Arquidiocese de Braga -
12 outubro 2018
A Missão do Cristão Professor
CMAB
Sérgio Cabral, Professor de EMRC no Colégio de São Gonçalo (Amarante)
Cristão professor. Dito assim soa estranho, uma vez que todos estamos habituados a usar a palavra “cristão”, na maior parte das vezes, como adjetivo e não como substantivo. Na verdade, se somos cristãos essa é a primeira identidade sobre a qual assentam todas as outras “identidades”. Não se incorpora dentro de uma identidade profissional, mas faz parte da nossa identidade pessoal, fazendo-nos ser de uma determinada forma em todos os domínios da nossa vida.
Ser Cristão é ser de Cristo, e ninguém pode ser de Cristo por metade, de vez em quando ou apenas durante uma hora ao domingo de manhã. Ser de Cristo é deixarmo-nos tomar inteiramente por Ele, ser transparência d’Ele em todos os contextos onde nos movemos e em todos os segundos que o tempo nos dá. É ser transparência d’Ele também na escola, junto dos alunos ou dos outros professores, dos funcionários ou dos encarregados de educação. É ser transparência d’Ele junto de cada coração humano à nossa volta.
O Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, dirigida especialmente aos jovens, recupera uma afirmação contida na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium para nos fazer refletir: “Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo”. Concretamente, o cristão professor é ele próprio uma missão, para além de ter a missão de ajudar a conduzir o aluno nos vários oceanos do saber humano. Porque é cristão é missão.
Num ambiente escolar, a missão acontece no “contágio” do amor, que implica tantas vezes um derrubamento de muros ou de tensões entre pessoas, um combate a rotinas vazias de humanidade, do cumprir pelo cumprir, à sobrevalorização da burocracia em detrimento da pedagogia, etc. Somos missão quando construímos pontes, damos um sentido verdadeiramente humano às nossas relações humanas e nos disponibilizamos para ajudar, nomeadamente, os nossos alunos a serem boas pessoas e a adquirirem aprendizagens que os preparem efectivamente para o mundo de hoje. Somos missão quando entramos de “coração aberto, dilatado pelo amor”, na periferia da indiferença à fé e ao evangelho onde vivem tantos alunos, professores, funcionários e encarregados de educação. Como é tão difícil este trabalho, mas tão necessário!
Na procura de um sentido mais objetivo e concreto da missão do cristão professor, parece-me importante dar enfoque a três linhas de acção apresentadas pelo Papa Francisco no início deste ano civil, num encontro com a Associação Italiana de Professores Católicos: em primeiro lugar, “estimular nos alunos a abertura ao outro com um rosto, como pessoa, como irmão e irmã para conhecer e respeitar, com a sua história, os seus méritos e defeitos, as suas riquezas e limites”; em segundo lugar, “encorajar uma nova ‘cumplicidade’ entre professores e pais”, para um maior entendimento das dificuldades que uns e outros enfrentam hoje na educação; em terceiro lugar, “educar para um estilo de vida baseado na atitude do cuidado para com a nossa casa comum que é a criação”.
O Papa Francisco não nos pede um testemunho explícito, mas implícito. Não é necessário andar de bíblia na mão, mas levá-la sempre no coração. Sem moralismos, nem proselitismo, o evangelho é fermento que cresce no silêncio dos dias, em encontros feitos de bondade, honestidade, humildade, respeito e amor.
Artigo publicado no Jornal Diário do Minho de 12 de outubro de 2018.
Partilhar