Arquidiocese de Braga -

22 outubro 2021

Viver é ajudarmo-nos uns aos outros a viver

Fotografia Salama

O Conquistador

Sara Poças, coordenadora do CMAB

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Na mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano (24 de outubro de 2021), o Papa Francisco relembra-nos a importância de uma boa história. Diante de uma boa história todos reagimos de algum modo. É impossível ficar indiferente a uma história vivida em primeira pessoa. Sempre nos solicita reação: gratidão, admiração, surpresa, revolta, discordância ou motivação... O livro dos Actos dos Apóstolos resume as histórias, em primeira pessoa, das primeiras comunidades cristãs. Por isso se diz: «Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20). Atualmente, passamos momentos desafiantes, como os primeiros cristãos, mas as histórias de superação e de confronto devem-nos impelir a transformar as contrariedades em oportunidades para a Missão, sempre com a alegria que o perfume do Evangelho nos dá.

Urge a Missão da compaixão e da esperança, que nos relembra que ninguém se salva sozinho. O provérbio macua, que intitula este texto, corrobora com esta celebre expressão do Papa Francisco. Assim, somos responsáveis pelos nossos irmãos em Cristo.

Dentro das atividades levadas a cabo pelo CMAB, que puderam ler neste jornal, está a Cooperação Missionária da Arquidiocese de Braga com a Diocese de Pemba, em Moçambique, à qual chamamos carinhosamente de nossa Diocese irmã, e na qual até temos a paróquia de Santa Cecília de Ocua, a paróquia 552 extraterritorial da Arquidiocese de Braga.

Desta diocese, que corresponde territorialmente à província de Cabo Delgado, têm-nos chegado histórias avassaladoras, vividas na primeira pessoa, devido ao terrorismo que há 4 anos assola o norte desta província, que tem o tamanho de Portugal.

Quando temos algum irmão ou irmã em apuros, a primeira coisa que podemos fazer é rezar por ele/a. Assim, lembremos os nossos irmãos de Cabo Delgado nas nossas orações individuais e comunitárias, em particular neste mês das Missões, em que assinalamos os 4 anos dos primeiros ataques.

Há pouco mais de um ano, a Arquidiocese de Braga, através do CMAB, respondeu ao pedido do D. Luiz Fernando Lisboa, à data bispo de Pemba, e juntamo-nos à campanha solidária “Juntos por Cabo Delgado”, que está a ser coordenada pela Diocese de Pemba, em conjunto com a Cáritas Diocesana de Pemba. Dessa campanha já resultaram mais de 70.000€, que foram utilizados pelo fundo de emergência da Diocese de Pemba para o apoio das famílias deslocadas pelo conflito na compra de material de construção para a construção de novas casas nos reassentamentos. A campanha “Juntos por Cabo Delgado” permanecerá enquanto houver necessidades, que infelizmente ainda perdurarão, mesmo que o conflito esteja a dar sinais de abrandamento.

Porém, o apelo dos primeiros cristãos e do Papa Francisco também é um apelo para cada um/a de nós: “Não podemos calar o que vimos e ouvimos” (At 4,20). Ora, se não podemos calar o que vimos e ouvimos, porque é que vimos e ouvimos as histórias dos nossos irmãos de Cabo Delgado, contadas na primeira pessoa, e não falamos sobre elas? Continuemos a viver, a ajudarmo-nos uns aos outros a viver.

Artigo publicado no Jornal O Conquistador de 22 de outubro de 2021.


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