Arquidiocese de Braga -

20 maio 2021

Uma Igreja bem-aventurada

Fotografia Lusa

Comunicado do Conselho Permanente do Conselho Presbiteral de Braga.

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Uma Igreja em dia de Sábado Santo foi a imagem sugerida pelo P. Carlos Carneiro, sj ao dirigir-se ao Conselho Presbiteral de Braga, reunido em sessão ordinária no passado dia 18. Tendo presente três coordenadas do tempo actual – a pandemia, a espera de um novo Arcebispo e lema do próximo ano pastoral: “Onde há amor nascem gestos” –, o sacerdote jesuíta desafiou os padres da Arquidiocese a saberem ler em chave espiritual o tempo que nos é dado a viver. O Sábado Santo é experiência de desassossego. Sem dominar o futuro e inseguros no presente, tempo de espera e de esperança, estamos hoje, como os apóstolos, em situação de Vésperas. 

Glosando as bem-aventuranças, o P. Carlos deixou oito pontos de proclamação/profecia evangélica sobre a hora que vivemos como Igreja diocesana (ver em baixo).

Os membros do Conselho Presbiteral tiveram ainda a oportunidade de reflectir sobre a Nota Pastoral do Sr. Arcebispo, “Sacramento da reconciliação em tempo de pandemia” (de 7 de Março de 2021), e sobre o modo como têm sido vividas as celebrações comunitárias com absolvição simultânea ou colectiva, para as quais tinha sido dada uma autorização genérica até ao dia de Pentecostes de 2021. Sublinhando o inigualável valor do encontro pessoa-a-pessoa e, portanto, da celebração do sacramento da reconciliação com absolvição individual e a necessidade de sempre propor esta forma a todos os fiéis, particularmente na iniciação de crianças e adolescentes, o Conselho propôs ao Sr. Arcebispo a possibilidade de estender, por mais alguns meses, o prazo para a referida autorização genérica, tendo em conta o contexto de pandemia que continuamos a viver. 

O Conselho foi ainda informado da jornada de formação sobre a protecção de menores e adultos vulneráveis, que vai decorrer no dia 1 de Junho, terça-feira, das 10h às 17 horas, em Braga, no Espaço Vita. O encontro tem como destinatários os padres, tendo como tema: Por Comunidades Sãs e Seguras. Será orientado pelo Padre Hans Zollner, jesuíta, membro da Comissão Pontifícia para a Protecção de Menores desde a sua criação em 2014 e presidente do Centro de Protecção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana. 

Além de uma apresentação sumária das contas da Arquidiocese relativas ao ano de 2020, foram também abordadas as condições para a realização de peregrinações, procissões e outras celebrações religiosas com grande afluência de pessoas, tendo sido dadas as indicações já publicadas.

“A prioridade das prioridades da renovação eclesial reside na espiritualidade, de todos e de cada um dos seus interpretes e do todo das comunidades que terão de ser espaços de encontro com Deus e testemunho dessa união vital a acontecer em todas as suas atividades”, foi o desafio do Sr. Arcebispo na sua intervenção inicial. Falando da “renovação inadiável da Igreja”, apontou três documentos recentes da Conferência Episcopal Portuguesa como pistas concretas para que tal aconteça: 

- sobre o Diaconado Permanente, aprovado na última assembleia plenária dos bispos de Portugal. 

-  “Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crianças e com os adolescentes”. 

- novos caminhos para os ministérios da Igreja. 

Estes dois últimos textos são instrumento de trabalho, estão em fase de discussão e amadurecimento, e serão disponibilizados na página da Arquidiocese. Serão dadas orientações para o seu estudo, que, em primeiro lugar, deve ser pessoal e, depois, deverá acontecer em diferentes espaços sinodais.

 

Bem-aventurada Diocese de Braga

1. Bem-aventurada Diocese de Braga que se entende a si mesma como uma família que sabe olhar, cuidar e acolher. Uma diocese que faz da arte da hospitalidade uma forma concreta de servir e de amar, que não espera que a procurem para se por a caminho, que se enche de compaixão e sabe-se convocada para ser samaritana, que tem as portas abertas, que sabe ouvir e conversar com cada um, que não se inibe de propor o Evangelho e nele encontra a força da sua credibilidade intelectual e coerência moral, que é criadora da alegria e da beleza, que dá sentido e horizonte a quem vive em procura. 

2. Bem-aventurada Diocese de Braga que forma os seus sacerdotes para a verdadeira liberdade, ordenando-os na máxima exigência da verdade. Uma diocese de sacerdotes, pecadores e santos, que na misericórdia exercem a liberdade de Deus, sacerdotes que não precisam de fazer do poder a sua forma de respirar ou de mostrar o seu valor, sacerdotes que são a imagem de uma Diocese integra que estabelece laços fortes sem dominar, sacerdotes-irmãos que vivem entre si a fraternidade e se tornam aliados, amigos e na sua união, testemunhas da ressurreição. 

3. Bem-aventurada Diocese de Braga que se sente chamada a ser mais despojada, mais pobre, à maneira de Jesus para saber acolher a todos, com o cuidado de incluir os mais pobres, que não quer deixar ficar ninguém para trás, que tem nas pessoas a sua maior riqueza e os eu maior desafio. 

4. Bem-aventurada a Diocese de Braga, igreja profética que se estrutura para os novos tempos que no Espírito se espera, que nasceu para salvar e não para condenar o mundo, que sabe corrigir sem ofender, que valoriza todos os gestos e sinais de amor gratuito e combate o analfabetismo dos afetos, que não desiste de esperar.  

5. Bem-aventurada a Diocese de Braga que faz da Palavra de Deus a sua própria palavra, que conhece e sabe falar aos homens do nosso tempo, que pratica a arte da mútua confiança, que sabe ver e ouvir a voz que grita no povo de Deus, que sabe ouvir os mais novos e os mais velhos, que está presente nos momentos mais marcantes mas também nas pequenas decisões de cada dia, que não precisa de ser “á moda antiga” para ser fiel e fecunda, que sabe ser serena e atravessar as crises sem se desfazer por elas.

6. Bem-aventurada a Diocese de Braga que se renova partir da Sagrada Liturgia, que se parte e oferece a cada um como se parte o pão de Deus no altar, que não exclui ninguém da mesa, que não confunde a eternidade com o tempo, o essencial com o secundário, a Tradição com as tradições, que não a reduz a um espetáculo de memória de um passado morto nem a atropela numa estética da post modernidade, que sofre com os “ausentes” e que não desiste de ser Igreja “fora de portas”, em saída e viver em comunhão com todos.

7. Bem aventurada a Diocese de Braga que não é ávida de sucessos e de resultados extraordinários, que sendo estratégica e planificada acredita que os meios espirituais são sempre mais eficazes do que os meios humanos, que sabe crescer e diminuir como a semente lançada á terra, que não tem medo de existir no meio do mundo como sinal escatológico, que não vê na cultura, na ciência, na tecnologia ou no desenvolvimento uma ameaça ao anuncio do reino, ao seu lugar e à sua missão. 

8. Bem-aventurada a Diocese de Braga que, tal como o mundo em tempos de pandemia vive o seu processo pascal, que sabe morrer para ressuscitar, que não existe para se conservar a si mesma, que faz da esperança o seu fermento, que agradece reconhecidamente o mandato do Sr. D. Jorge Ortiga e cada um dos seus pastores, que se prepara com brio e determinação, para acolher, obedecer e colaborar com o novo Pastor-Arcebispo que virá, “desarmado” e pronto para servir.