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Braga, Espaço Vita, 16.nov.2022, 10h00| 22 Nov 2022
Erguendo os olhos e vendo
Discurso na abertura do Congresso Internacional sobre os Seminários Católicos
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  © Avelino Lima

Erguendo os olhos e vendo

«Não dizeis vós: “mais quatro meses e chega a ceifa”? Eis o que vos digo: levantai os vossos olhos e observai os campos; já estão dourados para a ceifa. Quem ceifa recebe a recompensa e recolhe fruto para a vida eterna, para que se alegrem juntamente o que semeia e o que ceifa. Nisto, de facto, é verdadeiro o dito: “um é o que semeia, e outro o que ceifa”. Eu enviei-vos, a ceifar aquilo pelo qual não vos afadigastes; outros se afadigaram, e vós entrastes na sua fadiga» (Jo 3, 35-38).

«E, levantando os olhos ao céu para Vós, Deus Pai todo-poderoso» (OE I).

 

1. Seminário, coração da Diocese

Seminário é o nome dado ao tempo e ao espaço de formação dos Presbíteros. No primeiro milénio da história da Igreja, a formação não estava institucionalizada, incumbindo a cada Bispo a formação dos seus Presbíteros, embora existissem escolas episcopais e paroquiais de formação do clero. No segundo milénio e com o aparecimento das Universidades e com outros colégios ligados às ordens religiosas a formação sacerdotal foi melhorando, faltando, contudo, uma programação orgânica acerca do percurso integral desta formação.

A origem do Seminário, com a configuração hodierna, remonta ao Concílio de Trento (1545-1563), que prescreveu a necessidade de os ministros católicos receberem uma formação humana, espiritual, intelectual e pastoral sólida.

Em Portugal, o primeiro a executar a determinação tridentina foi o Arcebispo Santo de Braga, Bartolomeu dos Mártires. Ao regressar do Concílio, em 1564, lançou-se à obra, mas só em 1572 foi inaugurado o Seminário Conciliar em Braga. Seguiram-se os Seminários de Lisboa, Évora, Viseu, Portalegre, Funchal, Miranda do Douro, Leiria, Coimbra, Elvas, Algarve, Lamego e Porto.

Pela sua particular identidade, o Seminário é justamente apelidado de coração da Diocese. Como tal, está no centro da sua oração, da sua solicitude e da sua solidariedade, até económica. De certo modo, podemos também dizer que deste coração da Igreja Local se formam os pastores segundo o coração de Deus. O Concílio Vaticano II (1962-1965), ao falar da formação sacerdotal, dirigiu-se diretamente aos sacerdotes nestes termos: «todos os sacerdotes considerem o Seminário como coração da diocese e prestem-lhe de boa vontade a própria ajuda» (Optatam Totius 5) e determinou que cada Conferência Episcopal estabelecesse as normas fundamentais para a formação sacerdotal.

 

2. Seminário, um tempo e um espaço

Além de ser o coração da Diocese, «o Seminário apresenta-se como um tempo e um espaço, mas configura-se sobretudo como uma comunidade educativa em caminhada: é a comunidade promovida pelo Bispo para oferecer, a quem é chamado pelo Senhor a servir como os Apóstolos, a possibilidade de reviver a experiência formativa que o Senhor reservou aos Doze» (Pastores Dabo Vobis 60).

Na verdade, o Seminário representa para a Igreja Local um dos bens mais preciosos, porque a renovação do presbitério é determinante para a vida de uma Diocese. Todavia, a cultura dominante e globalizada tende a desfigurar o presbítero da sua essencial dimensão mistérico-sacramental, que faz cair nos perigos do ativismo, do funcionalismo, do clericalismo e da planificação mais empresarial do que pastoral.

Etimologicamente, a palavra Seminário significa, viveiro e sementeira, ou seja, um tempo e um espaço de alfobre e semeadura de vocações para o sacerdócio ministerial. O Seminário é tempo de estudo, de discernimento e de formação integral na preparação para a vida sacerdotal.

 

3. Que Seminário para hoje?

A resposta a esta inquietação relaciona-se intimamente com uma outra questão. Que perfil de padre se quer formar para hoje? O Seminário continua a ser a escola do Evangelho da Vocação que forma os futuros Presbíteros, para seguirem o único Mestre que é caminho, verdade e vida.

A sociedade, a família, o Seminário estão a passar momentos de grandes mudanças, que exigem um repensamento e sentido de pertença e identidade. A Europa vive um tempo de ‘crise vocacional’. No entanto, numa situação de mudança é necessário tomar uma decisão para seguir com esperança.

