Arquidiocese de Braga -

O Santuário de Nossa Senhora do Carmo, em Lemenhe, acolheu ontem centenas de devotos na tradicional peregrinação do Arciprestado de Vila Nova de Famalicão.

A peregrinação iniciou-se na igreja paroquial e culminou com a missa campal, no santuário, presidida pelo arcipreste, o padre Francisco Carreira, que apelou à vivência de um cristianismo centrado na escuta da Palavra e na intimidade com Deus.

Na homilia, o sacerdote desafiou os peregrinos a “sentarem-se aos pés de Jesus”, à semelhança do que fez Maria de Betânia, depois de alertar para o risco de no quotidiano os cristãos se descentrarem daquilo que é essencial no meio de tanta azáfama e correria, vivendo «exaustos» envolvidos em atividades ficando sem tempo para se colocarem diante de Deus e fazer uma oração. «Muitas vezes servimos Deus, mas não temos tempo para estar com Ele», referiu.

A partir das leituras do dia, que relata a visita de Jesus à casa de Marta e Maria, o padre Francisco sublinhou que a fé não se esgota em fazer «coisas para Deus», mas exige «um coração habitado por Ele».

Marta, de tanto querer seguir bem a Jesus, esqueceu-se de Jesus, ao contrário da sua irmã, Maria, que se colocou ao seus pés para escutá-Lo.

Diante da multidão concentrada no recinto, o sacerdote deixou algumas provocações: «Quem é que nós estamos a escutar atualmente?», «Qual é o tempo que nós damos para o Evangelho?», «Quantas horas por semana nós ouvimos os podcasts, ouvimos os TikToks, ouvimos música ou vemos filmes?»,  «Quanto tempo nós damos para Jesus?».

O arcipreste referiu-se aos desafios da vida moderna, marcada por agendas sobrecarregadas, a ausência de tempo para a oração e a dificuldade de escutar a Deus e os outros. Atividades e eventos do dia a dia que afetam não só as famílias mas também grupos de apostolado.

Na reflexão, questionou «quantas famílias já não rezam em casa, quantos casais já não se escutam mutuamente, quantos pais deixaram de ouvir os filhos», concluindo que «vivemos numa cultura de produtividade, da pressa, dos likes» e que «escutar é hoje um ato de resistência».

O sacerdote referiu que «Deus precisa que nos tornemos amigos d’Ele» e escutemos a Sua Palavra. E para isso, é necessário ir ao encontro de Jesus e estar com Ele todos os dias, numa relação de proximidade, e deixar-se tocar pela graça. «Mas também precisamos de sentarmo-nos lá em casa para nos escutar uns aos outros, de desligarmos, se calhar, os telemóveis, os televisores, os computadores, para darmos tempo à família. É começar a viver a partir de dentro e não do exterior», acrescentou.

Maria como modelo de fé e escuta

A figura de Maria foi colocada como exemplo de uma fé enraizada na escuta e na presença.

«Ela escolheu sentar-se junto de Jesus, atitude revolucionária para o seu tempo, e foi por isso reconhecida pelo Mestre como aquela que escolheu a melhor parte», referiu o sacerdote, recordando que o essencial da vida cristã está em «deixar-se tocar pela graça».

Para concluir, o arcipreste deixou aos fiéis três ideias para meditação: «Sem escuta, o teu cristianismo torna-se barulho. A missão sem oração é ativismo disfarçado. E antes de fazer algo por Deus, deixa Deus fazer algo em ti».

Obra de conclusão da cripta deve avançar no próximo ano

A peregrinação anual ao Santuário de Lemenhe é um dos momentos altos da vivência religiosa no Arciprestado de Famalicão, que reúne dezenas de grupos, movimentos paroquiais e famílias.

Este ano, os peregrinos encontraram o santuário com mais um melhoramento: a criação de uma garagem e salão para arrumos.

Ao Diário do do Minho, André Pinheiro, tesoureiro da Irmandade da Nossa Senhora do Carmo, referiu que esta obra foi realizada em apenas três meses, graças ao empenho de uma equipa que tomou posse em outubro do ano passado.

«Temos uma equipa que excedeu as expetativas, é realmente uma equipa de trabalho, que tem feito o que podemos ver, que acho que agrada a toda a gente», disse.

Todas as melhoria feitas, segundo o responsável, visam tornar o santuário num espaço cada vez mais acolhedor.

«As obras são feitas a pensar no bem-estar de todos os que nos visitam. Queremos sempre fazer melhor», garantiu.

A conclusão da cripta deverá ser a próxima obra a cargo da Irmandade.

«Contamos para o ano, se Deus nos ajudar e as autoridades locais também, concluir a cripta, que é um espaço que faz falta para as cerimónias com mais peregrinos, devido ao pequeno tamanho da igreja», disse.

Para avançar com a intervenção, parte do material existente será transferido para o salão recém-construído, libertando assim o espaço da cripa.

«Queremos pôr a cripta digna para receber quem nos visita e para celebrações durante todo o ano», afirmou, André Pinheiro, acrescentando que a intervenção vai implicar «muito investimento».

A peregrinação arciprestal inseriu-se nas festas em honra da Senhora do Carmo de Lemenhe, que terminaram ontem após a procissão. No final da Eucaristia, o capelão do santuário, o padre Vitor Sá, agradeceu o «esforço» de todos os quantos ajudaram e colaboraram nesta «tradição tão antiga e enraizada», desde a Irmandade, Comissão de Festas, Escuteiros, Paróquias participantes, acólitos, grupo coral, entre outros agentes de pastoral.

Agradeceu também a presença do padre Francisco Carreira, que presidiu à Eucaristia, e a quem a Paróquia ofereceu um terço jubilar e desejou boa  viagem e estadia em Roma nos próximos três anos.

«O padre Francisco irá rumar até à Cidade Eterna [para aprofundar os estudos teológicos], quando pegar no terço reze por nós e nós rezamos aqui por si», disse o padre Vitor Sá.

A peregrinação ficou ainda marcada pela celebração das bodas de prata matrimoniais do casal juiz da festa.  

Mais uma vez, o percurso foi embelezado com um apreciável tapete colorido ininterrupto desde a igreja até ao santuário, elaborado durante a noite pelas mordomas da festa. Uma verdadeira obra de arte, elogiada por várias pessoas no recinto, dedicada ao Ano Santo – Jubileu 2025.