Arquidiocese de Braga -

25 dezembro 2024

Chegou o dia

Fotografia André Arantes

Missa da noite de Natal 2024

1. Hoje jubilar

Hoje inaugura-se a comemoração jubilar dos 2025 anos do mistério da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Somos peregrinos de esperança com José (Deus acrescenta) e com Maria, que dá à luz no caminho, por não haver «lugar para eles na hospedaria».

A narrativa do nascimento de Jesus, segundo o evangelho de Lucas que acabamos de escutar, afirma o que aconteceu em Belém: «enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz, e teve o seu Filho primogénito» (Lc 2, 6-7).

Santo António comenta num sermão: «onde é o ali? Na casa do pão; e Maria é a casa do pão. O pão dos Anjos tornou-se leite dos pequeninos, para que se fizessem Anjos». A casa do pão é a Igreja que celebra na Eucaristia os mistérios de Jesus Cristo e os mostra e leva a todos.

O refrão cantado do salmo 95: “hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor”, envolve-nos com o orante bíblico na contemplação do Senhor, rei de justiça, cantando a natureza como um pergaminho que se estende entre o céu e a terra.

Por isso, «celebremos o dia feliz, em que o grande e eterno Dia, procedente do grande e eterno Dia, veio inserir-se neste nosso dia temporal e tão breve» (Santo Agostinho, sermão 185).

2. Da noite ao Dia

Com as palavras inspiradoras de São João da Cruz, podemos reconhecer na noite a beleza da luz da Luz: «Sua origem não a sei, pois não a tem, / Mas sei que toda a origem dela vem / Mesmo sendo noite! [...] Aquela eterna fonte está escondida / Neste pão vivo para dar-nos vida, /Mesmo sendo noite! [...] É esta a viva fonte que desejo / E neste pão de vida é que eu a vejo, / Mesmo sendo noite!»

A noite é a nossa vida em que tantas vezes andamos às apalpadelas e não reconhecemos o amor incondicional de Deus, e não nos reconhecemos uns aos outros como irmãos.

Mas nesta noite há uma esperança maior que ilumina as trevas do mundo e do coração humano, como escreve São Paulo a Tito: «manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens».

3. Admirável permuta de dons

O Natal não é uma festa ingénua. Celebrar o mistério da encarnação de Jesus Cristo é tornar presente ao aqui e agora da nossa história o admirável acontecimento em Belém, a casa do pão.

Deus fez-se homem, para que o ser humanoparticipe da mesma vida.

Por isso, o Natal desafia-nos com a pergunta: “O que é que Jesus faria?

O que posso fazer pelos pobres? O que posso fazer pelos doentes? O que posso fazer pelos presos? O que posso fazer pelos migrantes? O que posso fazer pelas pessoas sem abrigo?

A propósito, o Bispo D. Hélder da Camara costumava afirmar: «Quando dou comida aos pobres chamam-me santo. Quando pergunto porque é que são pobres chamam-me comunista».

Uma menina de 7 anos, dias depois da celebração da Eucaristia durante a visita pastoral à sua Paróquia, disse-me: «Eu conheço-te da igreja de Pousada: “vi-te a dar o pão”».

Na verdade, quem não compreende a fração do pão não entende o que significa a fraternidade cristã. Não é a Igreja que faz a caridade; é a caridade que faz a Igreja.

Somos criados, chamados, amados e não podemos viver sem amor.

 

 

​​​​​+ José Manuel Cordeiro