Arquidiocese de Braga -
24 junho 2025
Muitos se alegrarão com o seu nascimento

Homilia por ocasião da Solenidade do nascimento São João Batista.
1. Reunidos para: escutar, louvar, rezar, adorar
Alegria e júbilo são os grandes sinais da festa e da era messiânica que o Evangelho comunica. Lucas narra assim o anúncio do Anjo a Zacarias, enquanto exercia o sacerdócio diante de Deus no Templo de Jerusalém: «a tua mulher, Isabel, gerar-te-á um filho e chamá-lo-ás com o nome João. Terás alegria e júbilo e muitos se alegrarão com o seu nascimento» (Lc 1, 13-14).
O hino da oração de Laudes de hoje, refere João Batista como aquele que: «Fez do silêncio, o verbo do deserto». Sim, S. João é tão próximo de Deus, quanto a voz é próxima do verbo.
Festejar com S. João é estar na escola de Jesus Cristo e participar num auditório espiritual de escuta ativa. Alguns celebram o que ignoram, talvez por isso é tão popular!
O próprio Jesus afirmou: «Ele era a candeia que ardia e iluminava» (Jo 5, 35). Na verdade, Ele não disse que era uma lâmpada que ilumina e arde, porque «João produz o brilho do ardor e não o ardor da cintilação. Há alguns que não brilham porque ardem, mas ardem para brilhar; todavia estes claramente não ardem no espírito da caridade, mas pelo zelo da vaidade. [...] só iluminar é fútil, só arder é pouco, arder e iluminar é perfeito» (S. Bernardo). Lâmpada que arde e ilumina.
2. Arder
O Verbo que se fez carne assumiu a missão ardente: «vim lançar fogo à terra e que desejo Eu, senão que já estivesse ateado» (Lc 12, 49).
S. João ardeu com o seu peculiar estilo de vida: seriedade, humildade, liberdade, verdade, relação desprendida com o dinheiro, o poder, a fama. O seu coração brilhou em chama de amor em Jesus Cristo. Este ardor ilumina e transmite a paz, pois «o homem fiel fala sempre com sabedoria, mas o insensato muda como a lua» (Sir 27, 11).
Hoje, celebrar a solenidade do nascimento de João, o Batista, demanda uma conversão das relações, dos processos de tomada de decisão e dos vínculos que sustentam a vitalidade da Igreja e da sociedade, animando as suas estruturas. Juntos, busquemos continuamente o bem da comunidade, o bem comum, especialmente em defesa dos mais que mais precisam, para uma Igreja e uma sociedade mais humana e humanitária.
3. Iluminar
João ilumina, como salienta a iconografia joanina, no dedo que aponta Jesus como o Cordeiro pascal da nova e eterna aliança: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29); na palavra e no oferecimento inteiro da sua vida.
O amor de João por Jesus manifestou-se: no útero materno, no batismo do Jordão, sabendo ocupar o seu lugar e não aceitar ser tratado por Cristo «eu não sou o Cristo» (Jo 1, 20), como queriam as autoridades e o povo, com atitude firme de nem sequer ser digno de desatar a correia das sandálias (cf. Jo 1, 27) e de quer que Ele cresça e ele diminua: «pois bem, esta minha alegria está completa. É necessário que Ele cresça e eu diminua» (Jo 3, 30). João é o amigo do esposo (cf. Jo 3, 29).
A iluminação ardente é um dom e um compromisso, como manifestam as palavras eloquentes do salmista: «Senhor, Tu és a luz da minha candeia; és o meu Deus, que ilumina as minhas trevas» (Sl 18, 29).
João iluminou com o exemplo, com a palavra e com a vida. Quem não arde não incendeia. Quem não arde não ilumina. Todavia, é necessário sair fora da lógica do poder. Nunca transformar a autoridade em poder. A verdadeira autoridade na Igreja é amar, servir e acolher a todo
Braga, 24 junho de 2025, solenidade do nascimento de São João Batista
+ José Manuel Cordeiro
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