Arquidiocese de Braga -
3 janeiro 2020
Palavra de Vida – janeiro 2020
Balasar (Santa Eulália)
“Trataram-nos com invulgar
humanidade” (At
28, 2)
Duzentos e
setenta e seis náufragos chegam à costa de uma ilha do Mediterrâneo, depois de
duas semanas à deriva. Estão encharcados, esgotados, aterrorizados:
experimentaram a impotência perante as forças da natureza e sentiram-se perto
da morte.
Entre eles, está
um prisioneiro com destino a Roma, para ser julgado pelo Imperador.
Sim, porque esta
crónica não saiu de um noticiário da atualidade, mas é a narração de uma
experiência do apóstolo Paulo, conduzido a Roma para coroar a sua missão de
evangelização, através do testemunho do martírio.
Ele, sustentado
pela sua fé inabalável na Providência, apesar da condição de prisioneiro,
conseguiu dar alento aos outros companheiros de infortúnio, até desembarcarem
numa praia de Malta.
Ali, os
habitantes vêm ao encontro deles, acolhem-nos ao redor duma grande fogueira
para restaurarem as forças e, depois, cuidam deles. Passados três meses, no
final do inverno, dão-lhes o necessário para continuar a viagem em segurança.
“Trataram-nos com invulgar humanidade”
Paulo e os
outros náufragos experimentam a humanidade calorosa e concreta daquela
população que ainda não tinha sido tocada pela luz do Evangelho. É um acolhimento
que não é apressado nem impessoal, mas que sabe pôr-se ao serviço do hóspede,
sem preconceitos culturais, religiosos ou sociais. Para o fazer, é
indispensável o envolvimento pessoal e de toda a comunidade.
A capacidade de
acolher o outro faz parte do ADN de qualquer pessoa, como criatura que traz
gravada em si a imagem do Pai misericordioso, mesmo quando a fé cristã não foi
ainda acesa ou esmoreceu. É uma lei inscrita no coração humano, que a Palavra
de Deus ilumina e valoriza, desde Abraão até à surpreendente revelação de
Jesus: «Era estrangeiro e acolhestes-me».
O próprio Senhor
oferece-nos a força da sua graça, para que a nossa vontade frágil chegue à
plenitude do amor cristão.
Com esta
experiência, Paulo ensina-nos também a confiar na intervenção providencial de
Deus, a reconhecer e a apreciar o bem recebido através do amor concreto de
tantos que se cruzam no nosso caminho.
“Trataram-nos com invulgar humanidade”
Este versículo
do Livro dos Atos dos Apóstolos foi proposto por cristãos de várias Igrejas da
ilha de Malta, como tema para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de
2020.
Estas
comunidades promovem, juntas, numerosas iniciativas em favor dos pobres e dos
imigrantes: distribuição de alimentos, de roupas e de brinquedos para as
crianças, bem como aulas de língua inglesa para facilitar a inserção social. O
intuito é de reforçar esta capacidade de acolhimento, mas também de alimentar a
comunhão entre cristãos de várias Igrejas, para testemunhar a única fé.
E nós, como é
que testemunhamos aos irmãos o amor de Deus? Como é que contribuímos para a
construção de famílias unidas, cidades solidárias, comunidades sociais
verdadeiramente humanas?
Chiara Lubich
sugere-nos o seguinte:
«Jesus
demonstrou-nos que amar significa acolher o outro como ele é, da mesma maneira
como Ele acolheu cada um de nós. Acolher o outro, com os seus gostos, as suas
ideias, os seus defeitos, a sua diferença. […] Dar-lhe espaço dentro de nós,
libertando o nosso coração de todo e qualquer preconceito, juízo ou instinto de
rejeição. […] A maior glória que damos a Deus é quando nos esforçamos por
aceitar o nosso próximo, porque é assim que lançamos as bases da comunhão
fraterna. E nada dá tanta alegria a Deus como a verdadeira unidade entre os
homens. A unidade atrai a presença de Jesus para o meio de nós e a Sua presença
transforma tudo. Aproximemo-nos, então, de cada próximo com este desejo de o
acolher com todo o coração e de estabelecer com ele, mais cedo ou mais tarde, o
amor recíproco».
Letizia Magri
1) Cf. Gn 18,
1-16; 2) Cf. Mt 25, 35; 3) A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos
celebra-se todos os anos, no hemisfério norte de 18 a 25 de janeiro e no
hemisfério sul entre a festa da Ascenção e o Pentecostes;
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