Arquidiocese de Braga -

17 dezembro 2020

Leitura Missionária da Carta Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco – 2.ª parte

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CMAB

Frei José Dias de Lima OFM, membro do CMAB e ANIMAG

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Ao fazer uma explanação da missão que privilegia o encontro e as pontes, apresentando a Parábola do Bom Samaritano, como modelo desse gesto de ser missão, o Santo Padre coloca, sem rodeios, direta e determinante, como ele mesmo afirma, uma pergunta a cada um de nós, depois de nos convidar a olhar os intervenientes da Parábola: «Com quem te identificas? A qual te assemelhas?». Esta pergunta é determinante para revelar, até que ponto nos sentimos missionários ou não. Para o Santo Padre só há mesmo uma via de saída diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, que é ser o bom samaritano, diz o Papa.

Ora, podemos afirmar, a partir da reflexão do Papa Francisco, que só existem dois tipos de pessoas, aquelas que cuidam do sofrimento, ou seja aqueles que se tornam missionários pela ação, e aqueles que passam ao lado, ou seja aqueles que se fecham à missão do amor, que é o maior desafio que nos é lançado nos Santos Evangelhos. E a hora da verdade, a hora da missão, é agora, não espera pelo amanhã, é no aqui imediato da nossa existência, abaixar-se e debruçar-se, dois verbos que implicam movimento em direção ao outro, ao vizinho, ao irmão, para cuidar das suas feridas e levá-lo às costas, numa determinação missionária de anunciar o evangelho através da dinâmica do amor e da opção pelos pobres.  

Mais ainda, à semelhança do bom samaritano, aquele que se propõe caminhar nessa senda missionária, não espera a gratidão, o reconhecimento de quem quer que seja ou um simples obrigado, antes diz, como S. Francisco de Assis «comecemos irmãos, que até aqui nada fizemos». Ou seja, o missionário nunca está satisfeito com o caminho percorrido, continua sedento em fazer mais e mais porque, como diz o Papa, «a dedicação ao serviço será a grande satisfação diante do seu Deus e na própria vida e, consequentemente, um dever» e, por isso, este dever que não espera gratidão, impele à missão «de cuidar cada mulher, cada criança e cada idoso, com a mesma atitude solidária e solícita, a mesma atitude e proximidade do bom samaritano». Trata-se, afinal da capacidade de amar de todo o discípulo missionário, numa dimensão universal capaz de ultrapassar todos os preconceitos, todas as barreiras históricas ou culturais, todos os interesses mesquinhos, («era forasteiro e recolheste-me» Mt 25, 35), identificando-se com o outro sem se importar com o lugar onde nasceu, nem de onde vem, experimentando que os «outros» são a sua carne.

Tudo o que acima foi dito nos conduz à afirmação lógica de que todo o discípulo missionário deve descobrir a dimensão transcendente das palavras de Jesus, na hora de evangelizar pelo amor. E qual é essa missão transcendente? Reconhecer o próprio Cristo em cada irmão abandonado ou excluído, amando cada ser humano com um amor infinito e, desta forma, conferir-lhe uma dignidade infinita, como afirma o Papa. Mais ainda, uma missão transcendente que conduz o discípulo missionário à fonte suprema que é a vida íntima de Deus e nos leva, por sua vez, ao encontro da comunidade de três pessoas, (a Santíssima Trindade) origem e modelo perfeito de toda a vida em comum.

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 17 de dezembro de 2020.


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