Arquidiocese de Braga -

17 janeiro 2019

Carta póstuma a um amigo

Fotografia

Mensagem do Cónego João Aguiar Campos

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Caro Fernando,

É costume as cartas começarem por votos de bem-estar. Esta não começa assim, pois estou absolutamente seguro de que estás bem. Muito bem!…

Também não pretendo dar-te notícias — outra das finalidades das cartas. Ou dizer agora, numa espécie de rebate tardio, alguma coisa que tenha deixado por dizer…

Felizmente, Fernando, amizade e gratidão; fraternidade sacerdotal e votos de entusiasmo, tudo foi dito a tempo e horas. E até — igualmente a tempo e horas — pude receber o conforto da tua bênção.

Foi há semanas, junto à lareira onde descansavas rodeado de ímpar carinho familiar, que ajoelhei a teus pés. O teu sorriso escorregou da sombra da boina, enquanto a tua mão parou na cabeça que poisei nos teus joelhos. A paz que me inundou ninguém a conhece; eu próprio tenho, aliás, dificuldade em dizê-la de modo que se entenda.

Esta carta não é, pois, fundamentalmente para ti, Fernando. É para mim e para quantos têm o direito de saber da alegria do teu sacerdócio, da dignidade do teu serviço, da coragem das tuas lutas, da justeza dos teus sonhos e do sacrifício das tuas insónias.

Muitos não sabem que, fragilizado, tudo fazias para não faltar ao encontro de amigos da última quinta-feira de cada mês. Ali, com voz cada vez mais difícil e meiga, partilhavas esperanças, fazias contas, confidenciavas dificuldades.

A voz não tinha, é certo, o mesmo poder e timbre das reuniões em que discutimos o futuro do “Diário do Minho” (jornal e gráfica); mas tinha o mesmo poder sedutor de convicção e o mesmo sentido de Igreja. Tal e qual o revelado nas paróquias que curaste ou nas iniciativas sociais que empreendeste.

Amigo, desculpa não escrever mais; mas aceita um pedido: fala de nós — dos teus amigos e da tua igreja arquidiocesana — ao Deus do Amor. A quem agradecemos este tempo de empréstimo que nos concedeu, para nos edificares.

Um abraço
João (Aguiar Campos)