promessa digna de fé. 

Para que a Igreja seja Casa da Palavra que anuncia o Reino da esperança, quero recordar três horizontes a percorrer:

1 – Em Ano Europeu do Voluntariado, as comunidades devem abrir-se à hospitalidade, caminhando alegremente com os irmãos e partilhando experiências de fé nas variadas Instituições. Urge um voluntariado verdadeiramente cristão nas motivações e no modo de agir. Também aqui a vergonha está a camuflar o compromisso das exigências baptismais. Saibamos crescer no voluntariado como oferta gratuita da vida à luz de Cristo Ressuscitado.

2 – A Ceia Eucarística acontece na “Casa” do cenáculo onde se reúne o Mestre e os discípulos para a festa do Cordeiro Pascal. Trabalhemos todos os dias para preparar a mesa onde todos se possam sentar. Construamos uma casa comum e convidemos para o banquete todos aqueles e aquelas que estão privados do pão que alimenta a vida. Na mesa de Cristo há lugar para todos aqueles que são excluídos pela sociedade. Se não prestamos atenção aos abandonados corremos o risco de perder a memória de Cristo. Há emergências no mundo que não podem esperar. O Espírito da Palavra, se estivermos atentos, leva-nos ao encontro dos esquecidos ou abandonados à sua sorte.

3 – Na Casa dos homens de hoje existem muitas e novas pobrezas. Penso, porém, que a mais grave e exigente é a desorientação da vida. Há um medo do futuro. Tudo se experimenta. Gastam-se energias em futilidades momentâneas e em tempo perdido no desânimo. A Palavra de Deus desinstala-nos e dá sentido à vida. Se quisermos que a Igreja seja Casa da Palavra, teremos de assumir o estatuto de missionários da Palavra para a colocar no coração da sociedade. Cheios da luz de Cristo, temos de revelar, por palavras e por obras, a verdade que nos orienta, substituindo a desorientação da vida pelo encontro com o Ressuscitado em cada eucaristia e em cada irmão.

No dom e na gratuidade das nossas vidas, coloquemos o manto do serviço para enfrentar, serenamente e com coragem, os problemas da actualidade. Que o amor ao próximo nos comprometa a dar respostas concretas e fortaleça os laços de fraternidade entre os cristãos e toda a humanidade.

 

Sé Catedral, 21 de Abril de 2011

  

Jorge Ortiga, A.P.