Arquidiocese de Braga -
3 maio 2013
A CRISE DEMOGRÁFICA COMO DESAFIO
Reflexão de encerramento da Procissão das Cruzes.
A crise demográfica como desafio
Reflexão de encerramento da Procissão das Cruzes
Por vezes, ouvimos dizer – ou reclamar – que os Bispos portugueses deveriam intervir muito mais. Estamos conscientes do específico da nossa missão e nunca nos queremos imiscuir nos dinamismos da política. Penso, porém, que a doutrina da dignidade humana e os critérios para uma convivência social em harmonia assim como o critério do verdadeiro bem comum não são esquecidos.
Acontece, porém, que há pouca vontade de a dar a conhecer pelos meios de comunicação social e, sejamos honestos, pouco uso dela na nossa pastoral assim como exígua vontade pessoal, característica dum cristão responsável, em a conhecer através da leitura e reflexão pessoal ou em grupo. Corremos o risco de passar o tempo repetindo tradições ou simples devoções e não damos o passo para acolher a responsabilidade pessoal de tornar a nossa fé mais consciente para a vida ser coerente e sem aquela atenção aos sinais dos tempos, totalmente novos e diferentes, numa aceitação da doutrina do Concílio de que celebramos 50 anos.
Na última assembleia da Conferência Episcopal, os Bispos portugueses quiseram dar um contributo para tornar a vida mais digna neste tempo de crise com a Nota Pastoral intitulada “A força da família em tempos de crise”. Nestes tempos a família tem uma força que é preciso descobrir e a sociedade, para dar coragem, deveria ser construída à imagem duma família.
Quero citar uma passagem. Ousemos acolher o seu conteúdo.
“Mas, por outro lado, a crise que atravessamos também é reflexo da crise demográfica. Numa sociedade em envelhecimento, as despesas públicas serão cada vez maiores em pensões, saúde, etc., e as receitas cada vez menores. Assim, o financiamento do Estado há-de ser cada vez mais problemático.
É claro o bem que representa hoje a maior longevidade, o facto de os idosos viverem mais tempo do que noutras épocas. O que é problemático não é isso; não há idosos “a mais”, porque estes são sempre uma riqueza, e nunca um peso. O que é problemático e causa desequilíbrios é que não nasçam crianças.
Afirma ainda Bento XVI na encíclica Caritas in veritate (n. 44): «A abertura moralmente responsável à vida é uma riqueza social e económica. (…) A diminuição dos nascimentos, situando-se por vezes abaixo do chamado “índice de substituição”, põe em crise também os sistemas de assistência social, aumenta os seus custos, contrai a acumulação de poupanças e, consequentemente, os recursos financeiros necessários para os investimentos, reduz a disponibilização de trabalhadores qualificados, restringe a reserva aonde ir buscar os “cérebros” para as necessidades da nação. Além disso, as famílias de pequena e, às vezes, pequeníssima dimensão correm o risco de empobrecer as relações sociais e de não garantir formas eficazes de solidariedade. São situações que apresentam sintomas de escassa confiança no futuro e de cansaço moral. Deste modo, torna-se uma necessidade social, e mesmo económica, continuar a propor às novas gerações a beleza da família e do matrimónio, a correspondência de tais instituições às exigências mais profundas do coração e da dignidade da pessoa. Nesta perspetiva, os Estados são chamados a instaurar políticas que promovam a centralidade e a integridade da família, fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, célula primeira e vital da sociedade, preocupando-se também com os seus problemas económicos e fiscais, no respeito da sua natureza relacional».
Importa não ter medo de afirmar: “Não há idosos a mais; há crianças a menos”. Se a dimensão da cruz nos acompanha e particularmente para os idosos e mais pobres que voltam a sentir as agruras de há 30 ou 40 anos, não podemos hipotecar o futuro das jovens gerações que poderão não ter uma rectaguarda que lhes dê sustentabilidade económica e, particularmente, moral.
Na Cruz do Senhor gostaria de colocar este alerta, tantas vezes lançado. A família pode ser alento no meio de tantas dificuldades. Trabalhemos para que seja o que deve ser. Os pesos das dores e sofrimentos custarão menos a carregar.
+ Jorge Ortiga, A. P.
Barcelos, 3 de Maio de 2013.
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