Arquidiocese de Braga -

11 maio 2013

O CONTRIBUTO PARA UMA NOVA EUROPA

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Homilia na Bênção de Finalistas dos estudantes universitários da cidade de Braga.

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O contributo para uma nova Europa

Homilia na Bênção de Finalistas dos estudantes universitários da cidade de Braga

Conversando com pessoas de idade ou tendo um mínimo de conhecimentos históricos, apercebemo-nos que a segunda guerra mundial provocou uma destruição quase generalizada de muitos países da Europa. Acontece que, perante os escombros produzidos por humanismos fratricidas, alguns homens ousaram pegar nesses mesmos escombros com ousadia e fazer com que se fosse construindo uma nova Europa, pois os intérpretes desta restauração estavam verdadeiramente comprometidos com os verdadeiros e autênticos valores humanos. Se os protagonistas da destruição tinham prescindido e, em muitos casos, lutando contra a pedra angular que rejeitaram (Cristo), os líderes da época inventaram a aposta e consolidaram a força da verdadeira pedra angular. Konrad Adenauer, Robert Schurmam, Alcide de Gasperi deram corpo a uma ideia duma Europa como casa comum (economia no seu sentido original), a partir de valores dum humanismo cristão. Comemoramos anteontem, 9 de Maio, o “Dia da Europa”, pois foi nesse dia que Schurman apresentou uma declaração seguida por vários países europeus. E, assim, com valores dum humanismo cristão nasceu a Europa.

Hoje poderemos correr o risco de fixar os olhos na dimensão crítica da economia e do civil esperando um milagre que salve e dê entusiasmo e vontade de viver. Sem a vertente moral e religiosa, interpretada no genuíno sentido, nunca acontecerá.

Nesta recuperação da Europa, que hoje todos desejam e esperam, seria de supor que Cristo não seja pedra ignorada ou enterrada nos destroços ou de tropeço para procura da felicidade. Ele é o sentido que importa descobrir. Em termos profissionais, não duvido minimamente que a vossa atitude é de expectativa ou, para muitos, de frustração. De facto, sabemos que se o emprego não surge, a família não se pode constituir… mas, apesar disso, desculpai a minha ousadia: nunca desistais e acreditai na esperança! Para isso, não tenhais medo de fixar os vossos olhos em Cristo e de O querer conhecer.

Com muita amizade e afecto, permiti que vos ofereça um conselho. Pode acontecer que a vossa vida esteja a ser interpretada “como se Deus não existisse”. Peço-vos, com palavras do Papa Bento XVI dirigidas ao Átrio dos Gentios, que diziam: mesmo não vos sentindo identificados com nenhuma religião, vivei “como se Deus existisse” e integrai no curriculum do vosso Diploma a vontade de agir e interagir segundo valores e parâmetros que nunca deveriam ter sido ignorados. E como é fácil descobrir a sua marginalização na vida pessoal e política.

Sabeis que o mundo para o qual fostes levados por alguma comunicação social, pelos impérios da economia, pelos critérios da publicidade… é um mundo que terminou. Não existe e não existirá mais! É preciso construir outro sobre os escombros duma cultura e civilização que já entraram nos manuais da história. Pode custar muito deixar hábitos e rotinas, mas há um mundo novo a reinventar e vós não podeis fugir dessa responsabilidade!

Tende fé e reagi, acreditai que é possível um mundo diferente! Tendes talentos e capacidades para mudar muita coisa! Peço-vos por tudo, não vos acomodeis!

Este mundo novo, ou será experiência de família nacional e internacional, ou não se coadunará com os processos de globalização que nos aproximaram de todos. Como família nacional e internacional, vivei a vida em atitude de dom e, como consequência, de gratuidade. Reaprendendo estes dois critérios, procurai no quotidiano da vossa vida conjuga-los, tornando-os visíveis para garantir o futuro da humanidade.

Não vos limiteis ao económico ou, quanto muito, dai-lhe um sentido diferente. Olhai o que diz Elena Lasida: “Vi-a (a economia) como a maior divindade e diabolizada como a pior das perversões. Associada às maiores virtudes e aos piores vícios. Representada como verdade última e como engano legítimo. Reservada ao mundo dos especialistas e utilizada, como referência incontornável, no café comercial. Incompreensível e imponente. Condição de bem-estar e terreno de guerra. Todas estas contradições atravessam o número da economia, suscitando as paixões mais extremas, tanto para segui-la como para repudiá-la.”

Na verdade, o mundo não se edificará sem a economia, mas também não se realizará só com a economia, necessita de algo diferente! Por isso, dai-lhe um rosto novo como os fundadores da Casa comum da Europa. Nem todos tendes uma especialidade nesta área. Ligai os conhecimentos e tornai a vida aberta a todas as dimensões com os vossos conhecimentos de vanguarda e pioneirismo.

Os vossos cursos dotaram-vos de ferramentas que podeis colocar no reino das expectativas. Sede corajosos e criai coisas novas, descortinando as novas necessidades deste tempo em que vivemos: é disso que o nosso Portugal precisa! Acredito que sereis capazes de o fazer!

Nesse projecto de construir um futuro diferente, podeis contar com a Igreja Católica. Ela que esteve na origem das primeiras universidades desta velha Europa. Mesmo que não vos identifiqueis com a religião cristã, sabei que a Igreja está mergulhada como ninguém na trama humana. Vede a Igreja, não como uma adversária, mas como uma companheira na viagem de edificar esse mundo diferente!

Da minha parte, enquanto Arcebispo de Braga, sabei que estou disponível para vos ouvir, animar e desafiar! Que a bênção, que ireis receber em breve, vos anime a essa missão, na certeza de que Deus estará sempre, mas sempre, do vosso lado!

+ Jorge Ortiga, A. P.

Braga, 11 de Maio de 2013.