Arquidiocese de Braga -

30 outubro 2020

Outubro em Missão... MÚSICA E ESPIRITUALIDADE

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Claudine Pinheiro

Claudine Pinheiro, cantora

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Um testemunho... Canta e Caminha


Não nasci numa família musical. Lá em casa ninguém cantava. Ninguém tocava um instrumento. Mas da minha infância guardo memórias associadas a canções. Canções que contavam (e cantavam) histórias. Talvez por isso ainda hoje preste tanta atenção às letras das músicas. Seja ela em que língua for, se escuto uma melodia de que gosto, procuro de imediato descobrir do que fala a canção.

A primeira música que cantei em público começava assim: “Um dia, uma criança me parou…” Era uma história em forma de canção que dizia “o que é preciso para ser feliz”. Aquele gosto por canções que falavam de vidas e pessoas encontrava agora eco no campo da Fé.

Para mim, as histórias mais bonitas estão, sem dúvida, na Bíblia e a melhor forma que eu encontrei para as escutar foi através da música. Fui percebendo que muitos textos da Palavra ganhavam um novo entendimento se escutados sob a forma de canção, da mesma forma que canções bíblicas me entusiasmavam a partir à leitura da passagem em que se baseavam e a narrativa em que se inseriam. Também por isso procuro que as músicas de oração que canto tenham a letra o mais próximo possível do texto original. Para que a Palavra se mantenha viva e continue a despertar o entusiasmo na sua descoberta.

A música de oração alimenta-me a esperança e dissipa-me os medos. Uma experiência semelhante ao relato do capítulo 16 dos Atos dos Apóstolos. Paulo e Silas, os primeiros missionários, presos em Filipos, “entoavam louvores a Deus e os presos escutavam-nos” (Act 16, 25). E a resposta a este cântico de louvor foi “um violento tremor de terra que abalou os alicerces da prisão”. (..) “Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam.” Note-se que não nos é dito que fugiram, ou que saíram da prisão, mas antes que ficaram livres.

A música determina o nosso estado de espírito e, também, a nossa espiritualidade. Taizé seria a mesma experiência se não tivesse aquele cancioneiro? Uma Jornada Mundial da Juventude seria a mesma se não tivesse um hino a congregar todas as vozes? Quantas vezes não desanimamos quando participamos em celebrações onde se canta com pouca energia e convicção? Quantas vezes não nos lamentamos por não haver quem saiba cantar num encontro comunitário?

Não conheço nenhum missionário que não tenha regressado a casa sem trazer na memória e no coração novos cantos de aclamação e adoração e não os quisesse de imediato partilhar na sua comunidade.

O canto impulsiona a caminhada na fé. E é impossível não terminar citando Santo Agostinho que, a este propósito, diz: “Cantemos agora, meus irmãos, não para gozar o repouso, mas para aliviar a fadiga. Assim como cantam os caminhantes, canta, mas caminha. (…) Que quer dizer: «Caminha»? Avança, progride no bem. (…) Tu, se progrides, caminhas. Mas progride no bem, progride na verdadeira fé, progride na vida santa. Canta e caminha.”

 

Um livro... Jangada de pedra (José Saramago)

 

Um filme... Incendies – a mulher que canta (Denis Villeneuve)

 

Uma música... I was here (Beyoncé)

 

Um olhar… Caravaggio "A vocação de S. Mateus"


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