Arquidiocese de Braga -

16 abril 2016

Quarto Domingo de Páscoa (Ano C)

Fotografia

Carlos Nuno Salgado Vaz

Domingo do Bom Pastor.

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É também o 53.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, instituído pelo beato Paulo VI com a radiomensagem de 11 de abril de 1964. O evangelho é extraído do capítulo décimo de São João (versículos 27 a 30). É conhecido como o domingo do Bom Pastor. No original grego é dito o «Belo Pastor», não naturalmente no sentido de beleza física, mas de entrega total da vida pelo rebanho, todos os fiéis.

O ambiente de todo o capítulo décimo é o da festa da Dedicação do Templo em 164 antes de Cristo, depois das profanações do iníquo Antíoco Epífanes. A festa durava oito dias. Nela se acendia um candelabro de oito braços, mas em que se acendia apenas uma luz por dia, depois do pôr do sol, aumentando progressivamente até estarem acesas as oito luzes. E acrescenta D. António Couto que, ao contrário das luzes do candelabro de sete braços e do sábado, que alumiam o interior do santuário e da casa de família, as luzes do candelabro da Dedicação devem ser vistas de fora, isto é, devem alumiar o ambiente social, político, comercial e cultural. E o acendimento progressivo ao longo dos oito dias está a simbolizar que, quando as condições são adversas (no caso, o paganismo helenista e escuro), não basta acender uma luz e mantê-la; é preciso aumentar constantemente a luz...Mais luz! Mais luz! Mais Luz!

O bispo de Lamego acrescenta: «Como este simbolismo é importante para os dias de hoje! Está escuro cá dentro e lá fora; o mundo parece desconstruir-se, o paganismo é galopante! Mais do que nunca, é preciso, portanto, não apenas manter a luz, mas aumentá-la progressivamente». E isto está em perfeita sintonia com este Dia Mundial de Oração pelas Vocações, sendo que o problema maior não é a falta de vocações sacerdotais, mas a passividade dos leigos (Atilano Alaiz, «El don de la Palabra, Ciclo C», 107), que tem expressões ainda mais duras: «A Igreja é um grande corpo paraplégico em que a cabeça é tudo. Por isso alguém disse com razão que os leigos passaram de 'um povo de sacerdotes' para um povo 'dos sacerdotes'. Ora esse não é de maneira alguma o projeto de Jesus, nem o que nos quer dizer a alegoria do bom pastor». Por isso mesmo, citando Gabriel Marcel, afirma que, na vida, há apenas uma dor: 'estar só'. É por isso que a comunidade é, sem dúvida, o lugar da alegria, porque no meio dela habita o Senhor. Por isso, acrescenta Enzo Bianchi: «se o ministério dos sacerdotes não for vivido como a relação quotidiana de quem está no meio da comunidade, eles acabarão por se tornar funcionários (Lucas 22, 27)». O famoso Prior de Böse acrescenta que, infelizmente, isso acontece cada vez mais na Igreja: «e assim as ovelhas, os crentes, sentem-se cada vez mais organizados em rebanho, empenhados nos mais variados serviços, tratados como 'militantes', mas, na realidade, sofrem de falta de relação e de comunicação com o pastor. É que toda a relação autêntica se alimenta, antes de mais, de presença; depois, de escuta, comunicação, amor, cuidado e dedicação, até ao dom da vida. A pastoral tem de ser vivida com estas atitudes, se não se quer que se vá tornando mera burocracia, um empenho de funcionários».

Se, pelo contrário, o pastor tiver com as ovelhas, os fiéis, uma relação vivida e ensinada pelo 'Pastor grande das ovelhas' (Hebreus 13, 20), então Ele será capaz de lhes abrir a relação com Deus, aquele que o quis como pastor à imagem de Jesus.

Pai e Filho são uma única Realidade

Diz-nos ainda o evangelho que há uma maravilhosa comunhão entre este Bom e Belo Pastor, que é o Filho, e o Pai. A propósito, comenta D. António Couto: «Texto imenso e intenso, de grande alcance trinitário: 'Eu e o Pai uma Realidade somos'. Deixem-me pôr aqui o texto grego: egò kaì ho patêr hén esmen. O verbo está no plural: somos. Junta 'Eu' e 'o Pai', duas Pessoas. O predicativo, porém, não está na forma masculina, mas na forma neutra: uma Realidade (hén). Donde: o Filho e o Pai não são uma só pessoa, mas são uma única Realidade... uma única substância, como diziam bem os Padres gregos». Aqui temos o insondável amor de Deus, a admirável comunhão de três Pessoas iguais, mas distintas, Vida plena e Verdadeira, a nós acessível por graça! Basta para isso que conheçamos, escutemos e sigamos o Bom e Belo Pastor. É Ele que dá a vida eterna, a plenitude de vida que se inicia aqui e que terá a sua culminação em Deus. É uma plenitude, assim o acreditamos, que ultrapassa e trespassa as fronteiras da morte e nos faz sentir confiados e vitoriosos em Jesus, Bom e Belo Pastor que, dando a sua vida pelos homens, foi ressuscitado e glorificado pelo Pai.

A declaração de Jesus de que Ele e o Pai uma Realidade são, é uma declaração de salvação para todas as criaturas. Sim, porque debaixo de tudo o que existe há um Grande Espírito que junta e vivifica tudo. É como se falássemos da relação entre a fonte e o rio. A fonte não é o rio, e o rio não é a fonte. A fonte gerou o rio. Podemos distinguir entre os dois, mas só podem existir juntos. Onde há uma fonte, há também um rio. O rio não é a origem, mas a sua água é a mesma. O Filho não é o Pai, mas é da mesma natureza, tal como a água da fonte e a do rio são a mesma água (cf. Pedro Olalde, «Palabra interpelante, Ciclo C», 108).

Os sacerdotes servem para nos ajudarem a sermos conscientes de que estamos guardados na mão de Jesus Cristo, o qual nos quer colocar na mão de Deus, da qual nada nem ninguém nos pode arrancar.