Arquidiocese de Braga -
9 maio 2022
Homilia no Dia das Vocações

Por D. Nuno Almeida no Seminário Conciliar de Braga a 8 de Maio.
Queridos irmãos, queridas irmãs!
1. Um par de corajosos faz frente aos judeus poderosos e não recua na missão de anunciar a todos a Palavra de Deus. Paulo e Barnabé desviam a rota, deixando de lado os judeus e meia dúzia de senhoras piedosas, voltando-se definitivamente para os gentios. No meio da perseguição mantêm a mesma firmeza e perseverança. E, no meio das tribulações, os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
Se é assim nos princípios da missão, em terra dura, qual não será, por fim, a sorte dos eleitos, lá no Céu? São João oferece-nos, no Apocalipse, a visão de uma multidão imensa e incontável, sem muros nem fronteiras, que canta um hino de vitória, diante do Cordeiro, imolado e de pé, imagem de Cristo, morto e ressuscitado por nós!
Diante do Cordeiro, está de pé uma multidão de homens e mulheres corajosos. É a multidão dos mártires, dos perseguidos, dos que tiveram a coragem de arriscar e deixar tudo, para seguir o Senhor e se consagrar completamente a Ele!
2. Enquanto os outros evangelistas têm parábolas, o Evangelho de João está cheio de imagens. Hoje, vem em destaque a imagem do Bom Pastor e a ternura das suas palavras revestem-se de uma enorme intensidade que aquece e alegra o coração, mesmo no meio das tempestades, como as que vivemos na hora presente de pandemia e de guerra sombria.
Nunca é demais procurarmos redescobrir esta figura bíblica do Pastor, que evoca: doação, simplicidade, serviço, dedicação total, amor gratuito. É alguém que é capaz de dar a própria vida para defender das garras das feras as ovelhas que lhe foram confiadas. O bom pastor é mestre de amor. Ama todas as suas ovelhas, está pronto a dar tudo pela que se perdeu, que atraiçoou o seu amor. É o primeiro a dar o passo, sem esperar sinais de arrependimento ou algum gesto de submissão.
Não pede contrapartidas, simplesmente perdoa, esquece tudo na novidade de ser amor no momento presente. Como uma gota que perfura a rocha, não desiste até que não penetre no coração do inimigo, de quem o rejeita. O amor vence tudo, mas tem um preço: dar a vida!
3. Caríssimos candidatos ao acolitado [Carlos Alberto; Pedro Daniel; Tiago José] - como Acólitos sois chamados a imitar o Bom Pastor no dom da vida, essa mesma vida que brota de Cristo, fazendo-a depois transbordar, para fora dos próprios recintos sagrados. Entramos nesta vida, pela porta do Batismo. E esta vida, em abundância, é alimentada sobretudo no pão da Eucaristia, a fim de se tornar uma vida oferecida, sem medida!
Ides oferecer a Jesus as vossas mãos, os vossos pensamentos e o vosso tempo, e Ele não deixará de vos recompensar, concedendo-vos a alegria verdadeira e fazendo-vos sentir onde se encontra a felicidade mais completa. Faz-nos bem recordar o exemplo dos Santos que encontraram na Eucaristia o alimento para o seu caminho de perfeição, senão mesmo da sua vida corporal: lembremos a Beata Alexandrina de Balazar! Catorze anos alimentando-se apenas da Comunhão...!
