Arquidiocese de Braga -

6 setembro 2018

"A ideia é fazer a esperança crescer"

Fotografia João Pedro Quesado

DACS

A um mês do início de mais um ano pastoral e do ano missionário extraordinário, o Igreja Viva esteve à conversa com Sara Poças, coordenadora do Centro Missionário, o padre Paulino Carvalho, sacerdote enviado a Pemba e com o casal que parte em outubro para

João Pedro Quesado | Texto e Fotos

Chegar a Setembro significa para muitos o fim das férias. Para as comunidades católicas, significa que um novo ano, com novos propósitos, mas o mesmo espírito, se avizinha.

[Igreja Viva] O ano passado o tema era “Despertar Esperança”. Este ano passamos para “Ser Esperança”. Como é que isto está relacionado com o Ano Missionário?

[Sara Poças] Dentro do triénio da esperança, no ano passado houve esta questão do despertar, do encontrar, de proporcionar o encontro pessoal com Jesus Cristo, e que acaba por se manifestar também no encontro com os outros. E agora, no “Ser Esperança”, a ideia é o crescer, é fazer essa esperança crescer. E fazer crescer implica também este encontro com as comunidades, onde todos se sintam acolhidos.

[Igreja Viva] Um dos objectivos do programa pastoral deste ano é o de “criar comunidades onde todos se sintam acolhidos e motivados para a missão”. Como é que se consegue atingir esse objectivo?

[Pe. Paulino Carvalho] Havia uma expressão que foi alterada... Ela era “somos discípulos e missionários” e retirou-se, na linguagem, a parte copulativa. Não podemos ser discípulos sem ser missionários, não há uma separação. E todos nós sabemos, idealmente, como é que isso se faz, porque o baptizado, a partir do seu baptismo, deve ser missionário. E, como nós dizemos, para ser missionário não é necessário sair e ir para África, se não se começar em casa. Eu penso que, de uma forma realista, o que é necessário fazer é ver o que é que cada paróquia, cada movimento já faz e fazer, com um olhar a partir do Evangelho, uma espécie de exame de consciência: o que está bem, o que se pode melhorar, o que se pode fazer quanto ao que não está tão bem. E depois é preciso abrir-se a esta dimensão missionária que os documentos ajudam a focar – e por ter sido proposto o Ano Missionário Extraordinário pela Conferência Episcopal –, em coisas muito simples que estão na carta da Conferência Episcopal, no nosso programa pastoral, no folheto que a Arquidiocese fez para ajudar a perceber o que é isto do Ano Missionário Extraordinário, escolher uma ou outra iniciativa que permitam concretizar este anseio missionário. Quando digo uma ou outra, digo com uma atitude muito realista, porque às vezes queremos fazer muitas coisas e não conseguimos, e então devemos tentar seguir a regra dos três ‘pês’: pouco, pequeno e possível. É um pouco por aí e, nesse sentido, coisas muito simples que se foram perdendo na paróquia, como uma visita aos doentes, implicar os jovens nessas dinâmicas – que às vezes nos surpreendem a nós próprios, párocos e paróquias, porque a sua irreverência, a sua juventude, a sua inexperiência misturada com os mais velhos, com ideias diferentes, podem ajudar – e a missão começa por aí. E essa missão, que já existe – não estamos a partir do zero –, vai despertar também outras possibilidades, inclusive abraçarmos cada vez mais o Projecto Salama, que faz parte da Arquidiocese e é coordenado pelo CMAB e é algo que eu acho motivador, uma arquidiocese proporcionar aos seus diocesanos – padres, religiosos e leigos – a possibilidade de fazer experiência missionária ad gentes. A copulativa que tiramos do “discípulos e missionários” para assumirmos a capacidade de sermos discípulos missionários propõe-se depois também na missão, que não tem que ser missão ad gentes ou missão ad intra, mas é missão. Mas naturalmente que uma, se calhar, pressupõe outra e, havendo um trabalho missionário cá, é possível depois olhar mais longe e mais largo.

[Igreja Viva] Nomeadamente para este projecto, o Salama, têm tido dificuldade em encontrar voluntários?

