Arquidiocese de Braga -

10 outubro 2012

Aquela pergunta incómoda

Fotografia Colaborador

+ Jorge Ortiga, A. P.

Homilia na peregrinação arciprestal de Vila Verde à Senhora do Alívio

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Caro Arcipreste de Vila Verde, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas

Digníssimas autoridades civis

Queridos doentes e idosos que testemunhais a antiguidade desta peregrinação

Prezadas crianças e jovens que sois o futuro da Igreja

Irmãos e irmãs que embelezais o recinto deste Santuário com as cores da trama da vossa vida!

 

Numa semana em que fomos surpreendidos com novas medidas de austeridade, que certamente nos levantaram inúmeras perguntas existenciais, no evangelho de hoje Jesus também surpreende os seus discípulos com uma pergunta incómoda: “E vós quem dizeis que Eu sou?”

Por estranho que pareça, depois de os discípulos terem deixado tudo para O seguirem; de partilharem inúmeras viagens, refeições e conversas; de escutarem as parábolas do Reino de Deus; de presenciarem sinais milagrosos; de darem a sua vida por Ele…; a meio da viagem, Jesus decide fazer-lhes um teste evangélico com esta pergunta. E porquê?

Porque Jesus não pretende uma relação escolar, profissional ou de circunstância, mas uma relação íntima, profunda e verdadeira com os seus discípulos.1 Ele precisa de ter a certeza de que eles continuarão a obra do Reino de Deus! Além do mais, a diferença entre a resposta da multidão e a resposta de Pedro traduz o nível qualitativo da relação com o Mestre.

Posto isto, a pergunta operada há 2000 anos, emerge novamente: Afinal, quem é Jesus para nós: será que Ele foi apenas um bom homem? Um revolucionário? Um profeta? Um fundamentalista religioso? Um mágico? Um artista? Um político? Um mártir? Um ditador? Um sindicalista? Um herói? Um agitador social? Um louco? Ou será que foi o Messias de Deus, que revelou o Seu verdadeiro rosto e nos abriu as portas da salvação?

 

Como é do vosso conhecimento, o Papa Bento XVI promulgou um Ano da Fé para o próximo ano pastoral, a iniciar em Outubro, e decidi também que o próximo quinquénio pastoral se centrasse na temática da fé, para que ela seja melhor professada, celebrada, vivida, anunciada e contemplada, à imagem de Maria, no intuito de redescobrirmos a nossa identidade cristã.

De facto, só a fé pode dar uma resposta válida à pergunta de Jesus. Talvez no passado a resposta para o cristão estivesse no cumprimento dos deveres e ritos religiosos. Mas os tempos são agora outros e os discípulos devem saber dar as razões da sua fé, tal como o apóstolo Pedro. Para tal, a formação contínua, a partir co Catecismo da Igreja Católica, apresenta-se como uma urgência.

Para isso, a Arquidiocese preparou um pequeno guião com doze catequeses para este ano pastoral, de modo a re-aprendermos os conteúdos do Credo que professamos em todas as eucaristias. A propósito, Sto. Agostinho afirmava: “O credo seja para ti um espelho! Mira-te bem nele, para ver se realmente crês em tudo o que defines como fé!”

Actualmente, corremos o risco de permitir que o cristianismo desapareça da nossa cultura por causa da nossa inércia. Muitas vezes, a vergonha apodera-se e o silêncio esmaga as nossas palavras de verdade, justiça e esperança. A fé é o resultado do encontro íntimo com Cristo, que depois explicamos ao mundo em palavras e gestos, porque uma fé sem obras é morta, como escutávamos na segunda leitura.

Estamos num tempo de opiniões, no qual todos os comentadores têm sempre a melhor solução, a melhor análise e a melhor crítica no campeonato das audiências televisivas. Contudo, para salvar o mundo, Jesus privilegiou a acção em vez da locução. Todos sabemos que é preciso uma mudança de paradigma. E essa mudança deve começar no coração de cada um, para que produza obras que incomodem a paralisia económico-social. Que as obras de amor brilhem nesta escuridão, porque, apesar de tudo, vale mesmo a pena viver neste tempo concreto da história da humanidade!

O mundo necessita de obras libertadoras que afastem o desencanto e a desilusão de tantos corações; são necessárias acções concretas que incomodem a quietude de quem deveria resolver as questões fundamentais; o crente deve ser capaz de estar presente e ao lado dos mais débeis e frágeis, para que o Amor de Deus lhes seja revelado; as comunidades devem apaixonar-se pela gratuidade da oferta de gestos que, parecendo pequenos, são fundamentais para a vida de tantos. O Santo Padre sintetiza, afirmando que esta “crise nunca poderá permitir a resignação, mas tornar-se num evento planificador de uma nova sociedade.”

 

Para terminar, caros cristãos: a nossa missão não se resume, portanto, a dar respostas religiosas, mas a surpreender os que nos rodeiam com aquela pergunta incómoda: “Afinal, Quem é Jesus para ti?”

Aliás, Jesus não tem propositadamente facebook, porque Ele prefere acima de tudo uma amizade “face to face”!1 Ele vai pessoalmente ao teu encontro, como escutávamos na primeira leitura, e espera o que for preciso pela tua resposta.

Por isso, aceita o seu convite de amizade, permite que Ele entre na tua vida, e, como Maria, a “bem-aventurada porque acreditou” e a “Senhora do Alívio”, deixa que Ele alivie as tuas angústias, dores e sofrimentos. Por ti, por mim e por todos, eu lhe peço:

Um pouco de luz para a tua noite

Um pouco de paz para a tua luta

Um pouco de amor para o teu ódio

Um pouco de água para a tua sede

Um pouco de doação para o teu egoísmo

Um pouco de calor para a tua frieza

Um pouco de ideal para a tua fraca vontade

Um pouco de alegria para a tua tristeza

Um pouco de auxílio para a tua necessidade

e um pouco de fé para a tua dúvida,

pois só Ele é o verdadeiro Messias de Deus!