Arquidiocese de Braga -

5 março 2025

Das cinzas aos ramos

Fotografia DACS

Quarta-Feira de Cinzas, 5 de março de 2025

1- Guardar a chama viva

No caminho de Páscoa que estamos a percorrer na nossa Arquidiocese, faz sentido provocar no início do tempo da Quaresma com este título: das cinzas aos ramos. Na venerável tradição eclesial e na medida do possível, as cinzas utilizadas no rito da liturgia de hoje provêm da queima dos ramos benzidos no Domingo de Ramos do ano anterior. A estas cinzas mistura-se água benta, memória da nossa nascente pascal e batismal. 

O compositor Gustav Mahler afirmou: «a tradição não é o culto das cinzas, mas a guarda do fogo». Por isso, das cinzas aos ramos e dos ramos às cinzas, guardamos o fogo do mistério sacramental.

As etapas do Ano litúrgico da quaresma-páscoa são uma oportunidade renovada para um caminho de verdadeira conversão pessoal, pastoral e missionária. Nos trilhos da conversão ao Evangelho, a oração e a vida espiritual, é tempo de ir contracorrente, porque a corrente dominante é um estilo de vida superficial, incoerente e ilusório.

2. Arrependimento

São Paulo exorta-nos na segunda leitura: «Irmãos: Nós somos embaixadores de Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio. Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus» (2Cor 5, 20-21). 

O arrependimento não é uma autopunição, mas é reconhecer a dor maior, isto é, não se sentir amado por Deus. O arrependimento não provoca dor. O pecado é a recusa do Pai, de Deus Pai.

O jejum e a esmola são as duas asas da oração, como pregava santo Agostinho. O jejum leva a submeter o corpo ao espírito. Tudo o que fizermos, façamo-lo com discrição e no silêncio crente, orante e confiante, porque: «Teu Pai, que vê no segredo, te recompensará» (Mt 6, 6).

Todos sabemos que existe o mal, mas nem todos sabem que o mal pode ser vencido. As fábulas não servem para ensinar às crianças que existem dragões, mas que os dragões podem ser derrotados.

A indulgência plenária é uma graça própria do Ano Santo Jubilar, é o perdão de Deus que não conhece limites, vivendo-a em pleno com frutos abundantes de fé, esperança e caridade. 

As condições principais para fruir da indulgência plenária são: confessar-se sacramentalmente; receber a Eucaristia, de preferência durante a própria celebração eucarística; rezar segundo as intenções do Papa. A concessão da indulgência plenária, uma só vez por dia, é para o próprio fiel ou pode também aplicar-se aos defuntos por modo de sufrágio, segundo o Manual das indulgências.

Ao longo do ano jubilar, todos os treze arciprestados peregrinarão até à Sé primaz, conforme o calendário já decidido e publicado. Que o impulso simbólico desta peregrinação seja capaz de manifestar a necessidade ardente de renovar a conversão e reconciliação pessoal, pastoral e missionária.

Além da peregrinação jubilar à Sé Primaz, indicamos outros lugares sagrados de acolhimento e espaços privilegiados para gerar esperança: as seis Basílicas menores - Congregados, Nossa Senhora do Sameiro, São Pedro do Toural, São Bento da Porta Aberta, Bom Jesus do Monte e São Torcato - e o Santuário Eucarístico de Balazar.

3. Partilhar com Esperança

Conforme dissemos na mensagem para a Quaresma/Páscoa, a renúncia quaresmal, fruto da nossa partilha, destinar-se-á à aquisição de livros litúrgicos, especialmente do Missal Romano, e outros livros para oferecer às Dioceses de Bafatá e de Bissau, na Guiné-Bissau, bem como para o Fundo Arquidiocesano “Partilhar com Esperança”. Podem parecer pequenos gestos, mas feitos com inteireza de vida, estaremos certamente a semear esperança nos corações daquelas pessoas a quem a nossa partilha se destina.

O Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma –   “caminhemos juntos na esperança” – apela à conversão da esperança, da confiança em Deus e na sua grande promessa, a vida eterna. «Devemos perguntar-nos: estou convicto de que Deus me perdoa os pecados? Ou comporto-me como se me pudesse salvar sozinho? Aspiro à salvação e peço a ajuda de Deus para a receber? Vivo concretamente a esperança que me ajuda a ler os acontecimentos da história e me impele a um compromisso com a justiça, a fraternidade, o cuidado da casa comum, garantindo que ninguém seja deixado para trás?»

Para uma renovada alegria e ternura do Evangelho, suplicamos como fizemos no canto do salmo responsorial: «Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme».

O Senhor tenha compaixão de nós, porque somos pecadores, manifeste a Sua misericórdia e nos dê a Sua salvação.

 

+ José Manuel Cordeiro