Arquidiocese de Braga -

28 fevereiro 2024

Nova Ágora propõe reflexão coletiva para o bom uso da inteligência artificial

Fotografia Avelino Lima

DM - Rita Cunha

As sessões do Nova Ágora acontecem nos dias 8, 15 e 22 de março

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Uma reflexão coletiva sobre o desenvolvimento e implementação da Inteligência Artificial (IA), preparando a atual sociedade a viver num mundo “mais dinâmico e repleto de sistemas inteligentes” e garantindo que esta evolução chegue a todos e sirva ao bem comum. Este é o grande propósito da VIII edição do Ciclo de Conferências da Nova Ágora, organizado pela Arquidiocese de Braga, apresentado ontem, dia 27, durante uma conferência de imprensa.

As sessões do Nova Ágora se realizam no auditório do Espaço Vita, no centro da cidade de Braga, nos dias 8, 15 e 22 de março, pretendendo, ainda, marcar a celebração dos 75 anos da Declaração dos Direitos Humanos.

Para o cónego Eduardo Duque, diretor do evento, o objetivo é que “através destas conferências, propomo-nos promover um diálogo que permita a construção conjunta de conhecimento e compreensão recíproca, ancorado na procura da verdade e no respeito mútuo. É uma oportunidade de transcendermos as nossas diferenças individuais em prol de um bem maior, um exercício de humanidade que nos convoca a todos”, começou por referir, ontem, na apresentação do evento.

Considerando “inestimável” a importância deste “diálogo”, o responsável  destacou o tema desta edição – “Olhares sobre a Inteligência Artificial” –, vincando o potencial da IA no que respeita a simplificação da vida humana, “representando um marco na evolução tecnológica” e “prometendo revolucionar a forma como vivemos”. Porém, alertou para o facto de esta “promessa” vir “acompanhada  de dilemas e desafios” que não podem ser ignorados.

Na apresentação, o Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, lembrou que esta é uma “nova realidade” que deve ser “devidamente orientada”, caso contrário poderá virar-se “contra a própria humanidade”.

“Que este olhar credenciado e reconhecido dos especialistas presentes [no ciclo de conferências] nos possa lançar novos olhares e possamos olhar, sem medo, para esta nova realidade constituída por homens mas que pode ser contra a humanidade se não for devidamente orientada”, referiu. 

“Abre-se aqui um portal enorme, mas que seja de ajuda a uma nova configuração da humanidade e onde todos se possam incluir”, disse, acrescentando igualmente os desafios que acarreta para a educação, para as famílias, para a Igreja, para a política e para a sociedade no seu todo. 

Sobre a Nova Ágora, D. José Cordeiro considerou-a “uma praça que a Arquidiocese de Braga criou no diálogo com todos, crentes e não crentes”, no sentido de “ouvir” porque “nada do que é humano é indiferente à ação evangelizadora da Igreja”.

Salientou, ainda, a atualidade do assunto uma vez que o tema escolhido vai ao encontro da mensagem do Papa Francisco para o 58.° Dia Mundial das Comunicações Sociais que se assinala a 12 de maio deste ano – “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana” – e que já tinha também sido escolhida por ocasião do 57.º Dia Mundial da Paz, no passado mês de janeiro – “Inteligência Artificial e Paz”. 

As faces da IA

“Por um lado, a Inteligência Artificial tem o incrível poder de otimizar processos, proporcionar soluções inovadoras para problemas complexos e até mesmo melhorar a qualidade de vida das pessoas”, disse, dando como exemplos o papel que poderá desempenhar na medicina personalizada, na educação adaptativa ou na gestão sustentável de recursos. É fundamental reconhecer que a adoção da IA não está isenta de impactos negativos”, assinalou o Cónego Eudardo Duque. 

Questões relativas à privacidade, à segurança de dados e ao potencial desemprego devido à automatização, também foram referidas pelo cónego. Preocupações “mais profundas” como a forma como a IA pode alterar a estrutura da sociedade, influenciando desde a distribuição dos recursos até à própria concepção de justiça e equidade, e o “risco de criarmos sistemas que perpetuam, ou até exacerbam, desigualdades existentes” também foram destacadas

Dado este “potencial extraordinário para moldar o futuro da humanidade”, o diretor da Nova Ágora considera imprescindível “uma vigilância constante” de modo a “garantir que as maravilhas da IA beneficiem todos, sem exceção”. “Se a Inteligência Artificial não for humanizada podemos desajustar a nossa forma de sermos humanos”, alertou. 