O caminho da esperança tem de ser percorrido na vivência do próprio ministério quotidiano, fundamentado na Eucaristia, na Reconciliação, na Liturgia das Horas, na Lectio Divina, na adoração eucarística, no silêncio, no estudo, na escuta e acolhimento, na visita às famílias, especialmente às pessoas doentes, na formação permanente, na caridade pastoral, na fraterna comunhão, na oração, na cooperação com o bispo e por tantas outras formas que a Igreja recomenda e que cada presbítero poderá seguir no exercício feliz do ministério recebido como inestimável dom e mistério, conforme a feliz expressão de S. João Paulo II «do mistério ao ministério» (Pastores Dabo Vobis 74).

 

4. A proximidade da sacramentalidade

As 15 conclusões do congresso internacional sobre o Presbítero: “à escuta da Palavra”, realizado em Braga, de 12 a 15 de janeiro de 2010, comemorando os 450 anos da fundação do Colégio de S. Paulo, atual edifício do Seminário Conciliar, remataram com uma última consideração:

«a hora de mudança e de transformações rápidas na sociedade e na Igreja exige claramente novos modos de organização da vida eclesial e novos estilos diversificados de exercício do ministério presbiteral. Os caminhos a percorrer e as decisões a tomar hão-de ser procurados, em comunidade, na escuta atenta da Palavra que nos salva e do seu rumor nas plurais palavras humanas».

A sacramentalidade é o rasgo mais expressivo do ministério presbiteral. Com razão afirmou K.-H. Menke: «não é pelo facto de que alguém possa desempenhar determinadas funções ou, de facto, as realiza; não é porque alguém seja teologicamente competente e retoricamente dotado, que é dirigente da comunidade, mas porque, através da imposição das mãos do bispo, lhe foi dada essa função. Cristo é a cabeça da Igreja, e isso deve tornar-se visível estruturalmente».

Será que é a sacramentalidade a atitude fundamental que determina a ação da Igreja? A nossa ação pastoral não estará sujeita ao mote de Marc Twain: «quando os caminhantes, por fim, perderam a orientação, duplicaram a velocidade da marcha?»

Todas as crises que hoje experimentamos aludem para o seguinte: «a Igreja voltará a ser minoria, numa sociedade orientada noutro sentido» (G. Greshake). Por outro lado, temos consciência que o «êxito não é nenhum dos nomes de Deus» (M. Buber).

A proximidade é consequência da sacramentalidade. Não se diga do Pároco, o que às vezes se ouve: «ele anda por todo o lado e não está em lado nenhum».

 

5. Vê a que madrugas

O tempo é problemático e complexo. «Desperta, abre os olhos e vê a que madrugas» (Padre António Vieira). É feliz e desafiadora a frase de D. Hélder da Câmara: «quanto mais negra é a noite mais carrega em si a madrugada».

Uma formação integrada e integral é o chão da vida do Seminário na Igreja atual para fazer sinodalidade juntos com o Presbitério e o Povo santo de Deus. O processo sinodal em curso terá a capacidade para imaginar um futuro diferente para a Igreja?

Ser uma lâmpada ardente e luminosa é um grande propósito ao estilo do Arcebispo Santo, Bartolomeu dos Mártires, fundador do nosso Seminário conciliar.

Os seminários encontram-se numa encruzilhada! Requerem atenção apurada. Espelham a Igreja à procura de se compreender, com percetível fadiga institucional e falta de clareza. E, à medida que o êxodo de cristãos se acentua, de jovens e adultos em particular, diminui a plausibilidade de haver candidatos aos Seminários. Porém, o campo das problemáticas alastra-se aquém e além da demografia.

Se acreditamos que ainda é válida a figura de presbíteros totalmente dedicados à construção da comunidade eclesial – e há ainda motivos sérios para responder positivamente – então será possível, pelo menos ad experimentum, imaginar um ministério evangelicamente mais singelo e uma formação ao ministério diferente em relação ao seminário atual?

Os padres de hoje são aqueles a quem cabe gerir a fase pós-conciliar e pós-moderna. Não pode ser repensada a figura do presbítero? Não será que se não for repensada, também não serão repensados os seminários?

O Bispo D. Tonino Bello dizia com grande sabedoria: «Só quem sonha pode evangelizar». Mesmo uma Igreja ferida é capaz de sonhar....

† José Cordeiro, Arcebispo Primaz

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