Arquidiocese de Braga -

26 julho 2021

Morreu Dino Impagliazzo: uma vida dedicada aos pobres

Fotografia DR

DACS com Vatican News

A cidade e quantos o conheceram unem-se à família do fundador da RomAmor, uma organização sem fins lucrativos que, com os seus voluntários, fornece refeições diárias a mais de 250 pessoas, entre pobres e sem-abrigo, nas ruas da capital.

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Originário da Sardenha, era conhecido na capital como o “chef dos pobres”. Já em 2018 recebeu o prestigiado “Prémio Internacional de Cartago 2.0” na categoria “Solidariedade”. O prémio é atribuído a todos aqueles que contribuíram em Itália e no estrangeiro para a divulgação da cultura e do conhecimento em vários sectores.

Em 2016 conheceu o Papa Francisco na Vila pela Terra em Villa Borghese, e levou ao Pontífice uma saudação de todos os sem-abrigo de Roma. Dino deixa uma família de quatro filhos, entre eles Marco Impagliazzo, presidente da Comunidade de Sant'Egídio, mas acima de tudo deixa um precioso legado na Itália e no mundo, a herança do Evangelho vivida nas palavras de Jesus: “Tudo o que fizeste a estes pequeninos, a mim fizeste”.

 

De Roma para o mundo para servir os outros

Quando o Papa Francisco diz que “quem não reconhece os pobres trai Jesus”, ou que não nos devemos deixar “contaminar pela indiferença”, fala também da vida de Dino que, diante de uma pessoa necessitada na rua ou na prisão, uma pessoa solitária ou em dificuldades, uma vítima de um terramoto, um sem-abrigo que o procurava pedindo ajuda, nunca disse não, nunca se afastou, confiando plenamente na divina Providência.

Na verdade, a faísca que acendeu o seu RomAmoR Onlus – que nasceu com o nome de “Aqueles do bairro”, com a preparação nas casas de tudo o quanto era necessário e que tem hoje 300 voluntários e fornece refeições a mais de 250 pessoas – acendeu-se após o pedido de uma sandes vindo de um homem pobre há muitos anos.

A partir daí, as sandes passaram a ser dezenas, depois centenas e depressa se converteram em pratos quentes, sopas e salada de frutas para um número infinito de pessoas. Tudo graças a uma rede de solidariedade que também chegou ao exterior, mas que partiu da família e envolveu o condomínio, o bairro e depois a cidade com os seus lojistas, supermercados, mercados locais, organizações que fornecem sobras de comida e muitas pessoas comuns, guiadas – contagiadas, na verdade – por Dino e pelo seu compromisso para que “Roma se torne uma cidade hospitaleira onde todos se amam”, como gostava de repetir.

Mas o amor não tem fronteiras e, por isso mesmo, antes da RomAmor, Dino colaborou com Madre Teresa de Calcutá na Roménia e no Leste Europeu. Com ele, a sua família e filhos, que educou para “saírem” e tecerem relações de fraternidade com o mundo inteiro.

 

Doar amor dá sempre dá frutos

Ao lado de Dino, desde o início da sua aventura com os mais necessitados esteve, como tantos outros, Gina Riccio, que hoje recorda e conta o que significaram esses anos juntos.

“Tive a honra de conhecer e encontrar o olhar amoroso com que Dino começou a ajudar os sem-abrigo da Estação Tuscolana. Ele inundou-nos a todos com o seu espírito”, diz, com grande emoção.

À questão sobre qual o legado que Dino deixa, afirma: é “a arte de amar, a arte das pequenas coisas, de acompanhar os descartados”. Extraordinário ter morrido precisamente no Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, enquanto o Papa mais uma vez proclamava uma mensagem de cuidado e fraternidade, especialmente para os mais frágeis, e enquanto o Evangelho narrava o milagre da multiplicação dos pães e peixes.

“O Dino ensinou-nos a olhar para os descartados não como necessitados de alguma coisa, mas de amor. Ensinou-nos a relação, a não termos medo do que falta e a deixar-nos levar pela Providência. Quando nos apercebíamos, a sorrir, que faltava algo para dar resposta aos pedidos, chegava-nos sempre azeite, comida ou embalagens de alguém que não esperávamos. Diante disto, o Dino encorajava-nos e dava sempre o testemunho de que só o amor permanece e traz consigo uma sinergia de intenções que nos permitem não parar diante de obstáculos. Ir sempre em direção ao outro, dar sempre com confiança, dizia-nos”, relata Gina.

Já nos últimos dias, conclui Gina Riccio, quando estava mais doente, preocupava-se com a forma como as pessoas cumpriam o seu compromisso. “Ele queria estar na linha da frente e mesmo de longe chamava-nos e solicitava-nos. Um espírito combativo e pronto para fazer dar frutos o espírito da unidade: abramos sempre os nossos corações, dizia-nos, tentemos sempre”.

 

A essência do Cristianismo é amar a Deus e ao próximo

O mesmo disse numa entrevista ao Vatican News, em Dezembro passado, quando recebeu o telefonema de Quirinale para a entrega da homenagem que o incluiu no grupo de 32 pessoas consideradas “heróis” dos nossos dias pelo seu grande empenho em vários campos.

“Sozinho nada se pode fazer, o caminho está nas pessoas que nos rodeiam. Se não amas o próximo, não amas a Deus, essa é a essência do cristianismo”, afirmou na ocasião.

 

Traduzido e adaptado de Vatican News (26 de Julho de 2021)