Arquidiocese de Braga -
16 dezembro 2021
Cáritas assinala “situação preocupante” no acesso à habitação
DACS com Agência Ecclesia
Além da habitação, com quase dois terços dos apoios concedidos, as áreas de maior necessidade foram as despesas com saúde e as despesas de electricidade.
A Cáritas Portuguesa alertou esta quinta-feira, na apresentação de um estudo sobre a resposta à crise, para a situação “preocupante” que a população vive no que toca ao acesso à habitação.
O relatório ‘A Rede Cáritas em Portugal e a resposta à COVID-19’ revela que a maioria dos apoios pontuais que a instituição concedeu – 63% – se destinou ao pagamento de rendas, “confirmando a situação preocupante que se vive ao nível da habitação, consequência de vários factores, entre os quais o elevado aumento do valor das rendas em cidades como Lisboa, Porto e Braga nos últimos cinco anos”.
A instituição explicou que, em todas as dioceses analisadas, “os baixos rendimentos, o apoio insuficiente e excessivamente burocrático da Segurança Social, além dos preços elevados praticados no mercado habitacional, evidentemente desajustados do nível de rendimento, são uma constante”.
Segundo os dados recolhidos, o programa nacional de resposta da Cáritas – que decorreu em três fases separadas entre Março de 2020 e Fevereiro de 2021 – chegou a 10.444 pessoas (3.205 famílias) e distribui cerca de 250 mil euros entre vales alimentares (82.510 euros) e ajudas pontuais (167.230 euros).
O estudo identifica uma “procura crescente” de ajuda após o primeiro confinamento provocado pela pandemia, em que 60% dos beneficiários deste programa recorreram pela primeira vez ao apoio da Cáritas.
É revelado ainda que “os novos beneficiários da Cáritas trabalhavam em alguns dos sectores económicos (já caracterizados por salários baixos e precaridade laboral) que mais sofreram durante este período, como o turismo, restauração, comércio e serviços de apoio”.
Além da habitação, com quase dois terços dos apoios concedidos, as áreas de maior necessidade foram as despesas com saúde (14% dos pedidos) e as despesas de electricidade (12%). A nível diocesano, a resposta das Cáritas passou pelo “apoio alimentar”, “apoios financeiros pontuais” e a promoção de “redes locais e parcerias”.
Os autores da investigação destacam “a rapidez com a Rede Cáritas conseguiu responder a necessidades materiais imediatas”, admitindo que o final das moratórias a créditos bancários “pode voltar a pôr esta capacidade de resposta”.
O estudo defende melhorias consideráveis no rendimento disponível, na protecção social e na habitação, e elogia a Cáritas pela capacidade de prestar atenção às “dimensões socioafectivas da vulnerabilidade”, que precisam de “respostas colectivas”.
O relatório encerra com um conjunto de alertas sobre “potenciais respostas colectivas” aos efeitos a médio e longo prazo da pandemia, que enfrentem questões como as vulnerabilidades múltiplas (privação alimentar, pobreza energética, precaridade laboral), a “intensificação das privações”, a falta de informação, o direito à habitação, o “desencontro entre rendimento e custo de vida”, a precariedade laboral, problemas de saúde mental e a “articulação das múltiplas respostas e capacidades”.
O estudo foi realizado entre Abril e Agosto de 2021 por Ana Luísa Silva, Luís Pais Bernardo, Luís Mah e Renata Vieira de Assis, investigadores da Oficina Global, uma “iniciativa académica que procura aliar a investigação à acção em parceria com as organizações da sociedade civil portuguesa”.
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