Arquidiocese de Braga -

8 fevereiro 2016

Memória descritiva do logótipo

Fotografia
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O Departamento Arquidiocesano da Pastoral da Saúde (DAPS), integrado na orgânica da Comissão Arquidiocesana da Pastoral Social e da Mobilidade, é o organismo da Igreja de Braga que exprime a solicitude e o compromisso da Igreja local com os mais frágeis, os que sofrem e quantos os cuidam. Por outro lado, faz parte da sua missão trabalhar pela inclusão social e eclesial, coordenar o diálogo entre as Instituições sócio-sanitárias católicas, suscitar o debate antropológico e cultural sólido, promover a reflexão bioética e a espiritualidade cristã e despertar nas comunidades a responsabilidade pela saúde, pelos doentes e pela obra da criação. No seu alcance mais profundo o DAPS pretende ser um serviço que assume a fragilidade (e os mais frágeis) como brecha do divino e para o divino.   

O logótipo que condensa a identidade do DAPS é formado por quatro elementos essenciais: cálice, chama, gota e duas pessoas. O cálice – ao centro - é tosco e em forma de tigela; a chama encima o cálice e é esventrada por uma gota; as pessoas nascem e sobem ambas do cálice, estão em desequilíbrio, não têm sinais identificativos culturais, têm somente um braço completo e, esse, erguem-no para a chama. As cores utilizadas (ou a sua ausência) evidenciam o sangue-memória (avermelhado), a dignidade-filiação (dourado), o amor-dom (amarelo-fogo) e o sofrimento-fraternidade (incolor). Lateralmente ao logótipo surge a descrição “Arquidiocese de Braga” e “Pastoral da Saúde”.

Na elaboração do logótipo houve essencialmente o propósito de salientar a especificidade da missão do DAPS, integrando elementos iconográficos essencialmente bíblicos:

a) Cálice: deriva do latim “calix” que significa tigela. É a antítese do possessivo e a metáfora do “excesso do dom”. Esta tigela, típica das refeições judaicas – ação religiosa por excelência que abria na materialidade a brecha do divino, revelando a sua profunda identidade interior -, é o único objecto explicitamente referido no relato neo-testamentário da instituição da Eucaristia. O cálice era sustentado com as duas mãos e continha vinho, símbolo da vida, do gratuito e da alegria. Por numerosas vezes é referido este objecto quer no Antigo como no Novo Testamentos, sinalizando também a cólera e a ira, a alegria ou o sofrimento. No contexto da liturgia judaica (doméstica) a tigela com vinho abria e concluía a celebração do sábado judaico (shabbat); havia ainda o “cálice de bênção” sobre o qual se pronunciava a bênção, no fim das refeições, e que, na Ceia Pascal, correspondia à terceira taça da qual todos bebiam depois de terem comido o cordeiro pascal. 

No cristianismo foi assumido como o objeto-símbolo litúrgico que recolhe o sangue de Cristo, vertido no ato de doação da Sua vida no mistério pascal e dado hoje a beber em Sua memória, na Eucaristia, como nova e eterna Aliança, anunciando a Sua morte até que Ele venha. Beber do cálice significa, portanto, abertura ao dom total, reconciliação, entrada em comunhão de vida e participação na missão. 

b) Chama: Nas teofanias bíblicas (manifestações de Deus) nunca falta a emanação do fogo representada, por exemplo, na sarça que ardia no Horeb, na coluna que conduzia o povo durante a noite no deserto ou nas línguas do Pentecostes. A chama de fogo faz ainda referência à purificação operada por Deus no julgamento escatológico, ao amor dos esposos, à Palavra de Deus na boca do profeta e aos sacrifícios cultuais do Antigo Testamento. Na primeira bênção da manhã da liturgia judaica louva-se Deus pelo dom da luz e durante o sábado judaico permanecem sempre acesas as velas.

 A teofania por excelência foi, contudo, Jesus: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa, resplandeceu a luz”. “O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina”. Por isso, o fogo está associado à luz da fé, ao Espírito Santo e ao sacramento do Batismo, espelhado de modo evidente no lucernário da Vigília Pascal. A chama de fogo (inapreensível) destrói, purifica, ilumina, aquece, metáforas do amor e da recriação em Deus e do sacramento da reconciliação.

Gota: quando formada por água traduz o princípio vital, a criação; pode também significar a fragilidade da lágrima vertida nas emoções fortes, particularmente no sofrimento, a autenticidade e a força. Biblicamente, a água é dádiva de Deus,o sinal da recriação, do Batismo, do lado aberto de Cristo, da promessa escatológica, da plenitude da revelação em Cristo e do serviço humilde aos irmãos. 

Quando formada por azeite, pode referir-se às qualidades medicinais, à vocação messiânica de Jesus, ao rito sagrado da unção dos doentes, ao símbolo da riqueza e abundância da era messiânica, sinal de fortaleza e consagração a Deus, sobretudo do Rei e do Sumo Sacerdote. Curiosamente o lugar-berço do mistério pascal de Cristo situa-se no Getsémani – Lagar de Azeite – situado no Monte das Oliveiras.  

A gota quer seja formada por água ou por azeite está intimamente ligada aos sacramento.

Pessoas: “Eu bem vi a opressão do meu povo... ouvi o seu clamor... conheço, na verdade, os seus sofrimentos... Desci a fim de o libertar... vai; Eu te envio... faz sair... os filhos de Israel”. A revelação bíblica vetero-testamentária é a tradução da experiência de libertação do povo de Israel de uma posição de escravatura para uma situação nova de homens livres operada pela mão de Deus. Não é, por isso, uma conclusão teórica mas o fruto de uma experiência prática da proximidade de Deus e de uma Aliança firmada entre Deus e o povo de Israel. 

Deus falou de muitos modos, fez alianças, mas no hoje da história “o Verbo encarnou e habitou entre nós”. À luz da encarnação de Deus em Jesus Cristo, a condição humana é elevada, finalmente, ao seu nível mais profundo e inigualável. Neste contexto, todas as pessoas e a pessoa toda é não só destinatária do projeto de Deus – ser à imagem e semelhança de Deus – como também espaço da presença de Deus e o serviço à pessoa - independentemente da sua origem, idade, condição social ou de saúde - é a prova do amor a Deus. Desta comunhão de Deus com os crentes e do estatuto de filhos em Jesus Cristo, nasce a comunidade, a assembleia cristã, que encontra na participação do Corpo e Sangue de Cristo, a sua origem e a sua finalidade. Por isso, a Eucaristia, sacramento da caridade, além de ser banquete, convida os cristãos a viver a comunhão eucarística em comunidades de vida e de amor, também através de alianças concretas entre pessoas (Matrimónio).