Arquidiocese de Braga -
22 junho 2017
"Apwia, ekhale ni nyu"*
CMAB
Pe. Jorge Vilaça, Equipa Missionária Salama! Cooperação Missionária Braga-Pemba
* “O Senhor esteja convosco”, em língua local de Ocua-Moçambique (macua).
1. Em Fevereiro último, o Bispo emérito de Jales (S. Paulo, Brasil), D. Demétrio Valentini, disse, durante a homilia no Santuário Nacional de Aparecida, que a Igreja do Brasil precisava de reflectir sobre a questão dos católicos que não têm acesso à Eucaristia. O Bispo, que presidia à Eucaristia da Associação Nacional dos Presbíteros do Brasil, sugeriu que para resolver esse problema se escolhessem leigos comprometidos na vida comunitária (“presbíteros de comunidade”) para assumir essa tarefa de presidir à Eucaristia. Lembrou ele: “Sem Eucaristia não existe comunidade cristã. Isso foi afirmado solenemente aqui nesta Basílica pelo Papa Bento XVI, na abertura da 5ª Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe. Sem Eucaristia não existe comunidade cristã. Falta agora então conferir que consequências práticas tiramos dessa verdade tão importante afirmada pelo Papa. E aí entra em cheio de novo a questão presbiteral”.
2. A paróquia que sirvo neste momento tem cerca de 100km de extensão. Neste território nasceram, desde 1967, 94 comunidades cristãs (na Diocese de Braga, chamar-se-iam 94 Paróquias). A grande maioria dos cristãos destas Comunidades já não se recorda de celebrar a Eucaristia, ainda que dominicalmente celebrem a Palavra. É ainda pior o acesso ao sacramento da Penitência. A maior parte dos cristãos no dia de receberem o Baptismo “vão” à primeira e última missa. Com esforços criativos, conseguem ainda assim enviar (de tempos a tempos) à sede da Paróquia um Ministro Extraordinário da Eucaristia que faz dezenas de quilómetros (a pé ou de bicicleta) para vir buscar hóstias consagradas. Hoje mesmo, Domingo, tinha sobre o altar 13 “vasos” para enviar ao mesmo número de Comunidades...
3. Que haja governantes que se esquecem dos seus pobres por egoísmo, cegueira, incúria, burocracia ou por ignorância... ou por todas essas razões ao mesmo tempo, até consigo aceitar na lógica da malvadez humana. Recuso-me a aceitar, contudo, que a mesma lógica seja justificativa da inércia diante da situação eclesial atrás descrita. A não ser que se troquem os fundamentos (“sem Eucaristia não existe Comunidade”), estas Comunidades estão a ser prejudicadas, por mim e pelos outros aprendizes de discípulos de Jesus, pela ausência de Eucaristia.
4. “O Senhor esteja convosco”, assim saúdo as Comunidades que sirvo quando lhes dirijo uma carta. E está. O Senhor está, independentemente de tudo o resto. Mas, confesso: sinto-me frequentemente alguém que está a recomendar uma dieta equilibrada a pessoas que passam fome...
Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 22 de junho de 2017.
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