[Sara Poças] Sim. Temos tido dificuldade em encontrar... Esta questão dos voluntários é uma questão sintomática. E não somos os únicos, outros grupos de voluntariado missionário de longa duração têm tido igualmente dificuldade em arranjar voluntários. As pessoas ficam muito receosas, se não têm uma convicção de que realmente vai ser bom para a vida delas e não confiam que depois o futuro será melhor... Essa experiência de voluntariado missionário não só nos enriquece a nível pessoal e espiritual, mas a nível profissional também acaba por ser uma mais-valia. Nós não temos voluntários às dezenas e já percebemos que, por uma questão de conjuntura, nunca iremos ter. Temos vindo a perceber e cada vez mais a confirmar que é um chamamento muito pessoa a pessoa, muito de experiência, de contacto pessoal. Não é fácil as pessoas disponibilizarem um ano da sua vida para um projecto deste género, com o que isso implica do que a pessoa está privada. O que se ganha, poderei ser suspeita a falar, mas acho que supera as dificuldades.

[Pe. Paulino Carvalho] O que eu admiro nos leigos e que faço paralelo com outro tipo de missão ou voluntariado, é que efectivamente isto nunca é para grandes multidões. O voluntariado é um grande desafio porque implica compromisso, implica disponibilidade. E quanto maior, mais difícil. Também acho que tem que ver com a personalidade e feitio de cada um e com esta capacidade de não contabilizarmos tanto a vida. É mais fácil eu falar do que um leigo, porque eu, à partida, chegando, tenho trabalho. Eles não sabem. Mas também não se pode hipotecar o que acontece amanhã sem viver o hoje. Nós estamos de tal forma açambarcados por uma sociedade de consumismo que dizemos que eles lá são pobrezinhos mas efectivamente são mais felizes do que nós nem têm grandes ambições de terem alguma coisa. Nós aqui temos tudo e andamos desesperados para ter mais e no meio disto tudo vamos perdendo o hoje. O projecto é bom porque nós temos tudo garantido lá, só temos é que nos entregar. Não temos que nos preocupar com o dinheiro lá. Só em entregarmo-nos. É preciso ter este espírito um pouco aventureiro, um pouco maluco e não ter medo de arriscar. Somos heróis? Eu acho que não. É tão herói alguém que fica como alguém que se dispõe a ir.

[Igreja Viva] O programa explica a necessidade de “programar actividades para fora das comunidades”, para conseguir chegar aos vários contextos sociais. Que actividades podem ajudar as paróquias a chegar a mais pessoas?

[Sara Poças] No folheto damos algumas sugestões de formas de concretizar, de sermos uma missão neste Ano Missionário, concretizando algumas tarefas como organizar as semanas missionárias paroquiais nas comunidades, visitar os doentes, criar grupos de infância missionária, organizar peregrinações, organizar grupos de acção sócio-caritativa – mas sempre nesta relação, nesta experiência de proximidade, de chegar às pessoas. Esta questão também é abordada no plano pastoral, de trabalhar em conjunto com outras paróquias, nomeadamente nas comunidades interparoquiais e nos colégios de paróquias e promover esse trabalho. Depois, obviamente que, como Centro Missionário, nós temos esta questão de acompanhar o Centro Missionário, as actividades que se vão fazendo e, nomeadamente, o Projecto Salama, acho que é uma forma de sermos comunidade e uma comunidade que não é fechada em si própria, mas que é global e isso é que é sermos uma missão. É sermos uma comunidade global, aberta. No centro missionário, trabalhamos muito as questões da educação para a cidadania global, esta noção de vivermos num mundo global em que trabalhamos não só a pensar em nós mas abertos ao mundo. Acho que o Salama nos pode ensinar um pouco isso, como é que se vive em comunidade, nomeadamente na nossa paróquia de Santa Cecília de Ocua e o que é que podemos aprender com isso.

[Igreja Viva] Há algum ponto de destaque no programa pastoral?

[Sara Poças] Um aspecto que nós entendemos como um ponto alto e que o poderá ser também a nível da Arquidiocese é o II Fórum Missionário, que nós vamos realizar em Maio e que também pretendemos que faça um pouco uma síntese daquilo que se pode fazer como missão na Arquidiocese. Porque é que há um Ano Missionário? Porque faz 100 anos de um documento importante sobre a Missão, que é o Maximum Illud, e o Papa Francisco declarou o mês de Outubro de 2019 como Mês Missionário Extraordinário. Na sequência desse Mês Missionário Extraordinário, a Conferência Episcopal decretou um Ano Missionário para preparação, no fundo, desse Outubro Missionário. Já tínhamos pensado no Fórum Missionário antes de ser anunciado o Ano Missionário como preparação desse Mês Missionário. E no fundo o que ele nos pode dizer é como nós podemos ser uma missão nas comunidades onde estamos, ligando ao plano pastoral.

Entrevista publicada no Suplemento Igreja Viva de 06 de setembro de 2018.


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Igreja Viva 6 de Setembro_net.pdf