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ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

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22 Dez 2021
É hora de rever
Discurso no encontro de Natal do clero.
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Não necessitamos de ser profundos analistas políticos ou religiosos para reconhecer a complexidade dos tempos hodiernos. Pairam, sobretudo, interrogações num ambiente de confusão que coloca a Humanidade à deriva. Sentimo-nos protegidos pela técnica nas suas mais variadas vertentes, mas o humanismo está ferido e caminha cambaleando por entre um relativismo que dá valor ao que interessa, agrada ou dá prazer. Tudo parece ter valor desde que não incomode muito e oferece momentos que parecem de felicidade.

A Igreja nasce num ambiente que aponta caminhos seguros e norteadores. Pode haver dúvidas mas os itinerários estão traçados. Sabemos que o Espírito tem adaptado a mensagem e a metodologia às exigências dos tempos e das culturas. A Igreja passou por muitas instâncias culturais e soube afirmar a perenidade das suas afirmações, em modos adaptados a novas linguagens e intuições, para inculcar o essencial de tudo quanto recebeu. 

Ninguém ignora que estamos numa mudança de época e que não bastam adaptações decorativas. Um mundo novo nasceu ou está a nascer e não podemos morrer de saudade por muitas coisas que passaram ou irão passar. Prosseguiremos o nosso caminho indo contra-corrente mas conscientes do que evidentemente permanecerá no futuro. Como nos recordou Isaías, teremos de ser capazes de rejeitar o mal e escolher o bem. Esta é a tarefa da Igreja na hora que corre. Num tudo lhe convém por muito que seja acolhido por multidões. Temos uma novidade a que não podemos renunciar.

Nesta quadra de Natal, e neste encontro com sacerdotes, quero deixar uma proposta. Teremos de reconhecer que estamos num tempo para rever. Rever é o caminho de preparação para o Natal e deverá continuar a ser neste tempo natalício. Não fugimos ao programa pastoral. Temos muitas orientações: sinodalidade, Samaritano, amor activo, gestos que mostram. Não podemos permitir que se transformem em palavras sem conteúdos. Precisamos de rever.

Para que tudo resulte, teremos de começar pelo interior. Ousar fazer silêncio, entrar na interioridade e reconhecer o que verdadeiramente está a mover a nossa vida e o nosso sacerdócio. Somos instrumentos dóceis nas mãos de Deus, procurando discernir o Espírito, ou somos canas agitadas pelo vento conforme as circunstâncias? Somos pessoas instaladas nos costumes e tradições ou deixamos que o Espírito desmonte critérios e opções?

A Igreja na sua sabedoria foi sempre sugerindo a responsabilidade pessoal de rever a vida a partir de dentro. Não estaremos hoje a cair no facilitismo do imitar a mentalidade mundana mesmo não nos apercebendo?

Teremos de dar um passo para ter tempo para rever a pastoral. Ninguém nos substitui nesta tarefa. A pandemia e outros obstáculos que foram surgindo podem estar a auto-justificar um desencanto e desmotivação. Rever pode não significar renovar. É aqui que a imaginação criativa entra. Sei que cada sector pastoral exige ser revisto.

Importa ter tempo para rever a vida pessoal e a vida paroquial. Tudo parte de cada um. Só que agora temos o desafio de o fazer juntos. A sinodalidade não pode ser discurso mas deve entrar na vida pessoal e comunitária. Precisamos, por isso, de rever a vida pessoal com os outros sacerdotes. Daqui a importância dos encontros começando pela direcção espiritual a sério e terminando nos grupos da vida. A pastoral necessita de se revestir sinodalmente nas palestras e nos conselhos Pastorais (Económicos e Pastorais). Trata-se de um exercício. Talvez ainda não tenhamos saboreado o valor desta experiência. Hoje ou avançamos juntos ou vamos morrendo. Só o Espírito nos conduz e é com Ele que teremos de rever a vida. Não vamos pela moda nem pelo bonito. Tudo vem de outro lado e de um lado que importa acolher.

Isaías fala em rejeitar e escolher. Não poderão ser estas duas palavras o caminho interior a percorrer neste tempo? Rejeitar, palavra difícil. Acolher é atitude que gera um humanismo para os dias de hoje.

Caríssimo sacerdote, deixo a minha mensagem para todos os sacerdotes e comunidades. Que este Natal, o último para mim como Arcebispo, seja tempo para rever. Trabalhemos esta realidade.

Permiti que deixe um obrigado sincero com a promessa de que quero continuar a caminhar junto convosco. Aceitai-me no vosso meio. Poderei ter alguma coisa a sugerir. Terei imensas coisas a receber. 

Que Santa Maria de Braga me conceda o dom de ser como ela: desaparecer para estar presente quando necessário, no desespero de Canã, nas dificuldades de Isabel e na cruz de Cristo no Calvário.

 

 † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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