Arquidiocese de Braga -

4 maio 2023

Descobrir um Deus simples e próximo

Fotografia Clara Winger

Igreja Viva

Clara Winger, Irmã espiritana

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Chamo-me Clara Winger, sou Irmã Espiritana e vou contar-vos como encontrei o Senhor e como Ele me chamou à vida religiosa e missionária.

Tinha 19 anos quando deixei o meu país, a Alemanha, para viver um ano de voluntariado com pessoas com deficiência mental, em França. Nesta altura, não conhecia Cristo. De facto, a minha família não é católica.

Quando cheguei a França, comecei a acompanhar no lar as pessoas com deficiência mental em todas as necessidades da vida cotidiana. Algumas das pessoas que viviam no lar tinham uma fé em Cristo muito profunda. Elas viviam a sua fé com grande simplicidade e tinham confiança no Senhor, apesar de tudo o que aconteceu nas suas vidas. Confiavam em Deus na alegria, mas também na tristeza e nas dificuldades.

Alguns dias depois da minha chegada, num tempo de oração comum no lar, uma das pessoas com deficiência rezou assim: "Obrigado, Senhor, porque enviaste a Clara ao nosso lar, ela define cada dia o alarme do meu despertador." Fiquei intrigada com esta oração. Nunca imaginei que uma oração pudesse ser tão concreta. Na minha mente, a oração sempre foi abstrata e distante da vida real. Descobri que tinha sede deste tipo de espiritualidade, sede de conhecer este Deus que é tão simples, tão próximo, que aceita este tipo de oração.

Um dia fiz a pergunta a um homem no lar: "Quem é Jesus para ti?" Ele respondeu-me: "Jesus é o meu amigo. Porque queres saber isso?" Eu disse-lhe: "Porque não conheço a Jesus e preciso de descobrir quem é." E ele disse-me: "Jesus é o meu amigo. Ele é tudo para mim. Não posso separar-me d’Ele."

Passo a passo, nesta vida no lar, através dos testemunhos da vida de cada dia das pessoas com deficiência, descobri que este Jesus, tão próximo dos meus irmãos no lar, também queria aproximar-se de mim, sentia que Ele estava a chamar-me para deixá-lo entrar na minha vida.

Algum tempo depois, no segundo ano no lar, pedi o batismo. Depois do tempo de preparação, fui batizada na Vigília Pascal de 2014. Foi o dia mais lindo da minha vida porque recebi tantas graças, recebi o Senhor na minha vida e tornei-me filha de Deus.

Algum tempo depois do batismo, o capelão do lar perguntou-me: "Clara, como imaginas a tua vida cristã?" Eu falei sobre algumas coisas e ele disse-me: "O que estás a descrever é a vida religiosa." Eu disse-lhe que não porque não queria fechar-me para só rezar todo o dia. Ele explicou-me que a vida religiosa não era isso e sugeriu-me passar três dias num mosteiro ali perto, para saber se era ou não a vida religiosa do que estive a falar. Fui e quando voltei sabia que é a vida religiosa que sou chamada a viver, mas não num mosteiro.

Durante dois anos procurei uma congregação. Sempre foi a mesma coisa: fui, voltei e sabia que era sim a vida religiosa, mas não aquela congregação. Depois deste tempo disse ao capelão: "Agora não vou procurar mais. Vou ficar aqui no lar, também estou feliz aqui."

Mas este não foi o plano de Deus para mim. Só dois meses depois veio uma noviça das Irmãs Espiritanas fazer estágio no lar. Eu vi-a viver e senti que era assim que eu queria viver. Então fui visitar a noviça na casa do noviciado, fui encontrar a comunidade da casa mãe das Irmãs Espiritanas, cada vez mais senti que era esta congregação.

Entrei na congregação em fevereiro de 2018 e comecei a formação a vida religiosa. Primeiro o postulado, seis meses em França e dois anos no Senegal; depois o Noviciado, outra vez dois anos em França. Fiz os votos no dia 1 de outubro do ano passado. Foi o segundo dia mais lindo da minha vida. Consagrei-me ao Senhor. Ele deu-me tudo e continua a dar-me tudo. Eu também quero dar-Lhe tudo e quero ser testemunha do Senhor para todos e especialmente para aqueles que ainda não o conhecem, como foram testemunhas para mim as pessoas daquele lar na França. E quero viver a minha vocação.

Como disse a nossa fundadora Irmã Eugénie Caps: "A nossa vocação requer que pratiquemos uma profunda vida interior, não para que guardemos para nós o que meditamos e que passemos o nosso dia silenciosas, atrás de grades e ferrolhos. Não é isto. Mas sairemos para o tumulto dos homens e falaremos a essas pessoas do que o Senhor nos ensinou."

Hoje estou em Portugal. Estou a aprender o português para a missão, para falar do meu Senhor, de nosso Senhor Jesus Cristo e do seu amor a todos.

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 04 de maio de 2023.


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