Arquidiocese de Braga -
22 maio 2014
O ÚLTIMO ADEUS AO BISPO DE TRATO FINO E DELICADO
A chuva caia intensamente do lado de fora da Sé Catedral de Braga e Alda abrigava-se debaixo das abóbadas de acesso à entrada principal, aconchegava as emoções da despedida, antes que a neta a viesse recolher. Logo que soube da notícia, no dia anterior, h
A chuva caia intensamente do lado de fora da Sé Catedral de Braga e Alda abrigava-se debaixo das abóbadas de acesso à entrada principal, aconchegava as emoções da despedida, antes que a neta a viesse recolher. Logo que soube da notícia, no dia anterior, havia vindo «de imediato» velar o Bispo Emérito de Braga. Ontem, foi dizer o último adeus ao homem «de trato fino e delicado».
Nascida aos pés da Sé Catedral, criada em convívio com o religioso e «mágico» que emana da Sacrossanta Basílica Primacial da Península Ibérica, pouco importada que se diga até que é um centro de erradiação episcopal, a sexagenária desabafa que aquela é «a nossa igrejinha», com um carinho desarmante. O mesmo carinho que havia levado ao interior do templo e depositado, em oração, aos pés da urna, momentos antes. «Somos nascidos e criados aqui na freguiesia. Vimos sempre aqui à Igreja e temos sempre um carinho muito particular aos cónegos todos que aqui passam, ao senhor Arcebispo e também ao senhor D. Eurico», justifica.
A partida de um bispo «é sempre uma coisa que nos choca, que nos entristece e que nos dá alguma comoção», descereve Alda como se, assim, justificasse a adesão dos inúmeros populares que, nos últimos dias, não quiseram deixar de render a última homenagem e dizer um último adeus ao Bispo Emérito de Braga.
A afluência popular à Sé Catedral de Braga ao longo dos últimos dois dias evidencia que «as pessoas gostavam muito dele, que lhe tinham um respeito muito grande». Maria partilha da imagem e até acrescenta que D. Eurico Dias Nogueira «transmitia uma imagem de paz e muita confiança», difícil de replicar.
Dono de «um sorriso fantástico e contagiante», o homem a quem dentro da Sé rendem as últimas exéquias fúnebres era também portador de uma lucidez de fazer inveja aos mais novos», assegura quem com ele privou de perto.
Poucos sabem, mas gostava de «amostras de pedras da terra dele» e também era «fascinado por flores» ou, ainda, que «gostava muito de frutas tropicais». O homem que não poupava na aspereza da análise, na acutilância das palavras, foi também o mesmo que transmitia «boa disposição em permanência» e era «extraordinariamente gentil». «Era efetivamente um homem de pequenos gestos e muito cuidadoso no trato», asseguram.
Túmulo de D. Eurico em campa rasa na Capela dos Arcebispos
D. Eurico Dias Nogueira foi supultado numa campa rasa, na Capela dos Arcebispos, onde estão depositados em túmulos as ossadas dos seus antecessores.
A campa está situada à entrada da Capela e nunca tinha sido utilizada. Surgiu com os últimos restauro efetuados na Sé Primacial.
«É uma sepultura destinada a todos os arcebispos que vão falecendo. Um dia, havendo falta de espaço, os restos mortais do senhor D. Eurico serão transladados para junto dos Arcebispos que já lá estão, voltando a campa a estar disponível para o Arcebispo que lhe venha a suceder naquela local», explicou o Deão da Sé, o cónego José Paulo Abreu.
O corpo de D. Eurico Dias Nogueira ficou em câmara ardente na Sé Primacial até cerca das 12h00, altura em que foi fechada a urna, na sacristia, um momento a que assistiram apenas familiares do Arcebispo Emérito.
«Entendemos que seria melhor assim, porque queríamos que a imagem do senhor D. Eurico fosse aquela imagem que ele tinha, serena, bem formada, e para evitar que essa imagem fosse desvanecida, fechámos a urna ao meio dia», disse o cónego José Paulo Abreu.
Dada a presença de um número de pessoas pouco habitual na Sé, a Missa exequial do Arcebispo Emérito e demais cerimónias fúnebres puderam ser seguidas através de duas telas gigantes colocadas nas naves laterais da Catedral.
As Vésperas (ofício de defunto) foram cantadas pelos coros do Seminário Maior e do Seminário Menor. Terminada a cerimónia, foi feita última encomendação, no claustro de S. Amaro.
Todos os bispos portugueses, excepto o de Évora, D. José Francisco Sanches Alves, vieram a Braga, nos últimos dois dias, para a derradeira despedida a D. Eurico Dias Nogueira. O Arcebispo de Évora justificou a ausência com compromissos que já havia assumido.
«Tivémos uma demostração forte de colegiadidade do nosso episcopado em torno desta grande figura da Igreja portuguesa», assinalou o deão e vigário-Geral da Arquidiocese de Braga.
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