Arquidiocese de Braga -

17 dezembro 2012

UMA JANELA ABERTA

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Fotografia

Mensagem de Natal.

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Uma janela aberta

Creio em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor,

que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria.

 

Mensagem de Natal

 

A nostalgia do evento Átrio dos Gentios vai-se diluindo. Contudo, confesso que há uma frase, da mensagem que o Santo Padre escreveu pessoalmente, que me tem perseguido: “os homens sem Deus constroem edifícios de cimento armado sem janelas”.

Se na mensagem para o Advento, partindo da história da família de Abraão, pedi que passássemos do riso da descrença ao sorriso da fé em Deus todo-poderoso, nesta mensagem para o Natal alargo o leque para que também acreditemos naquele que encarnou e abriu uma janela nos edifícios humanos, de modo a contemplarem a luz radiosa de Deus: Jesus Cristo, seu único Filho, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nascendo da Virgem Maria.

Ora, no tempo de Jesus a família era tudo: lugar de nascimento, escola de vida e garantia de trabalho. Fora da família, o indivíduo ficava sem protecção nem segurança. Só na família encontrava a sua verdadeira identidade. Esta família não se reduzia ao pequeno lar constituído por pais e irmãos, mas alargava-se a todo o clã familiar. Dentro deste grande grupo, eles entreajudavam-se nos trabalhos, partilhavam alfaias agrícolas e os lagares de azeite, uniam-se para proteger as suas terras, definiam as regras de acção e estabeleciam fortes laços de amizade. Perder ou abandonar a família de origem, significava assim perder a segurança existencial.

Neste sentido, os ataques da actual sociedade de consumo pode reduzir o Natal a hábitos e rotinas comerciais, que disfarcem o genuíno sentido da sua origem: celebrar o Natal é festejar em família o nascimento do Salvador! Por conseguinte, a imagem da janela aberta traduz em si uma nova gramática do humano. Ela possibilita a entrada do transcendente no nosso interior e, simultaneamente, obriga-nos a olhar para o exterior, exigindo-nos a corresponsabilidade familiar, à semelhança da família de Nazaré. Porque se a chaminé (natal comercial) traz a satisfação do “eu”, a janela aberta (natal católico) favorece a comunhão do “nós”. Trabalhemos a nossa realidade familiar e abramos as portas da nossa família ao mundo!

Por isso, gostaria de deixar um desafio a todas as famílias da nossa Arquidiocese: percam a vergonha e façam um breve momento de oração, antes da refeição da Ceia de Natal, louvando os dons de Deus e recordando os irmãos que perderam a segurança familiar.

Para terminar, uma das mais antigas músicas natalícias lança-nos o imperativo: Adeste Fideles laeti triumphantes! Só comtemplando o presépio com o código da fé, compreendemos o milagre do Natal: a união da família! Sem ela, o indivíduo fica privado de um projecto de realização humana.

Na certeza de que muitas janelas se abrirão, faço votos de um Santo Natal a todos os crentes e não-crentes! Porque, quer queiramos quer não, se Maria não tivesse dito sim à proposta divina e, por inerência, Jesus não tivesse nascido, ainda estaríamos fechados na obscuridade dos edifícios de cimento armado e a perguntar: afinal, quem é somos e para onde vamos?

               

Um bom Natal a todos e, particularmente, àqueles que não experimentam o calor familiar!

 

+ Jorge Ortiga, A.P.

23 de Dezembro de 2012.