Arquidiocese de Braga -

8 março 2022

As mulheres que partem o “telhado de vidro” do Vaticano

Fotografia

DACS com Vida Nueva Digital

O número de leigas e religiosas actualmente em cargos de responsabilidade na Cúria triplicou numa década.

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A última a partir o “telhado de vidro” foi Emilce Cuda, a quem o Papa Francisco nomeou em meados de Fevereiro como a nova secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, cargo que ocupará ao lado do outro secretário, o mexicano Rodrigo Guerra.

A designação desta teóloga argentina, na directriz do organismo encarregado de assessorar e ajudar as Igrejas da América Latina, é o último exemplo de uma mulher que alcança um cargo de responsabilidade no Vaticano.

O que há alguns anos era um evento inusitado, tornou-se cada vez mais comum, como se viu com outros compromissos significativos nos últimos meses.

Entre todos eles, destaca-se a Salesiana italiana Alessandra Smerilli como secretária interina do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, a primeira mulher a tornar-se no “número dois” de um “ministério” da Cúria Romana.

Também foram significativas as nomeações da freira francesa Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo dos Bispos e a primeira mulher a poder votar numa assembleia sinodal; e a da também consagrada italiana Raffaella Petrini como Secretária Geral do Governo do Estado da Cidade do Vaticano.

 

Nada machista

“Estamos muito felizes com estas nomeações, embora antes já houvesse algumas mulheres em cargos de responsabilidade, mas talvez se tenha falado menos sobre isso. Apesar do que alguns possam pensar, o Vaticano não tem uma estrutura trabalhista machista: homens e mulheres aposentam-se com a mesma idade e não há distinção de salários por sexo, o que ainda não ocorre em algumas empresas e nas administrações públicas”, afirma Margherita Romanelli, presidente da Donne in Vatican (Mulheres no Vaticano), uma associação nascida em 2016 e que reúne cerca de uma centena de leigas e religiosas que trabalham na Santa Sé.

Cada uma contribui com 20 euros por ano para financiar actividades, como as reuniões realizadas na terceira sexta-feira de cada mês, ou as celebrações religiosas em diferentes igrejas localizadas dentro dos Muros do Vaticano.

“O nosso objetivo é criar uma rede de amizade, apoio e solidariedade entre as mulheres empregadas no Vaticano. Procuramos responder assim às exigências materiais de muitas companheiras quando chegam a Roma, como encontrar alojamento ou realizar trâmites burocráticos. Se tem uma rede de amigos que o apoia, sente-se melhor e também é mais eficaz no seu trabalho”, diz Romanelli, que trabalha no Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.

 

Aumento da presença feminina

Também é membro de Donne in Vatican Gudrun Sailer, jornalista do Vatican News, o portal oficial de notícias do Vaticano, que se encarregou de realizar um estudo em 2020 – até então inédito – no qual mostrava a evolução do número de mulheres empregadas na Cúria Romana.

Embora nos últimos dois anos tenham ocorrido novas nomeações de mulheres em cargos significativos como os já mencionados, essa investigação continua a oferecer um quadro muito completo de como é a situação do emprego feminino na organização a cargo do governo central da Igreja Católica.

“O número de mulheres a ocupar cargos de alta responsabilidade na Cúria Romana triplicou em dez anos”, diz Sailer.

O número de mulheres trabalhadoras também cresceu exponencialmente: enquanto em 2010 havia 697 mulheres (17%) entre os 4.053 funcionários do Vaticano e da Cidade do Vaticano, em 2019 havia 1.016 (22%) num total de 4.618 funcionários. Grande parte desse aumento ocorreu nos dicastérios, ou seja, nos órgãos da Cúria Romana que ajudam o Papa no governo da Igreja universal.

“Em 2010 havia 385 mulheres a trabalhar na Santa Sé, enquanto em 2019 já eram 649, passaram de 17% para mais de 24%”, escreve a jornalista do Vatican News. No Estado da Cidade do Vaticano, o aumento foi mais modesto numericamente, embora com uma notável excepção: desde 2016, os Museus do Vaticano têm uma mulher como directora, a historiadora de arte Barbara Jatta.

Artigo de Darío Menor, publicado em Vida Nueva Digital a 8 de Março de 2022.