Arquidiocese de Braga -

30 abril 2013

ACOLHER A VIDA COMO RENOVAÇÃO DA SOCIEDADE

Default Image
Fotografia

Homilia na Bênção das Grávidas.

\n

Acolher a vida como renovação da sociedade

A liturgia da Palavra coloca-nos no cerne da identidade dos cristãos como discípulos de Cristo. Muitos poderão fixar-se em comportamentos meramente burocráticos de terem realizado determinadas iniciativas e possuírem no curriculum da sua vida, a atestar por uma cédula de vida cristã, os momentos passageiros e rotineiros do Baptismo, Crisma e Casamento católico. Estes gestos e sinais valem se nos conduzem ao verdadeiro critério identificativo: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”.

Desta identidade assumida e vivida, nascerá uma nova Igreja capaz de ser instrumento de renovação da sociedade. “Vi um novo céu e uma nova terra” que acontecerá se deixarmos Deus “renovar todas as coisas”. Reconhecemos a necessidade dum mundo diferente onde o amor seja a solução. Isto acontecerá quando dermos o primado à graça permitindo que Jesus Cristo transforme o nosso coração e suscite uma nova mentalidade capaz de gerar uma cultura, como modo de ver a vida, nova e adequada a novos tempos gerados por uma mudança civilizacional que não pode desconsiderar o permanente dos valores inalteráveis e válidos para todos os tempos e épocas.

Se pensarmos bem, o que está em questão é a vida na sua dignidade igual para todos e na realização das aspirações humanas que concretizam as necessidades essenciais que desconsideramos com facilidade.

Se é a vida que deve ser colocada no centro das discussões entre amigos, na família, no parlamento, ela não pode limitar-se a critérios simplesmente ideológicos ou pessoais. Há lago que não deveria ser questionável e que deveria empenhar e fazer convergir o empenho de todos os portugueses nesta época de crise. A vida vale por si e todos são corresponsáveis pela sua qualidade. A Igreja sublinha e comunica que só o amor conseguirá restituir a alegria de viver. O amor vivido e o amor recebido numa aliança que obriga a recomeçar todos os dias nunca se cansando e dando-lhe a novidade das solicitações quotidianas. Só o amor encherá a vida de quem o dá e de quem o recebe.

Nesta atenção à vida é imperioso não lhe impor limites temporais. Trata-se dum direito inaliável. O seu valor vai desde a concepção até à morte natural.

Quero aproveitar esta celebração, iniciativa da Associação Famílias que não quer substituir a Bênção das Grávidas a efectuar na Sé Catedral no último domingo do Advento e alargada a toda a diocese, para agradecer a quem acolhe a vida e não receia os trabalhos e possíveis complicações que esta atitude possa trazer. A fé é sempre coragem e serenidade que permite que tudo seja encarado com a confiança num Pai que ama e não abandona os seus filhos. Agradecendo a vida no seio de vós mulheres grávidas aqui presentes, quero deixar uma citação da última Carta Pastoral dos Bispos Portugueses intitulada “A força da família em tempos de crise.” Como seria bom que os crentes e as comunidades e reflectissem e as nossas autoridades, a nível autárquico ou nacional, a conhecessem. A sua linguagem é universal e daí que políticos não cristãos ganhassem imenso com a sua leitura que iria reforçar a atenção a dar à família como realidade com força para afastar o desalento e desencanto que muitos portugueses vivem, desde que se prestasse um cuidado especial à família que é possuidora duma força que muito pode ajudar a viver serenamente nestes momentos complicados.

Se a Nota Pastoral vale na sua integridade, há um aspecto que quero sublinhar: “Qualquer mensagem de desvalorização da vida humana acarreta consequências negativas a este respeito. (crise da natalidade e crise demográfica). Uma delas – sem dúvida a mais grave – é o aborto e a sua banalização a que vimos assistindo entre nós com a cobertura da lei vigente. Afirma, ainda, sobre esta questão a Caritas in Veritate (28) “Quando uma sociedade começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encontrar as motivações e energias necessárias para trabalhar ao serviço do verdadeiro bem-comum do homem. Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social. O acolhimento da vida revigora as energias morais e torna-nos capazes de ajuda recíproca.”

Estas palavras da Conferência Episcopal, alicerçadas no sábio ensinamento do Papa, obrigam-nos a pensar e a trabalhar pela vida. Sublinha-se o bem-comum. Não um qualquer. Mas o verdadeiro, o autêntico, o que nunca pode ser substituído. Recorda-se, ainda, que com o acolhimento a vida desperta outras forças estruturantes para um viver em sociedade com novas energias e em espírito de entreajuda recíproca. Nós encontramos a confirmação desta doutrina na experiência maravilhosa de viver com uma criança recém-nascida ou nos primeiros anos de vida. Mesmo quando está marcada por alguma deficiência ou exige sacrifícios, há um receber de algo que se torna alento para encarar a vida com outro espírito.

Levemos desta celebração o critério identificativo do cristão: o amor. Com este renovemos, permanentemente e em constante exame de consciência, as nossas famílias, e façamos com que ele se concretize dum modo consciente no acolhimento à vida.

São José de São Lázaro, 28-04-2013

Jorge Ortiga, A.P.