Arquidiocese de Braga -
16 outubro 2012
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Homilia na abertura do Ano da Fé e do Ano Escutista, na Avenida Central em Braga.
Excelentíssimo Senhor D. António Moiteiro,
Caros Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas
Apreciadas famílias que sois a célula da sociedade
Prezados doentes e idosos que transportais a alegria da fé
Queridos escuteiros que sois a força juvenil da Igreja
Estimadas autoridades civis
Irmãos e irmãs na fé em Cristo Jesus
1. Se esta semana nos alegramos pelo facto de a União Europeia receber o Prémio Nobel da Paz, hoje a nossa alegria é ainda maior por reunirmos nesta praça milhares de jovens que são autênticos “produtores de paz”!
Aliás, o Evangelho que acabamos de escutar conta-nos precisamente uma história de paz! Ao contrário do habitual, quem vai ao encontro de Jesus não é um doente que pede a cura, um possesso que pede um exorcismo, um fariseu que pede explicações ou um pecador que pede o perdão, mas um homem rico e ousado que pede a vida eterna!
Perante este pedido, Jesus aponta-lhe os mínimos evangélicos: não matar, não cometer adultério, não roubar, não mentir, não cometer fraudes e não desobedecer aos superiores. Contudo, o seu desejo exige mais e Jesus propõe-lhe então os máximos evangélicos: vender tudo o que tem, ajudar os pobres e segui-lo para sempre! Mas a este desafio, aquele homem define-o como impossível e, por isso, abandona o projeto.
2. Neste sentido, se caminhamos para o fim do evento Braga, Capital Europeia da Juventude, hoje iniciamos o Ano da Fé na nossa Arquidiocese. Logo, perante o actual cenário social, a pergunta emerge: o que é que a Igreja pode oferecer de específico ao Homem, nomeadamente a estes milhares de jovens que se encontram nesta praça, e que o evento Braga, Capital Europeia da Juventude, não consegue?
A resposta encontrámo-la na segunda leitura: a Palavra de Deus. Uma Palavra maravilhosa que é “capaz de colocar o Homem diante da verdade total” (2.ª Leitura), que nos orientou nos últimos quatro anos pastorais e que tem como consequência inevitável a fé.
Uma fé que não se vende nas prateleiras dos hipermercados nem se descarrega da internet, mas que nos é oferecida gratuitamente por Deus, mediante a Sua Palavra!
A fé é, assim, o caminho a percorrer agora em Igreja Arquidiocesana, ao longo do próximo ano, no intuito de redescobrirmos a nossa identidade cristã.[1] Neste momento, aqui e agora, declaro aberto o Ano da Fé na esperança de que, a redescoberta do seu significado vital, seja uma luz de esperança nos caminhos dos Homens e, particularmente, da juventude!
Deste modo, desafio-vos a conhecer, estudar, meditar e rezar o Credo, no qual estão inscritos os princípios da nossa fé. O Credo, por seu turno, é simplesmente a síntese da maior história de amor, de todos os tempos: o amor entre Deus e o Homem. Portanto, interiorizar o Credo é saber explicar ao mundo a textura desta história de amor radical![2]
3. Como queremos também celebrar os 50 anos do Concílio Vaticano II, permiti que vos ofereça um pequeno pensamento da Constituição Dogmática Lumen Gentium, que diz: “Cada um, segundo os dons e as funções que lhe foram confiadas, deve enveredar, sem hesitação, pelo caminho da fé viva, que gera a esperança e opera pela caridade!”[3]
Por isso, nesta abertura do Ano da Fé e, simultaneamente, da abertura regional do Ano Escutista, peço a todos os crentes que se deixem guiar por aquele princípio escutista, que determina: “O escuta orgulha-se da fé!” E porquê?
Porque a Igreja e a sociedade precisam urgentemente da nossa fé, para deixar este mundo um pouco melhor! Só ela tem aquela força interior que desperta a criatividade e descarta o caminho para a Verdade! E só a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, a pode comunicar!
De facto, perante a secularização, o conformismo, a indiferença e a desvalorização da moral que alguns paradigmas sociais nos suscitam, o filósofo Martin Buber avisa-nos: “o pior que pode acontecer a uma pessoa é esquecer-se que é um filho amado de Deus!”[4]
4. Antes de terminar, queridos escuteiros: hoje é um dia muito especial para vós! Durante o próximo ano escutista, quereis “lançar as redes e fazer-vos ao largo”, à semelhança do apóstolo Pedro!
Infelizmente, há muita gente que inveja o vosso movimento, a vossa alegria, a vossa humildade e a vossa força transformadora! Por isso, continuai a lançar as redes, a alargar as vossas tendas aos jovens sem sentido e a “incomodar” muita gente com a vossa fé!
Também hoje, no meio de tantos fracassos e ilusões, é necessário “fazer-se ao largo”, rejeitando a banalidade que todos fazem! E ser diferente é orgulhar-se da fé, ganhando consistência na vida! Uma consistência que se obtém através de uma “rede” pedagógica, que abarca a família, o sistema de patrulhas e a comunidade paroquial, nos quais se transmite, aprofunda e debate-se a temática da fé.
Se a União Europeia recebeu o Nobel da Paz, a verdade é que o mérito não está apenas nos intelectuais que habitam em Bruxelas, mas também nos pequenos gestos pacíficos que a Igreja, e particularmente o escutismo, produzem nos pormenores da trama humana!
Como tal, gostaria de deixar um abraço fraterno a todos os dirigentes que, sem nada receber em troca, disponibilizam tanto tempo e dinheiro, ao longo do ano, para construir uma juventude diferente! E aos jovens escuteiros, apenas quero agradecer o belo sorriso que nos ofereceis, sinal de uma alegria radiante que brota do acolhimento da mensagem de Jesus!
5. Por fim, quando perguntaram ao atleta Nelson Évora o segredo para vencer a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, ele respondeu: “Quando eu salto, salto sempre para o infinito!”
Pois bem, caros cristãos e estimados escuteiros, é este o projecto que Jesus nos tem para propor hoje: “chegou a hora de darmos o salto!” Ou seja, não um salto qualquer, mas o salto mais exigente de todos: saltar dos mínimos para os máximos evangélicos! Não custa nada, basta confiarmos n’Ele!
Todos estão convocados pois, como nos declara a célebre música escutista, “se tens em ti a vontade de amar, então é porque tens em ti um pedacinho de Deus!”
Portanto, partilha esse pedaço divino e continuemos a nossa história de fé e de paz, nesta sociedade europeia que sofre com a ausência de Deus!
+ Jorge Ortiga, A. P.
Abertura Arquidiocesana do Ano da Fé e do Ano Escutista,
14 de Outubro de 2012, Avenida Central de Braga.
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