Arquidiocese de Braga -
1 setembro 2022
Conferência Episcopal apresenta Síntese de Portugal
DACS
Apesar de o “envolvimento e a receptividade” dos participantes poderem ser considerados “satisfatórios”, a CEP observou a “indiferença” de alguns leigos, sobretudo na população jovem.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) já apresentou a Síntese nacional para o Sínodo 2023, elaborada a partir das sínteses diocesanas. O organismo refere que “na sua maioria, o alcance da escuta sinodal ficou restringida à realidade diocesana, em parte devido a uma débil estratégia de divulgação, enfraquecida pela incapacidade de simplificar a explicação sobre a relevância e a dinâmica da consulta sinodal”.
Apesar de o “envolvimento e a receptividade” dos participantes poderem, ainda assim, ser considerados “satisfatórios”, a CEP não deixou de observar a “indiferença” de alguns leigos, sobretudo na população jovem.
Apresentação de resultados
A CEP começa por apontar a visão de “uma Igreja espiritual e humanamente pouco inclusiva e acolhedora”, que discrimina “quem não está integrado ou não vive de acordo com a moral cristã, isto é, divorciados, recasados e pessoas com diferentes orientações sexuais, identidades e expressões de género (grupo LGBTQi+)” e que “coloca em segundo plano as pessoas com deficiência, os mais pobres, os marginalizados e, consequentemente, desprotegidos”.
O caminho com os jovens também tem sido feito com dificuldades, referindo estes que “que o principal motivo que os afasta da Igreja e os impede de caminhar juntos assenta na diferença existente entre o seu modo de pensar e a doutrina da Igreja Católica, tendo esta “uma mentalidade retrógrada e desajustada” dos tempos actuais.
Os participantes consideram ainda que a Igreja mantém “uma atitude demasiado hierárquica, clerical, corporativa, pouco transparente, estagnada e resistente à mudança, que prioriza a manutenção da sua imagem ao invés de preservar a segurança da sua comunidade, surgindo os casos de pedofilia como o exemplo mais evidente”.
A “soberba” e a pouca disponibilidade para a escuta são mais problemas apontados, encontrando-se a Igreja “em declínio social no que respeita à sua reputação e relevância, que não tem sabido utilizar a força transformadora do Evangelho numa oportunidade de conversão social, valorizando uma cultura humanista capaz de fazer o contraponto ao globalismo, que amarra os pobres e sedimenta as desigualdades e o localismo que gera xenofobia e promove populismos”.
Na síntese é também referida a pouca disponibilidade para discutir “de forma aberta e descomplexada a possibilidade de tornar opcional o celibato dos sacerdotes e a ordenação de homens casados e das mulheres”.
Preocupações com o ambiente digital, a formação dos agentes pastorais, as homilias, os processos de tomada de decisão, o acesso aos sacramentos, a forma como a Igreja comunica, o ecumenismo, os problemas financeiros e a figura do sacerdote também são mencionadas.
Apesar de serem vários os aspectos negativos mencionados, a CEP não deixa de afirmar que “a Igreja é tida globalmente como uma instituição credível, presente nos locais onde ninguém ousa ir e solidária com os mais desfavorecidos, a quem presta assistência, mesmo quando falham todas as outras respostas sociais”.
“De uma forma geral, salienta-se a capacidade de acolhimento da Igreja Católica, sobretudo no apoio à pobreza, capaz de providenciar um espaço para a vivência da fé, que seja propício e facilitador da oração, revelando-se como urgente que a Igreja concretize os caminhos apontados pelo Concílio Vaticano II e regresse à essência e à alegria do Evangelho, contando com o Espírito Santo para esta missão tão bela e tão responsável”, apontam.
Propostas de mudança
No sentido dos desafios apresentados, pede-se assim “uma Igreja de portas abertas, que abrace a diversidade e acolha todos, excluindo as atitudes discriminatórias que deixam à margem a comunidade LGBTQIA+ e os divorciados recasados”, bem como “uma Igreja que repense a participação de todos os baptizados, independentemente da sua vida afectivo-sexual que é vivida, muitas das vezes, como um tabu”.
Os participantes requerem também “uma Igreja que disponibilize espaços abertos à partilha, ao diálogo e à reflexão, sem excluir qualquer tema, que promova um diálogo intergeracional e entre movimentos e paróquias, tendo por base projectos de metodologia sinodal em processo permanente” e uma Igreja “que dê voz às minorias e estabeleça um diálogo com as periferias”, “denunciando a pobreza e apoiando os pobres, valorizando o que é essencial a uma vida digna e dando maior atenção aos recursos”.
A transparência nas tomadas de decisão e gestão, envolvendo a comunidade nestes processos, é outra das propostas. A necessidade de transparência também é mencionada no que diz respeito ao combate aos abusos sexuais e recursos financeiros.
Os fiéis também propõem “maior rotatividade dos presbíteros”, bem como a sua libertação de trabalho burocrático e de administração de instituições e serviços – podendo ser substituídos por leigos – para que possam concentrar-se na sua missão pastoral e no encontro próximo com a sua comunidade.
“É importante também que haja uma maior exigência e continuidade na formação em várias dimensões, tanto dos sacerdotes como dos leigos. Uma formação teológica, bíblica, humana, para o exercício dos ministérios litúrgicos, sacramentais e presbiterais, e para o diálogo com a sociedade e a cultura. Uma formação contínua de leitores, cantores e acólitos, para que se mantenha a beleza e dignidade da celebração eucarística”, continua a síntese.
A propósito da vertente formativa, o documento assinala “como essencial a reestruturação do caminho formativo dos seminários, que exibe lacunas na dimensão humana, espiritual, afectiva e cultural”.
A renovação da forma de comunicar, o uso da criatividade e a utilização das redes sociais e comunicação digital para uma maior evangelização também surgem como propostas da Síntese, assim como o acompanhamento e a motivação da comunidade jovem.
“Foi também manifestada a importância da necessidade de reflexão sobre o celibato sacerdotal, propondo que o mesmo seja opcional; sobre a valorização do papel da mulher num plano de igualdade com o homem, incorporando-a nas estruturas do poder eclesial e sobre a harmonização de critérios e regras comuns para a pastoral e sacramentos, uniformizando as respostas de cada paróquia, transformando-a, assim, numa casa de todos, lugar onde o amor e a misericórdia sejam o pão nosso de cada dia”, pode ler-se.
O documento termina com propostas de maior comunhão inter-congregacional e a consolidação da “consciência sinodal”, dando continuidade à dinâmica de caminhada conjunta.
“O mundo precisa de uma «Igreja em saída», que rejeite a divisão entre crentes e não crentes, que olhe para a humanidade e lhe ofereça mais do que uma doutrina ou uma estratégia, uma experiência de salvação, um «golpe de dom» que atenda ao grito da humanidade e da natureza”, conclui a CEP.
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