Recordemos as palavras sempre atuais do Papa Paulo VI: “Destinado de modo particular para o serviço do altar, o Acólito há-de procurar conhecer o que diz respeito ao culto divino e compreender o seu significado íntimo e espiritual, de modo que, em cada dia, se ofereça a si próprio totalmente a Deus e, por sua atitude grave e respeitosa, seja para todos exemplo no templo sagrado, amando sinceramente o corpo místico de Cristo ou povo de Deus, sobretudo os fracos e os doentes.” (PAULO VI, CARTA APOSTÓLICA, MINISTERIA QUAEDAM, 1972, VI)
4.Celebarmos o Domingo do Bom Pastor e Dia das Vocações. Temos consciência de que a vida humana não é um acaso nem um destino cego. É uma obra-prima do amor criador de Deus e traz inscrito dentro, em si mesma, um chamamento ao amor. Não é uma aventura solitária, mas diálogo, dom de Deus que se torna tarefa e missão para nós. Não vivemos ao acaso nem por acaso. Cada dia é-nos dado para responder à nossa vocação de filhos amados de Deus, como um modo de conceber e projetar fraternalmente a nossa vida. Em cada pessoa há um dom original de Deus que espera ser descoberto, desenvolvido para dar frutos. A busca do sentido da vida é um eco da “vocação” de Deus.
Diz o Papa Francisco na mensagem para este dia: “A vocação nasce, graças à arte do Escultor divino que, com as suas «mãos» de oleiro, nos faz sair de nós mesmos, para que se delineie em nós a obra-prima que somos chamados a ser. Particularmente capaz de nos purificar, iluminar e recriar é a Palavra de Deus, que nos liberta do egocentrismo. Coloquemo-nos, pois, à escuta da Palavra, para nos abrirmos à vocação que Deus nos confia! E aprendamos a escutar também os irmãos e irmãs na fé, porque nos seus conselhos e exemplo pode esconder-se a iniciativa de Deus, que nos indica estradas sempre novas a percorrer.”
5.Poderíamos descrever com palavras simples e evangélicas o dever ser do nosso Seminário, a celebrar 450 anos de fecunda história: Casa onde os cordeiros e as ovelhas se deixam forjar para se tornarem bons pastores, segundo o coração do único Bom Pastor, Jesus Cristo.
Como precisamos, na hora atual, de cordeiros que se tornem pastores! Não basta sermos bons atores, mas verdadeiros pastores: Um bom pastor é alguém que guia, que tem a coragem de indicar, à luz da fé, o caminho a seguir. Sabe dizer a verdade com amor.
Um bom pastor é aquele que, sem desprezar ninguém, dá um lugar especial no seu coração aos pobres, aos pequeninos, aos mais fracos.
Um bom pastor não se apascenta a si mesmo, não usa o seu ministério para proveito próprio.
Um bom pastor conhece as suas ovelhas. O contacto pessoal é o Alfa e o Ómega da pastoral e não pode ser substituído por nada.
6.Urge uma “Grande Oração pelas Vocações”: uma oração vivida com intensa confiança e perseverança, capaz de envolver pessoalmente todos os membros do povo de Deus e a realizar com oportunas modalidades comunitárias, de modo programado e calendarizado ao longo do ano e não episódico ou pontual.
Contemplemos e invoquemos Maria, a cheia de graça, a mulher do “sim” a Deus, compreenderemos e ajudaremos a compreender a beleza de uma existência entregue ao projeto de Deus. Com Ela seremos capazes de fazer opções vocacionais para que esta beleza se torne vida e irradie para o mundo.
Senhor, nosso Pai e Criador,
Deus da história, da vida e da beleza,
do sonho e da realidade, nós Te pedimos:
ensina-nos a tecer e a entrelaçar
a nossa história pessoal e comunitária
com os fios do Teu amor!
Senhor Jesus, Mestre e Amigo,
reaviva em nós a consciência
de sermos povo de irmãos e irmãs,
amado, escolhido para anunciar,
testemunhar e semear a Tua paz!
Espírito Santo, força suave de vida,
dá-nos a coragem do desassossego, abertura
e docilidade para escutarmos o chamamento
e para vivermos com fidelidade e alegria a nossa vocação!
A Maria e José pedimos intercessão
para que a Igreja e cada uma das suas comunidades
sejam seio fecundo
de novas e santas vocações. Amen!
+Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga
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