Arquidiocese de Braga -
7 agosto 2016
A alegria do amor - 16
Carlos Nuno Salgado Vaz
A educação envolve a tarefa de promover liberdades responsáveis.
O capítulo sétimo da «Alegria do amor» tem como título: «Reforçar a educação dos filhos». O papa Francisco enfatiza a importância da função educativa das famílias, tanto mais que a educação se tornou muito complexa. Mas a família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento e guia dos filhos, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos.
Precisa ainda de saber a que realidade quer expor os seus filhos, quem lhes oferece diversão e entretenimento, quem entra em sua sua casa através dos écrans, a quem os entrega para que os guie nos tempos livres.
A obsessão não é educativa
«Só os momentos que passamos com eles, falando com simplicidade e carinho das coisas importantes, e as possibilidades sadias que criamos para ocuparem o seu tempo permitirão evitar uma nociva invasão.
Sempre faz falta vigilância; o abandono nunca é sadio. Os pais devem orientar e alertar as crianças e os adolescentes para saberem enfrentar situações onde possa haver risco, por exemplo, de agressões, abuso ou consumo de droga» (número 260).
Uma coisa é certa: a obsessão não é educativa, e também não é possível controlar todas as situações onde um filho poderá chegar a encontrar-se.
E Francisco socorre-se de um aforisma que lhe é muito caro e que é preciso entender bem: «o tempo é superior ao espaço». Quer com isto dizer o Papa que, mais importante que saber, a cada instante, em que local se encontra um filho, que espaços está a frequentar, é saber gerar no filho «com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia».
Só com a assimilação destes processos o filho terá em si mesmo «os elementos de que precisa para saber defender-se e agir com inteligência e cautela em circunstâncias difíceis».
Por isso é que a grande questão é que os pais compreendam onde, no seu caminhar, se encontram os filhos. Onde está realmente a sua alma. Mais importante ainda é saber se os pais querem realmente saber o que de verdade pensam, sentem e vivem os seus filhos (261).
A prudência, o reto juízo, a sensatez
Aquilo que mais importa na educação: a prudência, o reto juízo, a sensatez não dependem de fatores puramente quantitativos de crescimento, «mas de toda uma cadeia de elementos que se sintetizam no íntimo da pessoa, no centro da sua liberdade».
Por isso mesmo, é inevitável «que cada filho nos surpreenda com os projetos que brotam desta liberdade, que rompa os nossos esquemas. E é bom que isto aconteça.
A educação envolve a tarefa de promover liberdades responsáveis que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência; pessoas que compreendam sem reservas que a sua vida e a vida da sua comunidade estão nas suas mãos e que esta liberdade é um dom imenso» (262).
Escola
A escola é indispensável para a parte instrutiva da educação para a vida ativa e também social, mas os pais nunca podem delegar totalmente a formação moral dos seus filhos.
«O desenvolvimento afetivo e ético de uma pessoa requer uma experiência fundamental: crer que os próprios pais são dignos de confiança. Isto constitui uma responsabilidade educativa: com o carinho e o testemunho, gerar confiança nos filhos, inspirar-lhes um respeito amoroso». Porque, «quando um filho deixa de sentir que é precioso para seus pais, ou deixa de notar que nutrem uma sincera preocupação por ele, isto cria feridas profundas que causam muitas dificuldades no seu amadurecimento. Esta ausência, este abandono afetivo provoca um sentimento mais profunda do que a eventual correção recebida por uma má ações» (263).
Educar a vontade
É tarefa dos pais educar a vontade do filho, desenvolver nele hábitos bons e tendências afetivas para o bem. Para que tal aconteça, é preciso que se apresentem como desejáveis os comportamentos a aprender e as tendências a fazer amadurecer. Trata-se sempre de um processo, que vai da imperfeição para uma plenitude maior.
«O desejo de se adaptar à sociedade ou o hábito de renunciar a uma satisfação imediata para se adequar a uma norma e garantir uma boa convivência já é, em si mesmo, um valor inicial que cria disposições para se elevar depois, rumo a valores mais altos».
A formação moral deveria realizar-se sempre com métodos activos e com um diálogo educativo que integre a sensibilidade e a linguagem própria dos filhos. E deve ser o filho a descobrir por si a importância de determinados valores, princípios e normas, e não a olhá-los como uma imposição de verdades indiscutíveis (264).
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