Arquidiocese de Braga -

18 julho 2022

Em muitas partes da Igreja as únicas vozes são as dos homens

Fotografia PAWEL HOROSIEWICZ/WIDEONET/ STOCK.ADOBE.COM

DACS com La Croix International

As vozes das mulheres, que só podem enriquecer a nossa compreensão do Mistério da fé, ainda estão a ser rejeitadas em muitos lugares.

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Como padre ordinário numa diocese, não sou frequentemente questionado sobre o lugar das mulheres na Igreja. Perguntam se eu sou indiferente.

A primeira explicação é que metade do meu ministério ocorre em lugares onde a questão simplesmente não surge, ou não mais do que em qualquer outro lugar.

A nossa tradição secular aqui em França significa que grande parte da vida da Igreja se desenvolve fora do quadro hierárquico das associações diocesanas presididas pelos bispos, e se organiza segundo o modo ordinário e democrático da vida comunitária.

Isto é verdade para a Doutrina Social, para os movimentos e associações juvenis e de leigos, para as associações caritativas, etc.

Parece-me que, desde há muito tempo, o lugar das mulheres não é pior nem melhor do que noutros lugares.

Mas é interessante notar que os lugares onde se inserem as vozes femininas estão também entre os mais dinâmicos da Igreja, e que este dinamismo constitui uma preciosa e reconhecida contribuição para a vida social do nosso país.

 

Um mundo estritamente de género

É diferente na outra metade do meu ministério, que acontece na paróquia onde sou pároco, nas reuniões da reitoria e no conselho presbiteral onde sou secretário.

Hoje, diríamos deste mundo que é fortemente marcado pelo género, às vezes ao ponto de uma caricatura. As mulheres cuidam das flores, lavam e estendem as toalhas do altar, ensinam o catecismo às crianças e muitas vezes fazem a limpeza. Enquanto isso, os homens presidem às celebrações litúrgicas e exercem o poder de governar e ensinar, com uma excepção.

As mulheres estão bem representadas no conselho paroquial e na equipa de animação, embora sempre sob a autoridade do pároco. Aqui, novamente, não ouço muitas pessoas questionar abertamente este estado das coisas.

Uma das razões do silêncio é, sem dúvida, que muitos dos que não estão satisfeitos com esta situação já se foram.

 

Enriquecendo o nosso entendimento

E muitos dos que ficaram preferem ficar calados a perder tempo a defender uma causa que não vai a lugar nenhum.

Assim, as vozes e a imagem veiculada pela Igreja paroquial ou diocesana continuam a ser as vozes e imagem dos homens.

Parece-me óbvio que uma mulher não trataria as questões de moral da mesma forma que os homens, especialmente no que diz respeito à família e à moral sexual.

A sua interpretação das Escrituras também não é a mesma. Assim, diferentes abordagens do mistério, que só poderiam enriquecer a nossa compreensão, estão a ser rejeitadas.

Durante um encontro de jovens com uma freira carmelita, uma das jovens ficou surpreendida ao saber que o seu convento tinha que ter um padre para celebrar a missa.

“Não seria mais simples se uma das freiras pudesse celebrar a missa?”, perguntou a aluna.

A resposta da freira foi tão engraçada, quanto profunda.

“Claro que não!”, exclamou. “Esta é a única altura em que vemos um homem”.

Talvez um dia ouçamos alguém numa assembleia de sacerdotes dizer que também nos faz bem trabalhar com mulheres.

Artigo do Pe. Emmanuel Pic, publicado no La Croix International a 15 de Julho de 2022.