Arquidiocese de Braga -

19 maio 2013

A FÉ UNE A COMUNHÃO E DIVERSIFICA-SE NA AÇÃO

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Homilia na peregrinação do arciprestado de Póvoa de Lanhoso à Senhora do Pilar.

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A fé une a comunhão e diversifica-se na ação

Peregrinação a Nossa Senhora do Pilar

Estamos caminhando para o fim do primeiro ano dedicado, como Igreja Arquidiocesana, à fé professada. Colocamo-nos como objetivo quanto o Papa Bento XVI exprimiu na Carta Apostólica “A porta da Fé”: “Queremos celebrar este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver.”

Fizemos uma caminhada de fé como peregrinação ao santuário de Nª Srª do Pilar. Várias motivações nos trouxeram até aqui. Gostaria de pedir à Senhora do Pilar que cada um de nós – sacerdote ou leigo – individualmente ou como membro das nossas comunidades paroquiais, aceitasse este momento para regressar a casa com um compromisso, sério e verdadeiro, de efetuar um exame de consciência. Ousar dedicar um pouco de tempo para nos colocarmos em questão, verificando se efetivamente estamos a viver o Ano da Fé duma forma digna, como aceitação duma proposta feita pelo Santo Padre, e fecunda, como suscitadora de frutos novos na vida pessoal e comunitária.

Particularmente, deve-nos interessar verificar se intensificamos ou não a nossa reflexão sobre a fé, de modo que estejamos a ser mais coerentes com o evangelho, através de convicções mais sólidas neste momento da história em tremenda mudança. É humano interpretar a vida como progresso, evolução, na certeza de que parar é regredir, instalar-se no caminho percorrido com medo da mudança da vida é aniquilar-se e impedir a alegria que seríamos capazes de experimentar e oferecer.

Se teremos de intensificar a reflexão sobre a fé, não podemos esquecer que assumimos o dever de pegar na Constituição Dogmática Lumen Gentium, não só para dizer que estamos a celebrar os 50 anos do Concílio, mas para nos interrogarmos se o seu espírito e dinamismo já chegou às nossas comunidades com aquela renovação que todos pretendem e desejam.

Se hoje celebramos a festa do Pentecostes, podemos afirmar que ela é a festa da Igreja. Nesta perspectiva, gostaria de recordar quanto a Lumen Gentium refere: “Na variedade, todos dão testemunho da admirável unidade do Corpo de Cristo, pois a própria diversidade de graças, de ministérios e de funções contribui para a unidade dos filhos de Deus, já que tudo isto, o realiza o único e mesmo Espírito, distribuindo a cada um conforme lhe apraz (1 Cor 12,11) “ (L.G. 32).

Acreditamos que há um único Espírito que generosamente distribui os seus dons a todos. A diversidade manifesta a beleza da unidade dum único corpo e só o exercício dessa mesma diversidade, de dons e serviços, constrói a unidade. A unidade constrói-se através da diversidade de serviços e, ao mesmo tempo, mostra a beleza de pertencer à mesma Igreja.

São muitas as implicações práticas e pastorais desta doutrina. Por um lado, os sacerdotes devem promover e suscitar ministérios diversificados nas comunidades. Olhando as nossas comunidades, reconhecemos que muito caminho já foi percorrido. Reconheçamos, porém, que há muito para fazer. Nem sempre os sacerdotes evangelizam neste sentido, aceitando a diversidade de pontos de vista e a complementaridade de serviços, assim como os leigos se encerram num cristianismo de mero consumo sem o sentido da responsabilidade que lhes toca, não por favor ou concessão especial dos párocos, mas por obrigação da graça baptismal, sinal da nossa identidade cristã.

Se esta única ação do Espírito – interpretada por sacerdotes e leigos – é ainda uma novidade desconhecida, não podemos deixar de reconhecer a importância de quanto o Papa Bento XVI referia: o dever de intensificar a reflexão sobre a fé. Falamos em Escolas de Fé, em Grupos de Fé e Missão, em Escola de Leigos e tantas outras realidades. Estaremos a reconhecer este trabalho como prioritário? Também aqui, sacerdotes e leigos, não podem encontrar desculpas perante tantas ofertas. O mais fácil é reconhecer que basta o que sempre se fez, mas o Espírito abre constantemente caminhos novos!

Na fidelidade ao Espírito redescobrimos a Igreja e queremos que ela testemunhe a unidade de vida e de serviços, a nível paroquial, mas sabemos que há um novo modo de agir. Não podemos desconsiderar ou colocar de lado a importância da paróquia. Todavia, a Igreja está para além das fronteiras geográficas e queremos que o Arciprestado, sempre em ligação com a Igreja Particular, ou seja a Arquidiocese de Braga, deve tornar-se um verdadeiro espaço de unidade pastoral através da comunhão transparente entre todas as paróquias, visível nos mesmos critérios e opções pastorais, e, em simultâneo, no dispor de pessoas devidamente preparadas para encarar responsabilidades que ultrapassem o âmbito da sua paróquia. O Espírito coloca-nos em consciência missionária e teremos de agir aceitando o trabalho de leigos que oferecendo a sua colaboração, convictos de que não prejudicam a comunidade própria quando se entregam à Arquidiocese, ao Arciprestado, a outras paróquias, mas a enriquecerem com a recompensa doutros colaboradores. O Concílio Vaticano II deve ser interpretado na sua integridade e isto não permite que fechemos os horizontes da vida pessoal ou comunitária.

Caríssimos sacerdotes e irmãos em Cristo, é a hora de olhar para nós e para a nossa comunidade numa perspetiva de fé que pode exigir mudanças. Quem ama a Cristo e a Igreja, quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo, sabe que o caminho ainda é muito longo!

Rezo à Senhora do Pilar pela unidade que supõe a diversidade que, por sua vez, manifesta a beleza da unidade. Ouçamos quanto Maria nos quer dizer.

Para concluir, o Santo Padre, o Papa Francisco, na audiência do dia 8 de Maio, dizia que “o homem moderno é como um viajante que, atravessando os desertos da vida, tem sede de uma água viva, borbulhante e fresca, capaz de dessedentar em profundidade o seu desejo profundo de luz, de amor, de beleza e de paz”. Acrescentava que esta “água viva” “é o “Espírito Santo”, o “grande dom de Cristo ressuscitado”, e “fonte inesgotável da vida em Deus” em cada cristão, que deve ser “uma pessoa que pensa e age segundo Deus, segundo o Espírito Santo”. E concluía: “Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, deixemos que Ele nos fale ao coração”.

Eis o que, também eu, vos quero pedir neste monte sagrado!

† Jorge Ortiga, A.P. 

19 de Maio de 2013, Póvoa de Lanhoso.