Arquidiocese de Braga -

11 novembro 2020

Missionários alertam para “situação catastrófica” em Cabo Delgado

Fotografia Lusa

DACS com Fundação AIS/Agência Ecclesia/Público

Situação que dura há três anos tem vindo a piorar, com aumento de mortes, destruição e de pessoas em fuga.

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A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) deu esta quarta-feira conta de testemunhos de missionários católicos que alertam que a “situação está catastrófica” em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, com “muitas mortes, pessoas decapitadas, pessoas raptadas” e em fuga dos ataques armados.

“Nas aldeias não há mais ninguém. Todos têm medo e eles [grupos que reivindicam pertencer ao Daesh] estão muito violentos nestes ataques. As pessoas estão ou no mato ou já conseguiram chegar a alguma cidade. Há muitas mortes, pessoas decapitadas, pessoas raptadas”, disse o padre Edegard Júnior, missionário brasileiro de 60 anos, neste momento em Pemba. 

“A aldeia onde nós moramos chama-se Muambula e foi atacada no dia 30 de Outubro. Os insurgentes continuam lá, já passa de dez dias, eles dominam essa região e estão a queimar muitas casas, há muita gente assassinada”, afirma o sacerdote. A aldeia já tinha sido atacada no dia 7 de Abril.

O sacerdote da Congregação de La Salette, localizada em Muidumbe, lembra que este é um “sofrimento que dura há três anos” e praticamente toda a zona de Cabo Delgado está afectada, um cenário “desolador” em que a excepção é a cidade de Mueda, onde o exército moçambicano tem um aquartelamento.

Segundo a Polícia moçambicana, “mais de 50 pessoas” foram sequestradas e decapitadas na aldeia de Muatide. O portal Pinnacle News, de Moçambique, referia na semana passada centenas de decapitações no Campo de Futebol de Madjedje, em Muidumbe, explicando que já no dia 5 de Novembro cerca de 40 decapitações.

De acordo com jornal do Vaticano ‘Osservatore Romano’, pelo menos vinte corpos decapitados, de cinco adultos e quinze adolescentes, foram encontrados esta segunda-feira nas florestas do distrito de Muidumbe.

O comandante-geral da polícia moçambicana, Bernardino Rafael, afirmou que os jihadistas mataram 270 pessoas nos distritos de Cabo Delgado afectados pelo terrorismo ao longo dos últimos três meses.

Numa conferência de imprensa na segunda-feira, o responsável descreveu uma série de ataques que começou no final de Outubro e durou vários dias, atingindo primeiro 11 aldeias do distrito de Muidumbe e depois povoações da região de Macomia.

Bernardino Rafael explicou que os grupos armados queimaram as casas e depois foram atrás da população que tinha fugido para a mata e começaram com as suas acções macabras”, raptando várias mulheres e crianças.

Segundo um relatório divulgado pela Amnistia Internacional em Outubro, a violência em Cabo Delgado já provocou mais de 300 mil deslocados internos. Há 712 mil moçambicanos a precisarem de ajuda humanitária.