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2 Nov 2021
A saudade passa pela acção
Homilia na comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
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  © Francisco de Assis | Sé Catedral

Hoje é dia de memória. Recordamos as pessoas conhecidas e desconhecidas. Fazemo-lo no âmbito familiar ou de amizade, mas também numa perspectiva eclesial. Nesta hora, de um modo especial, recordamos quantos serviram a Igreja Arquidiocesana a partir da nossa Catedral. Os cónegos e Arcebispos falecidos. Não foram servidores da Igreja só na manutenção e conservação deste local. Aqui eram celebrados e vividos os momentos que deveriam marcar todo o agir das diferentes comunidades.

Neste sentido, sugiro que rezemos por eles pedindo-lhes que junto de Deus Pai Omnipotente intercedam para que esta igreja catedral seja mesmo mãe de iniciativas a concretizar em todas as comunidades. Aqui temos a Catedral que não é apenas lugar de pregação. É púlpito a permitir que a palavra que dela sai chegue a todos os recantos da arquidiocese. A situação das paróquias é diferente. A mensagem deve ser unânime como corpo que expressa os mesmos sentimentos e preocupações. Que os nossos arcebispos, muitos deles santos, nos concedam o dom da unidade doutrinal, mas sobretudo programática. Deste modo experimentamos a comunhão dos santos sabendo que as iniciativas arquidiocesanas terão sempre uma rectaguarda que não admite interpretações subjectivas ou excepções segundo os gostos pessoais. Neste dia de união com os Arcebispo e Cónegos falecidos rezemos também por todos os sacerdotes que já partiram para que nos concedam os dons da unidade doutrinal e pastoral.

Evocar o que aqui foi acontecendo por intermédio dos nossos antepassados deveria exigir que hoje sintamos alegria e orgulho em continuar a mesma missão. Não foi fácil edificar a Arquidiocese de Braga. Hoje as situações são muito mais complexas. O mundo da indiferença faz com que as pessoas se alheiem, mas também temos outros que, aberta ou camufladamente, pretendem dificultar o nosso trabalho. Temos um programa pastoral que nos orienta para caminhar juntos. Esta é sempre a nossa atitude e vontade. Por nada deste modo queremos ser autorreferenciais. Nunca poderemos desistir deste percurso comum. Se as dificuldades surgirem, o nosso ânimo e sentido de amor nunca deve desaparecer. Caminharemos sempre respeitando uma história cultural que os antepassados erigiram. Isto é modo de sufragar os que por aqui andaram e serviram.

Nesta caminhada conjunta teremos de ter a única preocupação da fidelidade. Fidelidade à história e a Deus. Não nos interessam os nossos meros gostos pessoais. Não somos nós próprios sem dar a Deus o primeiro lugar e tudo fazer a partir daqui. É Deus que nos move. Não temos outros interesses. Muitos querem viver sem Ele ou contra Ele. 

Nós teremos de nos apresentar como simples instrumentos que quotidianamente colocam os Seus interesses em primeiro lugar. Poderemos afastar-nos do justo caminho. Por isso a nossa caminhada é feita de avanços e recuos, de fidelidades ou incoerências. Se rezamos para que Deus perdoe os pecados aos nossos antepassados, sabemos que teremos de confiar na misericórdia divina. Quanta conversão terá de acontecer nas nossas vidas! Nos pensamentos, nas palavras, nas acções. Rectificar caminhos é humano. Muitas vezes poderemos andar pelo mundo da incoerência.

Nesta perspectiva, e consciente de que os nossos antepassados já se encontram junto de Deus, teremos de estar atentos ao que o Santo Padre fala sobre a corrupção espiritual, na Exortação Apostólica Alegrai-vos e exultai, sobre o chamamento à santidade no mundo actual. O Santo Padre pede que estejamos sempre atentos com “as lâmpadas acesas”, permanecendo sempre vigilantes e “afastando-nos de toda a espécie de mal”. Recorda-nos que, mesmo não cometendo faltas graves contra a Lei de Deus, podemos deixar-nos cair numa espécie de entorpecimento ou sonolência não advertindo a tibieza que lentamente vai entrando nos hábitos e apoderando-se da vida espiritual. Diz o Santo Padre que este entorpecimento espiritual é pior que a queda de um pecador pois trata-se de uma cegueira cómoda e autossuficiente em que tudo acaba por ser lícito. O engano, a calúnia, o egoísmo e muitas outras formas subtis de autorreferencialidade.

Este entorpecimento espiritual está a transformar-se no principal inimigo da Igreja. Nascemos para ser santos, para uma vida original e diferente do mundo e vamo-nos acomodando muitas vezes sem nos apercebermos. Esta eucaristia de sufrágio pelos outros deve ter a intenção de um sério desejo de sermos os que ontologicamente o baptismo constituiu. Filhos de Deus muito amados e a esperar amor em contrapartida. Estou convencido de que o principal inimigo da Igreja está dentro dela. E não nas faltas graves que também as poderá ter, mas sobretudo neste espírito de tibieza e de se contentar com os mínimos.

Entramos num período especial para a Igreja. O itinerário sinodal não vai pretender somente alterações estruturais ou mudanças administrativas. Fundamental é que cada um – e depois em grupo – se coloque à escuta do que o Espírito Santo quer dizer à Igreja. Acredito, seriamente, que tudo vai começar pelo interior, caso contrário provocar-se-ão divisões. Só a comunhão em Cristo no que Ele é e no que anuncia hoje ao mundo nos sugerirá o verdadeiro rosto da Igreja.

Recordemos todos os Arcebispos e Bispos da Arquidiocese, assim como os capitulares que juntos deram vida a esta Igreja-mãe. Façamo-lo com a oração mas sobretudo com a vida. Por causa deles sonhemos juntos, mas de verdade, uma Arquidiocese renovada que parte de uma autêntica experiência de comunhão entre todos para exercitar uma missão sinodal em favor de todos, particularmente daqueles e daquelas que estão marcadas por feridas a exigir cuidados específicos. Olhemos para a sociedade, para as comunidades cristãs, para a Casa Comum, para as relações familiares e para os jovens. Não precisamos de perder muito tempo em diagnósticos. As feridas são evidentes. Curando-as estamos a cuidar dos nossos antepassados.

 

 † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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