Arquidiocese de Braga -
6 março 2023
PEDIR PERDÃO É NECESSÁRIO, MAS NÃO É SUFICIENTE …

Para este mês de março de 2023, no âmbito da “Rede Mundial de Oração”, o Papa Francisco afirmou: “Diante dos abusos, especialmente aqueles cometidos por membros da Igreja, não basta pedir perdão.
Pedir perdão é necessário, mas não é suficiente. Pedir perdão é bom para as vítimas, porque são elas que devem estar “no centro” de tudo.
A sua dor, os seus danos psicológicos podem começar a cicatrizar se encontrarem respostas; ações concretas para reparar os horrores que sofreram e evitar que se repitam …”.
Na sua carta de 2 de fevereiro de 2015, dirigida aos Presidentes das Conferências Episcopais, com veemência, o Santo Padre tinha advertido que “é necessário continuar a fazer tudo o que for possível para desenraizar da Igreja a chaga dos abusos sexuais contra menores e abrir um caminho de reconciliação e de cura a favor de quantos foram abusados”.
1.” Abrir caminhos de reconciliação e de cura a favor de quantos foram abusados”.
-É preciso pôr em prática, sem hesitação, o que consta nos números 9 a 31 do Vademecum, onde se insiste que o Bispo deve acolher, analisar, avaliar e aprofundar, com a devida atenção, todas as denúncias, independentemente da forma ou do canal utilizado. Deverá dar todo o apoio e proteção possíveis às vítimas e retirar as consequências necessárias, nomeadamente, segundo o n. 20: tomar medidas de tipo administrativo contra a pessoa denunciada, que poderão LEVAR A LIMITAÇÕES NO MINISTÉRIO.
- Para além da disponibilidade, por parte das Comissões Diocesanas, para acolher e acompanhar as vítimas, urge disponibilizar pessoas e programas para acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, bem como de acompanhamento espiritual e de reconciliação para as vítimas que o desejarem. Há que criar uma “bolsa de técnicos” e de acompanhadores espirituais.
- Aperfeiçoar a aprofundar a “Coordenação Nacional” e a cooperação entre Comissões Diocesanas. Poderá ser conveniente que uma denúncia seja apresentada e recebida noutra diocese.
- Aperfeiçoar os mecanismos que já existem e tentar a cooperação entre as Comissões Diocesanas e as CPCJ de cada concelho.
- Abrir um canal de comunicação com o Ministério Público ou Polícia Judiciária.
- A nível nacional encontrar formas de colaboração com a APAV.
2. “Abrir caminhos de reconciliação e de cura para agressores”. A Igreja poderá ou deverá ter de retirar o agressor identificado da atividade pastoral (Vademecum n. 58 a 65: trata-se de “MEDIDAS CAUTELARES” que PODEM INCLUIR O AFASTAMENTO OU PROIBIÇÃO DE EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO enquanto decorre a “investigação prévia”, ou após a sua conclusão. A medida cautelar não é uma pena, pois as penas só se impõem no final de um processo penal, mas um ato administrativo.
Tudo isto deve ser bem esclarecido ao interessado, para evitar que ele pense ter sido julgado ou punido antes do tempo).
Mas a Igreja não deve abandonar o presumível agressor, porque a “redenção é sempre possível”, embora só com a “admissão da culpa” por parte do alegado criminoso.
O alegado agressor não pode ser abandonado. O primado é o da justiça, como defendia Bento XVI e agora o Papa Francisco, mas nunca pondo de lado a oferta de redenção, de perdão, reconciliação e cura.
Como discípulos de Cristo, acreditamos que uma pessoa se pode abrir à graça do perdão e deixar-se transformar, ninguém está irremediavelmente perdido. Há sempre essa possibilidade, mas tem de passar pela capacidade de admitir a culpa e pelo difícil equilíbrio entre a justiça, verdade e a misericórdia.
Ainda não temos programas de acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico, de acompanhamento espiritual e de reconciliação nem para as vítimas nem para abusadores. Há que estudar as boas práticas de outros países e avançar também em Portugal com percursos de cura e reconciliação.
É preciso reforçar uma nova consciência sobre o poder de cada um para saber ouvir e ler os sinais de alerta, pois não é possível manter a impunidade nem o silêncio.
Que estes dias duros que vivemos, de via purgativa, de estrada penitencial, nos levem a caminhos novos em ordem a comunidades cristãs sãs e seguras, conscientes de que não pode continuar a haver vítimas, agressores e encobridores.
+Nuno Almeida, Bispo auxiliar de Braga
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