Arquidiocese de Braga -

25 agosto 2024

Dar a vida por amor a Jesus

Fotografia

Beato Miguel Carvalho, presbítero e mártir. Homilia de D. José Cordeiro.

  1. Decidir seguir Jesus

No final do desenvolvido discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, o conhecido capítulo 6 do evangelho segundo são João, que temos escutado nos últimos domingos, gera-se uma crise entre os discípulos. Por isso, Jesus pergunta: «Também vós quereis ir embora?» (Jo 6, 67). Então, Pedro responde com o conhecimento experiencial: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus» (Jo 6, 68-69).

Decidir seguir Jesus é uma questão vital, como testemunhou São Paulo: «para mim, viver é Cristo, e morrer, um ganho» (Flp 1, 21). Esta opção fundamental e radical transfigura a vida e conduz ao martírio, isto é, ao testemunho autêntico de doação pessoal, livre e responsável até ao fim do fim.

O Papa Francisco recorda-nos: «o que para nós é essencial, mais belo, mais atraente e ao mesmo tempo mais necessário é a fé em Cristo Jesus». 

Na verdade, se não somos peregrinos do essencial – Jesus Cristo – então que buscamos? Como vai a minha peregrinação ao essencial da vida em Jesus Cristo?

  1. Dies natalis

Hoje mesmo comemoramos 400 anos da Páscoa eterna do Beato bracarense Miguel Carvalho, S.J., presbítero e mártir, tendo sido queimado vivo com outros quatro missionários a 25 de agosto de 1624.

Numa Carta do Beato Miguel Carvalho, escrita na véspera do martírio para seu irmão Simão Carvalho afirma: «A minha vinda para o Japão foi por desejos grandes que tinha de vir acabar nesta cristandade, como tinha tido muitos anos; e fiz muita instância se me concedesse (...). Em breve espero receber de Nosso Senhor esta grande mercê de dar a vida por seu amor, cousa que tanto desejo que em nenhuma maneira o posso explicar».

Das Cartas do Beato Miguel Carvalho, escritas da prisão ao Padre Provincial, pode ler-se a firmeza do testemunho da fé: «Estamos todos enfermos e com os corpos enfraquecidos, mas no espírito mais fortes e robustos: porque Deus, que é Pai das misericórdias, nos maiores trabalhos faz maiores favores e dá auxílios para sofrer. O que de mim posso afirmar é que, quando padeço, sinto em mim um gosto extraordinário; nem me persuadi nunca que houvesse tanta suavidade em padecer adversidades por Deus. (...) Deus é connosco: eu Lhe dou muitas graças porque assim Se mostra liberal para comigo e com seus servos. Os desejos de morrer por Cristo são grandes. Depois de estar preso neste cárcere, todos os dias crescem mais, e nenhuma coisa desta vida se me representa mais apetecível, mais alegre e de mais consolação, que dar a vida por tão bom Senhor».

  1. Levar Jesus a todos

O martírio significa o mais alto testemunho dado pelo Evangelho, isto é, pelo sonho de levar Jesus a todos com a alegria da esperança.

Sim, como afirma o catecismo da Igreja Católica: «O martírio é o supremo testemunho dado em favor da verdade da fé; designa um testemunho que vai até à morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã. Suporta a morte com um ato de fortaleza. “Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais poderei chegar à posse de Deus”.» (n. 2473).

O martírio de Miguel Carvalho inspirara uma atitude acerca de quatro valores adaptados a este tempo da net generation, que já supõem a fé, esperança e caridade e ainda as virtudes cardiais (justiça, prudência, temperança e fortaleza) e são eles: a integridade, a lealdade, a paciência e a misericórdia. 

A cruz florida da Páscoa nos renove na fé da Esperança que irradia o amor luminoso e confiante.

 

           + José Manuel Cordeiro
               Arcebispo Metropolita de Braga