Por isso, “este é o momento de unirmos forças, de refletirmos juntos sobre a transformação cultural que estamos a viver”, evitando assim uma desumanização. Para o cónego Eduardo Duque, “o diálogo entre as diferentes crenças e perspetivas é crucial para encontrarmos soluções comuns e garantirmos um futuro digno para as próximas gerações”.

Nesse sentido, aproveitou o momento para convidar “toda a comunidade, independentemente das suas crenças”, a colaborar “ativamente” na construção de uma sociedade que valoriza a fraternidade, a solidariedade e o cuidado recíproco. “Através da empatia, do entendimento mútuo e do trabalho conjunto podemos criar um legado de ‘amizade social’ – nas palavras do Papa Francisco – e de bem-estar para todos”, disse, acreditando que “juntos podemos fazer a diferença numa sociedade que queremos mais unida, sem que ninguém fique para trás”.

A IA no caminho da evangelização

Para D. José Cordeiro, o tema “dá força de atualidade ao próprio ritmo do ano litúrgico na Igreja e de ação evangelizadora que vai acontecendo e, de maneira especial, no processo sinodal no qual a Inteligência Artificial entra como grande desafio, não como desconforto, mas como abertura, e sobretudo o nosso contributo para que ela não deixe de ser humana e de humanizar”. 

Vincando que “levar Jesus a todos e todos a Jesus passa por conhecer todas as realidades e também ver o melhor modo como o apresentar”, o Arcebispo de Braga acredita que, não substituindo o que somos nem a ação da Igreja, este olhar “pode ajudar-nos a realizar melhor a missão que nos está confiada e possamos, com serenidade, esperança e paz, olhar o futuro e todas estas inovações tecnológicas para que sirvam melhor a humanidade porque um dos perigos que pode acontecer é que a tecnologia se torne numa tecnocracia e isso não é benéfico para a humanidade”, disse.

D. José Cordeiro terminou convidando “os que puderem e quiserem” a participar nestes três momentos de olhares sobre os direitos humanos e a Inteligência Artificial no seu todo. 

Sessões contam com oradores com formação em diversas áreas 

A primeira sessão da Nova Ágora 2024 realiza-se no dia 8 de março e tem por tema “Inteligência artificial”. Um dos oradores é Paulo Novais, professor catedrático do Departamento de Informática da UMinho, onde lidera o laboratório ISLab do Centro ALGORITMI, e coordenador do maior laboratório associado de Portugal, o LASI, presidindo ainda a assembleia-geral da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial. A este junta-se Hélder Coelho, considerado um pioneiro da Inteligência Artificial (IA) em Portugal, é Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Lisboa no Departamento de Informática da Faculdade de Ciências e membro Efetivo da Academia de Engenharia de Portugal. A moderação é do jornalista  Daniel Catalão, especializado em novas tecnologias e internet.

A segunda sessão, a 15 de março, abordará “Inteligência artificial e democracia”. A mesma contará com as intervenções de Daniel Innerarity – professor de filosofia política e social, investigador “Ikerbasque” na Universidade do País Basco e titular da cátedra de Inteligência Artificial e Democracia no Instituto Europeu de Florença – e Miguel Poiares Maduro – professor convidado da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa e ex-diretor da Escola de Governação Transnacional do Instituto Universitário Europeu, em Florença, Itália. Foi ainda ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional e advogado-geral no Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias.

A terceira e última sessão está marcada para o dia 22, e vai debater “Direitos humanos”, sob a moderação do jornalista da CNN Júlio Magalhães. Esta sessão contará com dois oradores: Susana Mourato Alves-Jesus, doutorada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, licenciada e mestre em Estudos Clássicos e que, atualmente, é gestora do projeto “Dignipédia Global: Sistematizar, Aprofundar e Defender Direitos Humanos em Contexto de Globalização”; e  Maria Manuel Leitão Marques, licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra, doutorada e agregada em Economia. Em 2019 foi eleita deputada ao Parlamento Europeu e desenvolve trabalho nas áreas do digital, da ciência e inovação, da proteção dos consumidores e segurança dos produtos, e da igualdade de género.

Todas as sessões têm entrada livre e decorrem das 21h às 23h, no auditório do Espaço Vita.

O ciclo de conferências existe desde 2015. Desde então, tem abordado temas diversificados, sempre em sintonia com a atualidade, como sejam a economia, cultura, política, família, trabalho, multiculturalismo, saúde e qualidade de vida, era digital, ecologia, cidadania e responsabilidade social, poder e corrupção, medicina e saúde à luz da pandemia, ética do cuidado e, ainda, precariado e novas explorações laborais. Ao longo das várias edições, contou com o contributo de personalidades de relevo no panorama nacional.