Arquidiocese de Braga -
10 fevereiro 2022
Evangelização em jeito franciscano

CMAB
Frei José Dias de Lima OFM
À luz das realidades existentes e do chamamento da Igreja, todo aquele que se sinta inebriado pelo perfume da espiritualidade de S. Francisco de Assis, deve encarar cada acontecimento, num mundo em rápida transformação, com a consciência de que a missão de ver o mundo com os olhos do Poverello, significa criar uma relação de fraternidade com os homens e com as criaturas, na dimensão do respeito, da tolerância e do acolhimento. Desta forma, tal como os frades de S. Francisco, também os que vestem o seu "hábito espiritual" devem confirmar a sua base evangélica, enquanto cristãos, e a adesão ao carisma franciscano, enquanto seguidores da espiritualidade do "Pobrezinho de Assis".
Ora, neste sentido, importa tomar em nota de conta a globalização; a urbanização resultante dos movimentos migratórios das aldeias para as grandes cidades; as relações familiares ameaçadas por tensões e fraturas crescentes, por causa destas mudanças e da sociedade pluralista; o cuidado da criação; e, agora, desde o fim de 2019, o novo coronavirus (COVID-19), que causou uma terrível pandemia, tendo tirado a vida a mais de cinco milhões de pessoas em menos de dois anos, e em Portugal estamos a poucas dezenas de ultrapassar os vinte mil mortos.
Pois bem, todo aquele que quiser evangelizar ao jeito de S. Francisco de Assis, não pode ficar indiferente ao risco que corre toda a humanidade, sobretudo os mais pobres, ou seja, aqueles que não têm acesso mínimo a tratamentos hospitalares, a saneamento básico, a água potável, a luz e a condições dignas de habitação. Aliás, o Papa Francisco, que tem como regra e orientação pastoral para toda a Igreja, e mesmo para o mundo, os ensinamentos do Evangelho na ótica de S. Francisco de Assis, apela a que este momento de perigo pandémico que o mundo está vivendo, "sacuda as consciências adormecidas e produza uma conversão humana e ecológica que ponha fim à idolatria do dinheiro e coloque no centro a dignidade da vida", para que a nossa civilização tome consciência que tem necessidade de uma mudança, enferma que está de uma competição individualista, com seus frenéticos ritmos de produção e de consumo, os seus luxos excessivos e os desmesurados proveitos para poucos, no dizer do Papa Francisco.
É por aqui que passa a dimensão de uma nova evangelização, em jeito franciscano que todo o franciscanólogo, (de hábito ou sem ele, de profissão, ou sem ela, de votos ou sem votos, como frade ou freira de vida comunitária, ou como pai ou mãe de família, no recôndito do seu lar, nas ruas ou nas praças), deve desenvolver, onde quer que seja desafiado a intervir, pela palavra ou pela ação, contribuindo para tornar a sociedade mais humana, mais fraterna e mais solidária. E assim se torna também promotor da cultura do respeito, do perdão, da solidariedade, da justiça de Deus, da vida humana e da criação, valores que Francisco de Assis bebeu do Evangelho, e que soube viver na primeira pessoa. Isto implica que a cultura do encontro se torne efetiva, rezando juntos, celebrando juntos, refletindo juntos sobre a Palavra de Deus, que respostas esta Palavra Divina dá, na situação do mundo atual, que problemas nos são comuns, e a consequente procura de soluções partilhadas.
Ora, toda esta dinâmica de vida, que faz mover o Evangelho com aquele toque tão próprio da vivência com que O interpretou e viveu S. Francisco de Assis, exige de todo o que veste de franciscanismo a sua vida, uma atitude profética, o que significa assumir uma existência que seja testemunho do amor, da misericórdia e da bondade de Deus, enfrentando abertamente as forças que ameaçam a vida, as estruturas que expulsam os mais vulneráveis da sociedade e os projetos económicos que destroem e poluem o ambiente, não tendo medo de abraçar a justiça e a causa do Evangelho, mesmo na perseguição e na calúnia, sem receio de denunciar o egoísmo dos grandes da terra e dos fartos de pão, num compromisso vivencial que se propõe derrubar muros e construir pontes.
Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 10 de fevereiro de 2022.
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