Arquidiocese de Braga -
26 maio 2025
Opinião
Os oratorianos na cidade de Braga
Hoje, dia 26 de maio, os cristãos evocam São Filipe Néri (1515- 1595), fundador da Congregação do Oratório, que haveria de ser erecta na cidade de Roma em 1575, cuja presença na cidade de Braga tem como testemunho maior a Basílica dos Congregados.
Constituída como uma sociedade de vida apostólica, a Congregação do Oratório, foi ratificada pelo Papa Paulo V, tendo como princípio fundacional o exercício da oração. Conhecidos como oratorianos, néris ou congregados, os seus membros, ao contrário das demais ordens religiosas, eram sacerdotes seculares que viviam sob a obediência dos seus prepósitos, sem votos religiosos ou professando optativamente votos simples. Além da oração, a sua missão primordial era a catequese e a administração de sacramentos.
Assim designada pelo facto de se ter inspirado nos oratórios onde a religiosidade que se expressava pela atenção contínua aos mais frágeis, o seu princípio orientador residia na formação da fé pessoal: “os pecadores à conversão, os convertidos à perfeição”. Aos sacerdotes seculares que aderiam à Congregação do Oratório era proposta uma maneira diferente de vivenciarem a sua vocação, através da prática e pedagogia da oração, mas principalmente na transmissão eficaz da doutrina cristã, através de um método pedagógico para a evangelização.
A Congregação do Oratório chegou a Portugal em 1668, por intermédio do padre Bartolomeu do Quental, capelão-confessor e pregador da Casa Real. Muito próximo da Rainha D.ª Luísa de Gusmão, instituiria no Paço Real a Confraria de Nossa Senhora das Saudades, que se tornaria filial da Congregação do Oratório romana.
Depois de abrir comunidades em Lisboa, Freixo de Espada à Cinta e Porto, a Congregação do Oratório chegou à cidade de Braga no ano de 1686 por iniciativa do Cónego João de Meira Carrilho, que desejava empregar os seus avultados bens na fundação de “uma obra pia, que fosse do maior agrado de Deus e bem do próximo” (Ferreira, 1932). Contando com o suporte do arcebispo D. Luís de Sousa, a pretensão do capitular era a instituição de um colégio que servisse como alternativa ao Colégio de São Paulo.
Os fundadores da comunidade bracarense dos oratorianos foram os padres José do Vale e Francisco Rodrigues, que ficariam instalados inicialmente numa casa “situada frente à Porta do Sol”, desempenhando a sua missão na cidade, com exercícios frequentes de oração mental na Capela de São Geraldo, visitando os presos do Aljube e administrando o viático aos doentes do Hospital de São Marcos. Os bracarenses acolhiam com entusiasmo os seus novos apóstolos, não faltando recorrentes solicitações para exercer os seus ministérios.
Com a colaboração do cónego João de Meira Carrilho, os oratorianos comprariam um conjunto de casas desabitadas, com seus quintais, em pleno Campo de Santana, uma das praças mais importantes da cidade, tendo efetuado a mudança para as suas novas e modestas instalações em maio de 1687. De forma a poderem melhor desempenhar a sua missão, procederam à edificação de um pequeno templo anexo em 1689.
Após duas décadas de atividade, cimentado o seu prestígio e alargada a sua influência na cidade e seu entorno, as instalações revelaram-se inadequadas e a comunidade começou a ponderar a construção de um edifício com uma dimensão superior. Para tal, solicitaram ao arcebispo D. João de Sousa autorização para efetuarem um peditório pelo território da Arquidiocese, de forma a financiar a empreitada.
A obra, que se deveria desenvolver nos terrenos contíguos ao espaço onde se encontrava a comunidade, era de grande dimensão, pelo que foi contratado o principal mestre de obras bracarense: Manuel Fernandes da Silva. A empreitada iniciar-se-ia em 1703, prevendo-se a construção do “corpo da igreja, rodeado de ambos os lados por três capelas abertas na parede, e capela-mor profunda, demarcada por cruzeiro imponente, entre duas sacristias” (Rocha, 1996).
Em 1717 já estava pronta a capela-mor e o corpo do templo até aos púlpitos, com duas capelas laterais de cada lado. Nesse momento se avaliou o andamento da obra, bem como os meios que se dispunham para concluir o que faltava, nomeadamente a fachada, que ainda estava por fazer. De forma a salvaguardar o que estava concluído até se retomar a obra, foi decidido “tapar a nave com um muro de alto a baixo”, tendo sido interrompida a obra até 1761, ano em que os padres congregados deliberariam desistir da frontaria concebida por Manuel Fernandes da Silva e entregar o novo projeto a André Soares, artista que, seis anos antes, concebera um elegante retábulo para o interior do templo.
A edificação da fachada do templo dos Congregados, apenas com a torre nascente levantada, seria suspensa alguns anos depois. Esta nova interrupção nos trabalhos não deverá ser alheia às despóticas limitações que o Marquês de Pombal impôs aos oratorianos, que foram severamente limitados na sua ação pastoral entre 1769 e 1777 Quando a normalidade foi retomada, os oratorianos concentraram-se na ornamentação do interior do templo e a frontaria só conheceria o seu epílogo quase dois séculos depois, em 1963, por iniciativa do Juiz-Presidente da Irmandade de Nossa Senhora das Dores, António Augusto Nogueira da Silva.
Os oratorianos haveriam de permanecer na cidade de Braga até 1834, ano em que foi decretada a extinção das ordens religiosas. Após esse acontecimento, o edifício do colégio passaria a acolher a Biblioteca Pública e o Liceu, enquanto o templo seria confiado à Irmandade de Nossa Senhora das Dores a partir de 1845.
Cónego João de Meira Carrilho
Natural de Castelo de Vide, no Alentejo, João de Meira Carrilho nasceu no ano de 1612, sendo filho de Gonçalo de Meira e de Brites Mendes. Iniciou os seus estudos na sua terra, tendo-se licenciado em Direito Canónico na Universidade de Coimbra. Passou depois para Roma, onde estava em 1644, ano em que foi nomeado cónego da Sé de Braga. Foi também detentor de um benefício no Mosteiro de Rendufe. Destacado benfeitor da Misericórdia de Braga, haveria de ser sepultado na capela-mor da Igreja do Hospital de São Marcos. Morou mais de quatro décadas na rua do Anjo (Araújo, 2017), tendo sido também proprietário da Casa Grande de Santo António das Travessas, edifício onde esteve instalada a Judiaria da cidade no século XV, que ostenta o seu brasão na fachada. Em 1647 ingressou na Misericórdia de Braga, tendo sido seu Provedor em duas ocasiões, 1654 e 1676. No ano de 1652 assumiu a missão de Reitor do Seminário de São Pedro. Faleceu em Braga em 1688, apenas dois anos depois da instalação da Congregação do Oratório na cidade, tendo sido sepultado na capela-mor da Igreja do Hospital de São Marcos.
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